Trabalhador da Sabesp caminha no chão rachado da represa de Jaguary, no interior de São Paulo: a seca pode ajudar a Sabesp a assegurar taxas mais altas (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2014 às 13h22.
São Paulo - Os investidores da Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, apostam que a seca ajudará a maior empresa de abastecimento de água do Brasil a obter um aumento de preço em suas ações.
O reservatório que abastece 10 milhões de pessoas na Grande São Paulo atingiu a maior baixa de todos os tempos, de 19,1 por cento de sua capacidade, após o janeiro mais quente de que se tem registro.
Isso levou a Sabesp a oferecer descontos de 30 por cento aos consumidores que reduzirem o consumo, uma medida que a Moody’s Investors Service acredita que pode reduzir os lucros da empresa em até 11 por cento.
A seca e os descontos podem ajudar a Sabesp, com sede em São Paulo, a assegurar taxas mais altas em meio a pressões políticas para segurar os preços antes das eleições para o governo do estado, neste ano, segundo Michael Gaugler, vice-presidente sênior de pesquisa de ações da Brean Capital LLC.
A reguladora de abastecimento de água, a Arsesp, definirá em 10 de abril a tarifa da Sabesp, a mais baixa das 24 empresas de abastecimento de água do Brasil.
“A reguladora pode ter a flexibilidade de ir para o estado e dizer ‘olha, nós teremos que dar a eles mais do que pensávamos dois ou três meses atrás porque temos uma emergência aqui”, disse Gaugler, por telefone, de Pottstown, Pensilvânia. “Eu realmente vejo uma oportunidade aqui, especialmente se não chover durante os próximos 30 dias”.
Alta das ações
A Sabesp subiu 12 por cento até ontem após atingir a maior baixa em 2014 no dia 5 de fevereiro. A empresa está sendo negociada a 7,5 vezes os lucros estimados para 2014, contra uma média de 18,9 vezes das empresas de serviços públicos de todo o mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg. De 14 analistas que classificam a ação, oito dizem “comprar” e seis dizem “manter”.
“As ações estão reagindo ao fato de que, qualquer que seja o resultado, finalmente estamos perto de um resultado”, disse Gaugler. “A lucratividade da empresa é como um buraco negro. Você não sabe como será antes de que eles fechem a tarifa”.
Os brasileiros, que estão mais acostumados com enchentes do que com secas, dificilmente pensam em fechar a torneira enquanto lavam os pratos ou usam o xampu, disse Giuliano Dragone, presidente do sindicato das concessionárias privadas de serviços públicos de água e esgoto, o Sindcon.
A consciência de economizar água é baixa em relação a lugares como a Califórnia, onde os residentes também enfrentam uma seca que atinge todo o estado.
“A intensidade do calor esse ano, está fora da curva”, disse Dragone, em entrevista por telefone, de São Paulo. “O pessoal usa a água sem consciência”.
A falta de investimento e a má gestão das empresas estatais têm dificultado a ampliação dos serviços de água e esgoto no Brasil, disse Dragone, e as atualizações necessárias custarão R$ 270 bilhões.
Dragone estima que vazamentos de tubulações, medidores quebrados e outros defeitos contribuem para a perda de 40 por cento da água em todo o país. As perdas totalizaram 25 por cento para a Sabesp no terceiro trimestre de 2013, contra menos de 10 por cento no Japão e no Reino Unido.
Algumas regiões do Brasil podem ter um alívio em relação à seca quando as chuvas voltarem no final da semana, disse o meteorologista Gustavo Verardo, da Somar, por telefone, de São Paulo.
Uma frente fria reduzirá a seca no Sul e no Sudeste e a chuva pode aumentar na segunda metade de fevereiro. Contudo, não será suficiente para recuperar a umidade adequada para o solo ou para os reservatórios de abastecimento, disse ele.
“Faz muitos anos que não tem racionamento, viu, mas nos estamos vivendo um calor que há 71 anos que a gente não tinha”, disse João Simanke, hidrologista que trabalhou 28 anos na Sabesp e agora é membro do conselho de uma associação que defende o interesse em água subterrânea, por telefone, de Peruíbe, no litoral de São Paulo. “A gente nunca vai conseguir recuperar o que deixou de chuver em janeiro”.