Câmbio: o real foi impulsionado pela decisão do Fed de manter seus estímulos monetários sem precedentes, porém continuou desvalorizando-se neste ano (REUTERS/Gregg Newton)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2013 às 14h35.
Nova York e São Paulo - Para o maior operador de moeda estrangeira do mundo, a recuperação de 11 por cento do real brasileiro depois de cair para o valor mais baixo em quatro anos e meio é apenas mais uma razão para vender uma das “maçãs podres” das moedas de mercados emergentes.
A Deutsche Bank AG afirma que um possível corte no rating de crédito e o maior déficit na conta corrente do Brasil em onze anos farão com que o real reverta os ganhos recentes. Os especuladores concordam, pois as apostas baixistas sobre a moeda dobraram em um mês na principal bolsa da América Latina, chegando ao recorde de US$ 20 bilhões nesta semana.
“É um bom momento para voltar a fazer a troca”, disse Daniel Brehon, analista de moedas do Deutsche Bank em Nova York, em entrevista por telefone em 2 de outubro. “O Brasil é o mais vulnerável na região”.
O real foi impulsionado pela surpreendente decisão do Federal Reserve de manter seus estímulos monetários sem precedentes, tomada em 18 de setembro, porém continuou desvalorizando-se, neste ano, frente a 13 das 16 moedas mais operadas seguidas pela Bloomberg.
Isso está frustrando os esforços da presidente Dilma Rousseff para frear a queda e reduzir as maiores expectativas de inflação em nove anos mediante um programa de intervenção monetária de US$ 60 bilhões.
Brecha na conta corrente
O real despencou 25 por cento desde que Dilma, ex-guerrilheira marxista de 65 anos, chegou à presidência em janeiro de 2011. Agora, diante da reeleição de outubro de 2014, seu desafio é persuadir os investidores mostrando que a Moody’s Investors Service estava errada quando cortou a perspectiva no rating da dívida soberana do País nesta semana.
O déficit na conta corrente do Brasil, a medição comercial mais ampla, ascendeu a 3,6 por cento do PIB em agosto, o maior valor desde 2002, segundo dados da Bloomberg. O déficit torna o País mais dependente do capital externo.
Corte de rating
A Moody’s cortou o rating Baa2 da dívida soberana do Brasil – dois níveis acima de junk – de “positivo” para “estável” em 2 de outubro, citando o deterioro no endividamento e a razão de investimento do País e a evidência de que a economia está passando por um período de crescimento lento.
A economia do Brasil expandiu-se menos que o previsto pelos analistas em cinco dos últimos seis trimestres. O Banco Central reduziu sua perspectiva de crescimento para 2013 de 2,7 para 2,5 por cento nesta semana. O dado se compara a 7,6 por cento em 2010. A Moody’s afirmou que consideraria cortar o rating creditício do país se este caísse um uma “armadilha de crescimento baixo” de menos de 3 por cento depois de 2014.
A inflação anualizada desacelerou para 5,93 por cento em meados de setembro, o valor mais baixo em nove meses, mas isso poderia resultar efêmero porque uma taxa de câmbio desvalorizada aumenta o custo das importações.
Sem sinais de reformas que melhorem a produtividade antes das eleições de 2014, o real se desvalorizará porque os crescentes custos locais destroem a competitividade da indústria brasileira, disse Marcela Meirelles, estrategista no TCW Group Inc., que supervisiona US$ 128 bilhões.
As que perdem com o real desvalorizado são as companhias. A Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA, a segunda maior linha aérea do País segundo o valor de mercado, investirá em combustível de avião mais do que nenhuma outra linha aérea do seu tamanho no continente americano à medida que o declínio do real eleva os custos do combustível importado, conforme dados compilados pela Bloomberg . Os custos da dívida da produtora de açúcar Grupo Virgolino de Oliveira SA aumentaram pelo mesmo motivo, segundo dados compilados pela Bloomberg.
As companhias que devem cobrir esses riscos aumentam a pressão sobre o real, afirmou Ítalo Lombardi, economista na Standard Chartered Plc.
“A pressão é muito alta”, afirmou Lombardi em entrevista por telefone de Nova York, em 26 de setembro. “Não é que isso já acabou”.