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A receita do Banco Pan para a volatilidade: conservadorismo no crédito e liquidez de caixa

Empréstimos consignados e atrelados ao FGTS ganham protagonismo à medida que o banco segue reduzindo emissão de cartões

Estratégia conservadora do banco começou em setembro de 2021, com avanço da inflação e dos juros (Banco Pan/Divulgação/Divulgação)

Estratégia conservadora do banco começou em setembro de 2021, com avanço da inflação e dos juros (Banco Pan/Divulgação/Divulgação)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 8 de agosto de 2022 às 20h25.

Última atualização em 8 de agosto de 2022 às 20h43.

O Banco Pan (BPAN4) divulgou seu balanço do segundo trimestre nesta segunda-feira, 8, com resultados mistos. O lucro líquido foi de R$ 194 milhões no segundo trimestre, queda de 4% frente ao mesmo período do ano passado. Já a carteira de crédito caiu 1% na comparação trimestral e avançou 11% ante o segundo trimestre de 2021.

O resultado reflete um momento desafiador para o Pan. Por ser um banco voltado para as classes D e E, a companhia é particularmente atingida em um cenário de juros e inflação altos. Para lidar com o período de volatilidade, o banco manteve a mesma receita que vem sendo adotada desde setembro do ano passado: unir o conservadorismo do crédito e a liquidez de caixa para manter a lucratividade.

“Mesmo em um cenário [adverso], o Pan tem apresentado resultados robustos. Nós continuamos com a preocupação de entregar lucro”, afirmou Carlos Eduardo Guimarães, CEO do Pan, em conversa com jornalistas na tarde de hoje.

Guimarães defende que o banco já enfrentou desafios semelhantes e que a solução nesse momento é adotar mudanças táticas. “Aumentamos de forma relevante o nosso caixa. É algo que estamos acostumados a fazer em momentos mais voláteis: aumentar a liquidez, ficar mais conservador em risco de crédito e continuar com capital alto”, disse.

O banco não divulga a posição em caixa, mas as mudanças na operação de crédito são públicas e aparecem nos números. Cerca de 50% da carteira de crédito do Pan está voltada para o crédito consignado ou atrelado ao FGTS. São opções consideradas “defensivas” pela administração da companhia uma vez que não dependem da capacidade de pagamento do cliente: o empréstimo é  descontado diretamente na folha de pagamento.

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O foco em crédito consignado e atrelado ao FGTS aumentou enquanto os pilares de cartão de crédito e financiamento de veículos perderam espaço. No caso dos cartões, a desaceleração começou no quarto trimestre do ano passado. No terceiro trimestre de 2021 a emissão de novos cartões foi de 708 mil, caindo para 352 mil no último trimestre de 2021. Este ano, foram 316 mil novos cartões emitidos no primeiro trimestre contra 224 mil no período de abril a junho.

O CEO reforça que o conservadorismo abrange todos os estágios da operação, passando por originação, gestão e cobrança do crédito. “[O conservadorismo atinge] mesmo clientes que estão pagando em dia. Se avaliamos que haverá alguma deterioração creditícia, tentamos, de uma forma construtiva, reduzir o limite desse cliente”, defende.

Um dos focos da estratégia é reduzir o risco de calote da dívida. No último balanço, a inadimplência do Pan caiu para 6,7%, frente 6,8% no primeiro trimestre e 5,4% na comparação anual. A inadimplência de curto prazo, de 15 a 90 dias, ficou em 8,4%, recuando de 8,6% na comparação trimestral e 7,5% frente ao segundo trimestre do ano passado. A expectativa do banco é que a inadimplência se mantenha nos patamares atuais, com melhora apenas no ano que vem.

Para 2023, a projeção é de que o momento de turbulência perca força e, segundo Guimarães, os sinais já estão aparecendo. Segundo o boletim Focus, a expectativa de inflação para este ano, que rondava os 10% há alguns meses, hoje está em 7,11% – 6ª queda consecutiva. Já a previsão para o PIB, que chegou a estar próxima de zero, indicando uma recessão, hoje está em 1,8%.

Para o ano seguinte, a inflação prevista é de 5,36% – ainda acima do teto da meta de 5%. “Os indicadores recentes estão melhores que há alguns meses atrás. Mesmo assim mantemos a receita para momentos mais voláteis, maior conservadorismo no crédito, no capital e no caixa. Estamos super confortáveis com essa posição”, afirmou.

Consignado Auxílio Brasil

O CEO confirmou ainda que o Pan pretende atuar na oferta de crédito consignado para beneficiários do programa Auxílio Brasil. A expectativa é que o banco comece a oferecer o produto ainda em agosto. O Pan estima que são aproximadamente 1,5 milhão de clientes do banco que serão beneficiários do programa e podem receber a oferta do crédito.

“Será um produto consignado para pessoas que recebem o Auxílio Brasil. São clientes que normalmente não têm acesso ao crédito. Junto com a venda desse produto haverá um trabalho de educação financeira para ajudá-los a ter maior clareza sobre a contratação do produto”, disse.

A expectativa, no entanto, é que a perda com o produto seja maior do que em outras modalidades de consignado. Isso porque, se os clientes perderem o benefício no meio do caminho, o crédito é interrompido. 

“A taxa do consignado vai ser maior porque as perdas são diferentes. Estamos discutindo taxas em torno de 3,5% e 4,9%. Já o consignado INSS, que é um produto muito mais maduro, tem taxa que vai até 2,14%, com uma taxa média de 2,05%”, explicou Guimarães.

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