Banco da China: contam a favor do país um movimento de desaceleração no endividamento do setor privado e um setor bancário bem capitalizado (Liu Jin/AFP/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2014 às 06h54.
São Paulo - Os bancos chineses possuem "impressionantes" similaridades com o sistema bancário do Japão dos anos 1990, época que ficou conhecida como a década perdida, mas as instituições da China devem seguir um caminho diferente, embora com certa turbulência nos próximos anos, afirmou a Standard & Poor's.
Em relatório, a agência de classificação de risco lembrou que a China enfrenta uma acelerada expansão na dívida do setor público e na concessão de crédito, ao mesmo tempo em que os preços no setor imobiliário sobem marcadamente e a economia desacelera.
Para a S&P, apesar de esses fatores se assemelharem àqueles observados no Japão há duas décadas, uma prolongada crise é "improvável" para os bancos chineses.
"Os bancos chineses são financeiramente mais fortes que os japoneses quando eles foram atingidos pela crise e nós acreditamos que a economia chinesa possui um potencial de crescimento suficientemente robusto para os bancos superarem qualquer crise de crédito", afirmou a agência, em uma série de relatórios publicados hoje para comparar os dois países.
A S&P ponderou que a China possui algumas características importantes para absorver as perdas que o Japão não conseguiu durante a década perdida.
Entre essas diferenças contam a favor da China um movimento de desaceleração no endividamento do setor privado, um setor bancário bem capitalizado e com resultados sólidos, uma postura mais dura do governo central chinês e com elevada probabilidade de ajuda às instituições financeiras se necessário.
"A China parece ter aprendido com os problemas passados do Japão. O governo chinês e os reguladores estão conduzindo os bancos para longe do penhasco. Esses cuidados e medidas preventivas sugerem para nós que a década perdida não está próxima", afirmou a S&P.
Mesmo assim, não é possível descartar uma piora na qualidade dos empréstimos de bancos chineses durante os próximos dois a três anos, em um período de estresse financeiro e com fortes perdas de crédito, alertou a S&P.
A agência de classificação de risco explicou que a elevada exposição dos bancos chineses a empresas deficitárias, pressionadas pelo excesso de oferta durante a desaceleração no setor imobiliário, e o aperto na liquidez promovido pelo governo podem aumentar os custos de financiamento para os tomadores de empréstimos.
Ao mesmo tempo, o setor bancário paralelo também ressalta o desequilíbrio e os riscos de crédito na economia chinesa. O cenário base da S&P prevê perdas relacionadas a crédito nesse setor, que serão compartilhadas entre acionistas, financiadores individuais, investidores e entidades públicas.
"Embora a expansão do crédito além de empréstimos bancários ter ligeiramente desacelerado, não é certo que os reguladores conseguirão conter as atividades no setor bancário paralelo sem causarem consequências indesejadas no crescimento econômico e na estabilidade financeira", escreveu a agência de classificação de risco.
A S&P esclareceu que enquanto os reguladores estão preocupados com essas atividades, os formuladores de políticas não veem esse setor como inteiramente indesejável porque ele atende algumas necessidades de financiamento que o sistema bancário tradicional não auxilia.