O Copom já cortou a Selic em quatro pontos percentuais desde agosto, para reativar o crescimento econômico (Germano Lüders/Você S/A)
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2012 às 08h12.
Bogotá - As contraditórias políticas de juros no Brasil e na Colômbia explicam por que o real tem hoje o pior desempenho enquanto o peso colombiano tem o maior ganho entre as moedas de países emergentes.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central cortou na semana passada a taxa básica de juros para seu menor nível histórico, 8,5 por cento ao ano, enquanto a Colômbia manteve sua taxa de referência no maior patamar em três anos, 5,25 por cento. A diferença de 3,25 pontos percentuais é a menor desde maio de 2009. O real se desvalorizou 8,3 por cento frente ao dólar neste ano, em comparação ao avanço de 5,6 por cento do peso colombiano, segundo dados compilados pela Bloomberg. Em 22 de maio, a moeda brasileira registrou a menor diferença para a colombiana em sete anos.
O Copom já cortou a Selic em 4 pontos percentuais desde agosto, para reativar o crescimento econômico, diminuindo o apelo dos ativos de renda fixa do País. O banco central da Colômbia não altera a taxa básica desde fevereiro depois de nove aumentos para evitar que a economia superaquecesse em meio ao crescente fluxo de investimentos estrangeiros para o setor de petróleo no país.
“Isso se trata de política, taxas de juros e fundamentos”, disse Italo Lombardi, economista para América Latina do Standard Chartered Bank, em entrevista por telefone de Nova York. “Os fundamentos da Colômbia são muito sólidos agora. O Brasil está atravessando um período de crescimento muito mais fraco.”
A economia brasileira vai se expandir 2,99 por cento neste ano, após avanço de 2,7 por cento em 2011, segundo estimativa mediana de aproximadamente 100 economistas sondados em pesquisa do BC publicada em 28 de maio. O banco central colombiano projeta que o crescimento da quarta maior economia da América Latina chegará a 6 por cento, após ganho de 5,9 por cento em 2011.
Retorno dos títulos
A dívida pública denominada em reais perdeu 0,1 por cento em dólares neste ano, enquanto a dívida colombiana em pesos avançou 10,4 por cento, segundo dados do JPMorgan Chase & Co. A Nota do Tesouro Nacional da série F com vencimento em 2021 paga 10,28 por cento, ou 329 pontos-base a mais que a dívida pública colombiana de prazo similar, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O real despencou neste ano em resposta às medidas do governo para proteger a indústria local e também por conta da dívida da crise europeia, que afastou investidores dos ativos de alto rendimento dos mercados emergentes. O Ministério da Fazenda tentou desvalorizar o real ao subir o Imposto sobre Operações Financeiras para desestimular a entrada de capital estrangeiro. A autoridade monetária comprou US$ 7,2 bilhões no mercado de câmbio em abril, a maior quantia em 13 meses.
Em 18 de maio, o real atingiu a menor cotação em três anos, levando o BC a mudar de rumo e vender swaps cambiais pela primeira vez desde outubro para dar sustentação à moeda.
"Introduzir incerteza"
As taxas dos contratos de juros futuros indicam que Tombini vai baixar a Selic para 8 por cento até julho. Os contratos de swap de juros da Colômbia mostram que os investidores apostam que o chefe do banco central, José Darío Uribe, vai manter o juro básico inalterado até o fim de 2012.
O governo colombiano projeta aumento do investimento estrangeiro direto para US$ 16 bilhões neste ano, mais que cinco vezes os patamares registrados há uma década, impulsionado por fluxos para os setores petrolífero e de mineração.
“A cotação do peso é mais determinada por fluxos da economia real”, disse Siobhan Morden, estrategista-chefe de renda fixa para América Latina da Jefferies & Co., em entrevista por telefone de Nova York. “Todos são fluxos relativos a financiamento de longo prazo, investimento direto e exportações por causa da expansão do setor petrolífero. O Brasil se afastou dessa turma e se descolou dos fatores externos porque o Banco Central sinalizou que iria reduzir agressivamente os juros no momento em que o Ministério da Fazenda conseguiu introduzir incerteza sobre o nível do real.”
Em comunicado enviado por e-mail, uma porta-voz do BC se recusou a fazer comentários para esta reportagem. José Darío Uribe disse em 18 de maio que é a percepção que a Colômbia é menos arriscada, não o aumento de juros, que puxa os ganhos do peso. A autoridade monetária colombiana se recusou a fazer comentários adicionais.
Cotação equivocada
Para Diego Donadio, estrategista do BNP Paribas SA, ainda que os fundamentos da Colômbia sejam “extremamente bons”, as apostas na valorização do peso por exportadores e fundos de aposentadoria locais são exageradas. O real está com cotação equivocada, disse.
“Os investidores locais estão dando muita importância para os fundamentos da Colômbia”, disse Donadio em entrevista por telefone de São Paulo. “Mais cedo ou mais tarde, o peso colombiano vai sofrer.”
Em 15 de maio, o presidente colombiano Juan Manuel Santos disse esperar que o peso se estabilize após se fortalecer “mais do que deveria”. Um dia antes, o ministro da Agricultura, Juan Camilo Restrepo, disse que medidas “mais fortes” deveriam ser tomadas para conter os ganhos cambiais, a fim de ajudar exportadores.
O banco central colombiano informou em 30 de abril que compraria no mínimo US$ 20 milhões diariamente pelo menos até 2 de novembro para segurar a apreciação do peso. A autoridade monetária comprou US$ 1,2 bilhão entre fevereiro e abril, comparado a US$ 3,7 bilhões durante todo o ano de 2011.