Agência Standard & Poors (S&P): rebaixamento é um revés para a presidente Dilma, cujos esforços para gerar maior crescimento levaram a uma deterioração das finanças (AFP/Stan Honda)
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2014 às 20h20.
A agência de classificação de risco Standard & Poor's cortou a nota do Brasil para "BBB-" , ante "BBB", e mudou a perspectiva para o rating de negativa para estável, em um baque para o governo da presidente Dilma Rousseff, cujos esforços para gerar maior crescimento econômico levaram a uma deterioração das finanças do país.
Esta é a primeira vez desde 2002, ano da primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que uma das três principais agências de rating piora a classificação do país.
A classificação de "BBB-" ainda mantém o país com grau de investimento, mas é o último degrau para perder esse posto. O fato de ter mudado a perspectiva para estável indica que a S&P não deve fazer novos rebaixamentos no curto prazo.
A S&P argumentou que sinalizações mistas de políticas pelo governo, com implicações negativas para a credibilidade das contas fiscais e da política econômica, além de perspectiva fraca para o crescimento no próximos dois anos, continuam pesando sobre o desempenho do país.
O movimento já era esperado, mas a expectativa era que uma mudança viesse apenas depois das eleições de outubro, como havia indicado a própria a agência recentemente. Na última semana, no entanto, os executivos da S&P fizeram verdadeira peregrinação no país, mantendo encontros com importantes figuras da equipe econômica --como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
"O rebaixamento reflete a combinação de derrapagem orçamentária, a perspectiva de que a execução fiscal continuará fraca em meio a crescimento moderado nos próximos anos, uma capacidade restrita a ajustar a política antes das eleições presidenciais de outubro e algum enfraquecimento das contas externas do país", informou a S&P por meio de nota.
O Brasil deve fechar este ano com déficit em transações correntes de 80 bilhões de dólares, de acordo com previsão do Banco Central.
A fim de tentar resgatar a confiança dos agentes econômicos na política fiscal brasileira, em fevereiro o governo anunciou uma nova meta de superávit primário para este ano, de 99 bilhões de reais, ou 1,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), considerada mais "realista".
Os primeiros resultados fiscais do ano, no entanto, não foram animadores, com a economia feita para pagamento de juros ficando em 19,921 bilhões de reais em janeiro, quase 35 por cento a menos do que um ano antes.
Em 12 meses até janeiro, último dado disponível, o superávit estava em 1,67 por cento do PIB.
"O que eles estão dizendo é faça a lição de casa para não perder o outra nota e perder o grau de investimento. O alerta é esse. O governo acabou tomando medidas e decisões que colocaram em suspeita a condução da política fiscal", disse o economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, Jankiel Santos.
Como o rebaixamento já era esperado, apesar de ter ocorrido antes do que se imaginava, não deve trazer muita volatilidade aos mercados, na avaliação de economistas.
"É um equivoco. Do ponto de vista dos indicadores de solvência externa o Brasil já tinha um rating inferior ao de outros países comparáveis. O mercado estava dando um trégua para os países emergentes, e é difícil analisar as consequências dessa medida (para os ativos brasileiros)...Deveria ter implicações sobre custo de dívida para companhias públicas e privadas. Mas me interrogo se isso vai acontecer", afirmou o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros.
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