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Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2011 às 19h23.
São Paulo- Nos últimos anos, as tentativas de fomentar o acesso de empresas médias ao mercado de capitais fracassaram. Agora, um grupo de corretoras não ligadas a bancos está se articulando para tentar ressuscitar o Bovespa Mais, o principal projeto do setor.
Batizado de "Consórcio de Corretoras IPO Bovespa Mais", o projeto liderado por 10 corretoras --entre elas Spinelli, SLW, Coinvalores, Souza Barros, Planner, Elite e Socopa-- quer relançar a iniciativa criada em 2005, mas que até hoje tem como hóspede solitária a fabricante de fertilizantes Nutriplant.
Para superar a distância entre empresários, intermediários financeiros e investidores, que impede o florescimento de um mercado estimado em cerca de 1.200 companhias no país, o grupo vem costurando parcerias incluindo escritórios de advocacia, auditores independentes, consultores, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e entidades de classe, como a Abvcap, dos fundos de private equity.
"Estamos tentando resolver problemas que não foram enfrentados no passado", disse à Reuters um executivo ligado ao projeto, que pediu para não ser identificado.
Um deles é o custo. Somados, serviços de estruturação, garantia, comissão a bancos, além de advogados e auditores, custam o equivalente a 7 por cento de uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
É mais do que uma empresa que pretenda captar de 50 milhões a 400 milhões de reais está disposta a pagar, segundo a fonte. Como são custos pouco elásticos, esses serviços acabam pesando menos em operações maiores, como tem sido o caso.
Segundo números da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o valor médio das ofertas de ações no Brasil nos últimos anos tem sido de 620 milhões de reais.
Na última década, em meio à empolgação do mercado de capitais que levou mais de 100 empresas a aterrisar na Bovespa, muitas o fizeram entrando pelo Novo Mercado, segmento cujo selo virou sinônimo de boa qualidade e governança. Hoje, há a percepção de que várias companhias não estavam preparadas para lidar com investidores como companhia aberta.
Além disso, uma captação de mais de 500 milhões de reais, dada as atuais condições adversas de mercado, tornou-se um sonho restrito a poucas empresas.
Outra barreira que o projeto quer derrubar é a dificuldade de distribuição. Em geral, mais da metade dos lotes das ofertas é vendida a grandes investidores estrangeiros, que exigem tíquetes médios maiores e liquidez, algo que as empresas médias não podem garantir.
Pelo menos momentaneamente, a solução encontrada pelos idealizadores do projeto para baratear o processo é de restringir a distribuição das ações ao mercado doméstico, basicamente fundos de pensão e pessoas físicas, por meio das próprias corretoras, na proporção 80-20.
Para pavimentar o caminho das empresas rumo à bolsa, consultorias como a Fipecafi serão encarregadas de ajudá-las a implementar ferramentas de governança corporativa, como Conselho de Administração e controles internos. Segundo a fonte, as conversas estão mais adiantadas com algumas empresas e o projeto deve decolar no começo de 2012.
Para dirimir as preocupações de investidores com liquidez, os coordenadores estabeleceram um cronograma no qual as empresas que chegarem ao mercado via Bovespa Mais migrem para o Novo Mercado da bolsa paulista num horizonte de até 4 anos.
Porta de saída
Criadora do Bovespa Mais, a BM&FBovespa desta vez acompanha as conversações como ouvinte.
A instituição teve a imagem chamuscada no começo do ano, quando tentou levar para o segmento a Companhia de Águas do Brasil (CAB Ambiental). Com o mercado em baixa, a empresa desistiu do IPO e reclamou que o produto oferecido pela bolsa não era tão bom quanto parecia.
A torcida da BM&FBovespa para o projeto dar certo, no entanto, é grande.
Com o fraco desempenho das ações, os seguidos cancelamentos de IPOs e o aumento da tributação sobre derivativos de câmbio, a companhia já revisou suas projeções de ofertas ações e de crescimento do número de investidores. A BM&FBovespa, contudo, manteve a expectativa de que 200 novas companhias no pregão até 2014.
O projeto também é acompanhado de perto pela Abvcap, já que o mercado de balcão pode ser a porta de saída para vários investidores de private equity.
"Muitas vezes a falta de porta de saída do investimento via mercado de capitais acaba limitando a expansão da nossa indústria no Brasil", disse o presidente da entidade, Sidney Chameh.