Hospital da Rede D'Or: Mater Dei busca trilhar na bolsa o mesmo caminho de sucesso da concorrente (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 13 de abril de 2021 às 06h08.
A Mater Dei, maior rede de hospitais de Minas Gerais, busca trilhar na bolsa o mesmo caminho de sucesso inaugurado pela Rede D’Or (RDOR3) no ano passado. No final de 2020, a concorrente realizou o terceiro maior IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) da história da B3, levantando 11,39 bilhões de reais.
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Os planos da Mater Dei são bem mais modestos – a captação pode movimentar em torno de 2 bilhões de reais. O objetivo, no entanto, é semelhante: se consolidar como um grande player no setor de hospitais privados por meio de aquisições.
Para isso, a Mater Dei pretende ofertar 80,6 milhões de ações a um preço estimado em 24 reais, ponto médio da faixa indicativa, que vai de 21,80 reais a 26,20 reais por papel. A oferta será 84% primária, ou seja, a maior parte dos recursos vai para o caixa da companhia.
Segundo o prospecto, 80% desse montante será destinado a processos de fusão e aquisição (M&A) e os outros 20% à expansão orgânica, ou seja, aumentar a participação de mercado sem englobar outros negócios já existentes.
Investidores não institucionais têm até esta terça-feira, 13, para participar da oferta. A precificação dos papéis acontece no dia seguinte, e as ações estreiam na B3 na sexta-feira, 16, sob o código MATD3.
Fundada em 1973, a rede Mater Dei é líder de mercado em Minas Gerais, com 18% do total de leitos privados da região metropolitana de Belo Horizonte. São três unidades na capital mineira e uma quarta em Salvador (BA), que ainda está em construção. Ao todo, ela conta, hoje, com 541 leitos em operação e 541 já construídos, mas ainda não operacionais.
Entenda o que os analistas pensam da oferta:
O setor de saúde está na mira dos investidores, com cinco operações na área apenas em abril. Além da Mater Dei, estão na lista o já realizado re-IPO da companhia de medicina diagnóstica Dasa (DASA3), e as ofertas da redes Hospital Care, da fornecedora de medicamentos Blau Farmacêutica e da CM Hospitalar (Viveo), distribuidora de produtos médicos e hospitalares.
Entre as redes hospitalares, a competição é acirrada e já conta com competidores de peso, como Rede D’Or, Dasa e a Hapvida (HAPV3). Esta última acabou de adquirir a Intermédica (GNDI3) na maior operação de fusão já realizada no mercado de capitais brasileiro.
Para a casa de análise Nord Research, a Mater Dei fica para trás na corrida pela consolidação dos hospitais privados. “O mercado de hospitais brasileiro já é um mercado de gigantes. Mater Dei, após seu IPO, deverá valer ‘apenas’ 10bi na bolsa”, afirma, em relatório, a analista Danielle Lopes.
A Rede D'Or vale 127 bilhões de reais, enquanto a Dasa é avaliada em 70 bilhões de reais. A combinação entre Hapvida e Intermédica vale 110 bilhões de reais.
A Levante Investimentos destaca ainda que a Mater Dei perde para a concorrência em Belo Horizonte, seu principal mercado de atuação. “Todos os outros players [que atuam na região] têm operação verticalizada e 60% das empresas operadoras de planos de saúde não são clientes da Mater Dei”, apontam em relatório.
A verticalização é um movimento em que as operadoras de saúde passam a ter uma rede própria de hospitais e de outras estruturas. Operações verticalizadas diminuem a necessidade de contratos com hospitais e podem ser um desafio para a Mater Dei.
Ainda dentro do universo das comparações, a Nord Research afirma que a Mater Dei é uma “mini Rede D’Or mineira”. O problema é que seus múltiplos – métricas de avaliação da empresa – não tem nada de “mini”.
“A ação da Mater Dei está sendo oferecida ao mercado com os mesmos múltiplos de Rede D'Or. Se, no mercado de hospitais, tamanho é documento, Rede D’Or sai na frente (é 10x maior)”, argumenta Lopes, da Nord.
O múltiplo que compara valor da empresa e Ebitda (EV/Ebitda) também foi apontado pela casa de análise Levante como um ponto negativo da oferta. Segundo o relatório, o EV/Ebitda da Mater Dei é de 25,1x considerando o meio da faixa de preço. É quase o mesmo preço do múltiplo de 26,4x para Rede D’or e de 23,7x para as empresas Hapvida e Intermédica combinadas.
“A empresa ainda é um player local, que atua na região metropolitana de Belo Horizonte. Sem uma forte presença nacional como a Rede D’or e Hapvida/Intermédica, seus múltiplos podem ser considerados elevados no preço pretendido na oferta”, avaliam os analistas.
A última preocupação dos analistas é com a capacidade da Mater Dei em realizar fusões e aquisições – operações que a companhia nunca fez. Vale lembrar que 80% dos recursos captados na oferta serão utilizados para este fim.
Os analistas Tiago Reis e Alberto Amparo, da Suno Research, destacam que a companhia não tem histórico nesse tipo de operação, o que dificulta a avaliação de sua competência na área. É possível, por exemplo, que a inexperiência leve a companhia a realizar uma aquisição muito cara, que destrói valor ao invés de agregar.
“Além disso, mesmo adquirindo novos negócios a um preço atrativo, há o risco de não conseguir integrar as novas aquisições às atuais operações da companhia, o que comprometeria os benefícios proporcionados pelas sinergias”, diz o relatório.
As três casas de análise elogiaram a experiência da diretoria e a governança corporativa da empresa, além de destacarem o bom momento para o setor de saúde. Ainda assim, todas recomendaram ficar de fora da operação. Os motivos principais foram a alta concorrência no setor, os múltiplos muito elevados e a falta de histórico em operações de M&A.
Os investidores que quiserem participar do IPO precisam avisar sua corretora sobre quantos papéis gostaria de comprar no IPO e por qual preço. O valor mínimo para participar é de 3.000 reais, e o máximo, de 1 milhão de reais. O período de reserva para participar da oferta termina hoje.