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Quão caro está o dólar no mundo?

Para ter uma ideia é preciso comparar os preços em dólares de produtos parecidos em todos os lugares – aqui, de uma refeição simples, 500 ml de cerveja nacional e um cappuccino

Há quase dois anos o dólar oscila cerca de 15% acima da média histórica quando comparado a um conjunto amplo de moedas, já descontando o efeito da inflação (Craig Hastings/Getty Images)

Há quase dois anos o dólar oscila cerca de 15% acima da média histórica quando comparado a um conjunto amplo de moedas, já descontando o efeito da inflação (Craig Hastings/Getty Images)

Celso Toledo
Celso Toledo

Colunista

Publicado em 27 de abril de 2024 às 08h00.

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Há quase dois anos o dólar oscila cerca de 15% acima da média histórica quando comparado a um conjunto amplo de moedas, já descontando o efeito da inflação. Isso não é comum. Desde o início dos anos 70, quando o atual arranjo de taxas de câmbio flutuantes começou a vigorar, ocorreu algo parecido em apenas dois períodos: por cerca de dois anos e meio, entre o último trimestre de 1983 e o primeiro de 1986 e, por um ano, entre meados de 2001 e meados de 2002.

No dia a dia, o que isso significa? Quão caro fica o dólar para quem tem renda em outras moedas? Para ter uma ideia é preciso comparar os preços em dólares de produtos parecidos em todos os lugares. A revista The Economist usa o preço do Big Mac como baliza. Aqui, comparo o custo dos seguintes itens: (i) uma refeição em um restaurante simples, (ii) 500 ml de cerveja (nacional) e (iii) um cappuccino.

Os americanos precisam, em média, desembolsar US$ 31 para a consumir o combo. Ao câmbio atual, dá uns R$ 160. Dentre os 87 países para os quais encontrei dados, representando 92% do PIB global, apenas suíços, dinamarqueses e noruegueses pagavam mais caro. Ou seja, o menu é mais barato que nos EUA em 83 países, incluindo as 30 maiores economias.

Ponderando pela população, o PF com cerveja e cafezinho absorveria, em média, 5,6% da renda mensal líquida se todos tivessem que despender o que os americanos pagam pela extravagância de comer em um fast-food. Trata-se de fatia expressiva, maior do que os gastos mensais com combustíveis e energia de uma família brasileira representativa, por exemplo.

Verdade que a média é inflada por 10 países onde o poder de compra está particularmente deprimido por motivos diversos, por exemplo, Egito, Nigéria e, mais para o lado de cá, Venezuela e Bolívia. Entretanto, mesmo excluindo da conta essa turma, o restante ainda precisaria torrar 4,2% do salário para pagar o que hoje os americanos desembolsam por um almoço rápido.

Tendo isso em vista, uma comparação interessante é a que controla o gasto pelo poder de compra em cada país. Afinal, é natural que produtos intensivos em serviços acabem custando mais em lugares mais desenvolvidos, onde os salários são maiores. De fato, 74% da variação do preço do menu entre as nações pode ser explicada só pela diferença de poder aquisitivo dos habitantes.

Então, quanto custa sucumbir à autoindulgência de um pratinho no bar do Zé considerando o valor dos salários? Não por acaso, os venezuelanos são os mais prejudicados. Lá, a cesta sai por US$ 13, o que não está tão mal na praça de alimentação global, onde o preço médio da bandeja é US$ 11 (ponderado pela população). O problema com o nosso vizinho é que seus salários estão minguados.

O menu deveria custar US$ 6 a julgar pela renda do bolivariano típico, menos da metade do que atualmente. Ou seja, na terra de Maduro não apenas os imperialistas são exploradores. Lá o salário médio permitiria aguentar uma semana em Miami e apenas 15 dias em Caracas. Cortando a cerveja e o café daria para empurrar mais 4 dias. Fora isso, “perro caliente” ou arepas.

O drama venezuelano entristece, mas não chega a ser espantoso dado o declínio econômico produzido pelo socialismo do século 21. Mais surpreendente é o caso de Israel, onde o trivial ligeiro custa só um pouquinho menos do que nos EUA. Eles estão longe de serem globalmente miseráveis, pois recebem salários 2,5 maiores do que a média mundial. Porém, como o contracheque é 45% menor do que o dos gringos, a indigestão do Sr. Jacó é a mesma em Tel Aviv ou na deli favorita de Nova Iorque. O sanduíche de pastrame teria que baratear 25% para equilibrar a balança.

No lado oposto está o Vietnam, onde o povo ganha um décimo do salário americano. Comer na Disney sorveria 5% do salário médio dos asiáticos – recomendando os 2% a mais para recuperar a autoestima com uma cervejinha e um capuccino bem forte. Porém, eles conseguem economizar quando degustam ensopados de miúdos nas esquinas de Ho Chi Minh. O custo do cardápio local é quase 50% menor do que o “justo” usando a régua internacional. Na China se dá algo parecido e, pasmem, também no Japão, agora que o iene está na bacia das almas.

E no Brasil? Como nos viramos com o dólar caríssimo? Aqui, o menu sai por menos de US$ 10, abaixo da média ponderada global. Apesar de termos um poder aquisitivo mais de 2 vezes maior que o dos venezuelanos, almoçamos por 70% do preço que eles têm que pagar (inflação é uma praga). Na América Latina, o salário compra, em média, 46 menus e, no Brasil, 42. Desembolsamos um pouco mais do que deveríamos internamente, mas não muito. Ou seja, estamos ok regionalmente.

No entanto, nosso poder de compra é baixíssimo nos EUA. Fazemos parte de um seleto grupo de 20 países em que um simples lanchinho na terra do Tio Sam absorve mais de 7% da renda mensal média. Além de nós, o clube conta também com a presença dos hermanos argentinos, bolivianos, colombianos, peruanos e venezuelanos. Nesses casos, o problema não está apenas na força internacional do dólar, mas também na fraqueza das moedas nacionais.

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