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Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2012 às 13h56.
São Paulo - Operadores estão aumentando apostas de que o Itaú Unibanco Holding SA vai fracassar na tentativa de comprar as ações em poder dos acionistas minoritários da Redecard SA, a segunda maior processadora de cartões do País.
Investidores tomaram emprestado 32 milhões de ações da Redecard ontem -- uma indicação de que estão vendendo a descoberto, ou short selling --, comparado a 6 milhões de ações em 27 de abril, quando a empresa revelou que a acionista Lazard Asset Management LLC pediu uma nova avaliação da oferta do Itaú pelos 50 por cento de participação que não detém na companhia. A venda a descoberto permite ao investidor lucrar com a queda da cotação, ao vender a ação e comprar de volta depois por um preço menor.
“Tem uma aposta de que a oferta não vai sair e que a ação caia”, disse Paulo Ribeiro, analista da HSBC Securities, em entrevista por telefone de São Paulo em 16 de maio.
O Itaú, maior banco da América Latina por valor de mercado, ofereceu R$ 11,8 bilhões, ou R$ 35 por ação, em 7 de fevereiro para assumir o controle total da Redecard e tirar as ações da bolsa menos de cinco anos após a abertura de capital. O NM Rothschild & Sons Ltda., o primeiro banco de investimento contratado para avaliar a oferta, disse que as ações poderiam valer no mínimo R$ 34,18. A Lazard, segunda maior acionista da Redecard, com uma fatia de 10 por cento, afirma que o Rothschild subestimou a Redecard. Os acionistas votam amanhã a proposta da gestora de ativos para buscar uma segunda avaliação.
A ação da Redecard caía 0,5 por cento para R$ 32,49 às 11:42 na bolsa paulista, cotação inferior à oferta do Itaú de 7 de fevereiro e também abaixo do pico deste ano, de R$ 36,40, atingido em 8 de fevereiro. A ação da empresa avançou 12 por cento no ano até ontem, comparado a um salto de 42 por cento para a concorrente maior Cielo SA.
Proposta da Lazard
As ações da Redecard tomadas em empréstimo representavam 4,8 por cento das ações em circulação em 16 de maio, comparado a menos de 1 por cento em 27 de abril, de acordo com dados compilados pela Bloomberg e pela Cia. Brasileira de Liquidação e Custódia, a CBLC. As ações em circulação incluem os papéis detidos pelo Itaú. No Brasil, os investidores tomam ações emprestadas para venda a descoberto, operações de hedge e propósitos tributários.
Se aprovada pelos acionistas minoritários amanhã, a proposta da Lazard obrigaria a Redecard a contratar o Credit Suisse AG para fazer uma nova avaliação do valor justo das ações.
Previsão conservadora
A Lazard afirmou em abril que a avaliação do Rothschild usou previsões “conservadoras” para vendas e custos, e que uma avaliação mais precisa levaria em conta o prêmio pago a acionistas de empresas adquiridas.
O Rothschild avaliou a ação entre R$ 34,18 e R$ 37,59, com base num cálculo de fluxo de caixa livre, a Redecard disse no dia 5 de abril. A instituição também disse que as ações da Redecard valem de R$ 36,13 a R$ 37,11 se aplicada uma metodologia baseada no preço da ação da Cielo.
“O short selling tem muito a ver com o que vai ser decidido nessa assembleia, se vai passar ou não uma revisão de preço,” Fausto Gouveia, que ajuda a administrar R$ 380 milhões na Legan Administração de Recursos, por telefone de São Paulo hoje. “Depois da reunião de amanhã, as coisas vão ficar um pouco mais claras se fica a precificação anterior, entre R$ 35 e R$ 36, ou se vai ter uma nova precificação.”
A assessoria de imprensa da Lazard não retornou e-mail e telefonema solicitando comentário para esta reportagem. A assessoria do Itaú não retornou um telefonema. A assessoria da Redecard se recusou a fazer comentários. O Rothschild não quis comentar.
‘Short squeeze’
O aumento nas vendas a descoberto pode ser por causa de um grande investidor tentando provocar um ”short squeeze” no papel, Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futuro Corretora em São Paulo, disse em uma entrevista por telefone hoje. O ”short squeeze” é uma operação que provoca a falta de um ativo no mercado e seu aumento de preço.
“Se acontecer a OPA, o papel deve chegar a R$ 35”, ele disse. “O mercado está tomando todos os empréstimos antes do evento acontecer”.
O Itaú comunicou em fato relevante em 30 de abril que não tem intenção de elevar a oferta, independentemente de ser realizada uma segunda avaliação. O banco, com sede em São Paulo, também disse que poderia desistir do plano de aquisição se a operação não puder ser concluída em prazo adequado.
“Se o Itaú não levar a Redecard, vai ter espaço para conversar sobre preços de serviços que o Itaú presta para a Redecard”, disse Ribeiro, que estima o valor das ações em R$ 39. “A tendência é de que o Itaú cobre por uma coisa que não cobrava, a tendência é que a ação caia. O mercado pode num primeiro momento castigar a ação.”
Novo Mercado
O Itaú também havia alertado que poderia retirar a Redecard do Novo Mercado se os acionistas não aceitassem a oferta de R$ 35.
Depois, o Itaú disse em 16 de abril que não trabalharia mais nesse sentido, após a Associação de Investidores no Mercado de Capitais, a Amec, ter dito que tal medida necessitaria do apoio de dois terços dos investidores.
Dois terços dos acionistas da Redecard também precisam aprovar a proposta do Itaú. Não foi definida a data para a votação.
A Redecard e seus acionistas levantaram R$ 4,07 bilhões na abertura de capital em julho de 2007. Na época, foi a maior oferta de ações em cinco anos no País. As ações saíram a R$ 27.