Bolsas americanas: na próxima quarta-feira, o Fed deve elevar a taxa básica em 0,5 ponto percentual, para um intervalo entre 4% e 4,5%, o maior nível desde 2007 (MD Birdy/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 12 de dezembro de 2022 às 10h01.
O relatório da inflação nos EUA e a decisão do Federal Reserve desta semana podem estar no centro das atenções da maioria dos investidores, mas, para alguns dos estrategistas de maior destaque de Wall Street, a possibilidade de futuros cortes dos lucros é a maior preocupação para o mercado acionário.
De acordo com relatórios de Michael Wilson, do Morgan Stanley, e David Kostin, do Goldman Sachs, os lucros podem encolher mais do que o esperado em 2023, com as margens sob pressão, o que cria um cenário difícil para as bolsas.
“O capítulo final deste ‘bear market’ é sobre a trajetória das estimativas de lucro, que estão altas demais”, escreveu Wilson em nota na segunda-feira. A leitura do índice de preços ao consumidor e a reunião do Fed são “notícias de ontem”, disse o estrategista, que ficou em primeiro lugar como o mais conceituado na pesquisa mais recente da Institutional Investor.
Tanto Wilson quanto Kostin veem um começo desafiador para o mercado acionário em 2023, após um ano em que muitos dos principais índices entraram em terreno baixista antes do rali deste quarto trimestre. O salto da inflação e o aumento das taxas de juros até agora foram foco de preocupação dos investidores, e é provável que continue assim, pelo menos no curto prazo.
Na próxima quarta-feira, o Fed deve elevar a taxa básica em 0,5 ponto percentual, para um intervalo entre 4% e 4,5%, o maior nível desde 2007, e sinalizar mais aumentos no início de 2023. No dia anterior, o índice de preços ao consumidor de novembro tende a mostrar desaceleração, mas ainda em um nível muito alto para ser considerado confortável. O S&P 500 recuou 3,4% na semana passada devido ao receio de que a força da economia dos EUA vai manter o Fed em sua trajetória de aperto da política monetária, o que colocaria o índice de referência na rota de seu pior ano desde 2008.
Olhando para o futuro, Wilson espera um ambiente muito desafiador para os resultados corporativos em 2023, pois “os custos permanecerão elevados e os preços recebidos pelas empresas cairão”. O estrategista do Goldman Sachs tem uma visão semelhante, dizendo que as margens podem pesar mais nas estimativas do que o projetado. A equipe de Kostin não espera ganhos para os lucros e tampouco para o S&P 500 no próximo ano.
O Goldman vê o benchmark 4.000 pontos no fim deste ano, enquanto Wilson espera que o índice feche em 3.900 pontos, praticamente em linha com os níveis atuais.
E enquanto uma pesquisa informal com 134 gestores de fundos conduzida pela Bloomberg mostrou que alguns dos maiores investidores globais preveem que os índices acionários terão aumentos de dois dígitos no próximo ano, nem todos estão convencidos desse cenário.
“Muitos investidores têm uma perspectiva mais baixista para o mercado de renda variável do que nós”, escreveu Kostin. Embora assuma um pouso suave em 2023, os retornos das ações serão piores do que o esperado se a economia dos EUA entrar em recessão, disse.