Gestores: talvez haja uma surpresa desagradável reservada para os mercados de ações e de crédito na segunda metade do ano (Paulo Whitaker/Reuters)
Agência de notícias
Publicado em 3 de julho de 2023 às 16h37.
Última atualização em 3 de julho de 2023 às 17h16.
Não tenha muita ganância. Esse é o coro de muitos investidores que começam o segundo semestre com ganhos de dois dígitos em renda variável já em seus currículos.
Os mercados acionários globais se descolaram de um cenário econômico em deterioração depois de subir cerca de 13% em 2023, o que disparou alarmes de alguns dos principais gestores de recursos do mundo de que perseguir o rali daqui em diante é uma jogada arriscada. Os crescentes alertas sobre lucros corporativos também dão o recado.
“A resiliência agora está plantando as sementes da fragilidade no futuro”, disse Andrew McCaffery, diretor global de investimentos da Fidelity International. “A ‘recessão mais sinalizada da história’ ainda não chegou. Mas essa recessão virá quando os efeitos defasados das políticas se consolidarem.”
A retórica cada vez mais “hawkish” dos bancos centrais e uma série de alertas sobre lucros reduzem o otimismo de um pouso econômico suave, após um primeiro semestre movimentado que incluiu uma crise bancária regional nos EUA e um salto de US$ 5 trilhões do setor de tecnologia impulsionado pela febre em torno da inteligência artificial.
“Talvez haja uma surpresa desagradável reservada para os mercados de ações e de crédito na segunda metade do ano”, disse por telefone Joseph Little, estrategista-chefe global do HSBC Asset Management. Isso pode resultar de uma “combinação de fundamentos mais fracos contra o que é esperado atualmente pelos participantes do mercado, que parece um pouso incrivelmente suave”, acrescentou.
Companhias como FedEx, Siemens Energy e empresas químicas europeias cortaram ou preferiram não fornecer estimativas, e podem aparecer mais problemas à medida que a temporada de balanços começar para valer em duas semanas. Analistas têm reduzido as previsões de lucro globalmente, após um período de surpreendente resiliência no início deste ano.
“Acho que para muitos setores e muitas indústrias, este pode ser o último bom trimestre”, disse Luke Newman, gestor de fundos da Janus Henderson Investors, em entrevista por telefone, observando que as empresas podem ter mais dificuldades para repassar os aumentos de custos aos consumidores agora, em comparação com um ano atrás.
Os juros mais altos provavelmente ainda serão um tema-chave para o resto do ano. As expectativas de um corte das taxas pelo Federal Reserve foram adiadas para 2024, enquanto autoridades do Banco Central Europeu disseram que é improvável que o ciclo de aperto termine tão cedo.
Quase 99% dos entrevistados em uma pesquisa do Deutsche Bank com 400 profissionais do mercado disseram que juros mais altos devem levar a mais “acidentes” globais. A maioria deles espera que as altas tragam novas tensões aos mercados financeiros.
Isso significa problemas para o setor de tecnologia, particularmente sensível às taxas de juro, onde os “valuations” parecem elevados após um salto impulsionado pela inteligência artificial. Investidores e estrategistas também estão preocupados com a concentração do rali do mercado deste ano em um conjunto de ações de tecnologia de megacapitalizacão, o que significa que más notícias para o grupo podem exacerbar quedas nos indicadores acionários em geral.
“Houve uma reação exagerada no curto prazo” em ações de tecnologia devido à onda da IA, disse por telefone Lode Devlaminck, diretor-gerente de ações globais da Dupont Capital Management. “Acho que a IA é um divisor de águas para muitas empresas em termos de ganhos de produtividade. Mas, olhando para frente, se quisermos que o mercado continue ou sustente o rali, realmente precisa se ampliar, porque está muito estreito no momento.”
Ainda assim, a piora das condições não significa necessariamente que as ações reverterão totalmente seus ganhos de 2023.
Historicamente, exceto na Grande Depressão em 1929, o S&P 500 teve retornos positivos todos os anos, quando subiu 10% ou mais no primeiro semestre. Thomas Schuessler, gestor de portfólio do fundo de dividendos de € 21 bilhões da DWS, não vê um bom motivo para evitar totalmente o investimento em ações.
“No entanto, não acho que possamos projetar os ganhos dos primeiros seis meses para o segundo semestre do ano”, acrescenta.