“A inflação não está fora do controle no Brasil”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, após elevar o IOF para o crédito à pessoa física (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2011 às 18h19.
São Paulo – Após a elevação do rating do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch e o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o crédito à pessoa física nos últimos dias, a agenda interna ganha destaque na segunda semana do mês, compreendida entre os dias 11 e 15 de abril.
Os olhares se voltam principalmente para a divulgação de indicadores de inflação. “As leituras preliminares e o IGP-10 devem indicar evolução dos preços (ainda que em ritmo mais moderado)”, prevê a equipe de pesquisa da Coinvalores, liderada pelo analista Marco Aurélio Barbosa.
O relatório Focus também chama a atenção com a percepção de instituições financeiras, gestores e consultorias sobre dados-chave da economia, incluindo inflação. Os investidores acompanham ainda o vencimento dos contratos futuros de Ibovespa. Nos últimos cinco dias, o principal índice de ações brasileiro acumulou queda de 0,79%, aos 68.718 pontos. No ano, o recuo é de 0,85%.
“A semana ainda contará como pano de fundo os conflitos no mundo árabe e a fragilidade européia, configurando um cenário pouco mais tranquilo para a bolsa paulista”, prevê a equipe de pesquisa do Banco Fator, liderada pela analista Lika Takahashi.
Na cena externa, o destaque fica para a divulgação do Livro Bege do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), aos dados do orçamento norte-americano, além de números relevantes sobre a economia da China.
IOF é elevado para conter a inflação
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou na última quinta-feira (7) um aumento de 1,5 ponto percentual, para 3% ao ano, no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado nas operações de crédito à pessoa física.
O objetivo do governo é o de moderar o crescimento da demanda das famílias, um dos principais motores da expansão da economia, mas que também tem acelerado as pressões inflacionárias. Foi a segunda novidade do Ministério da Fazenda em apenas dois dias. Na quarta-feira (6), o ministro Guido Mantega anunciara a extensão da alíquota de 6% do IOF para empréstimos no exterior com prazo de até dois anos, com a intenção de frear a valorização do real.
“Essas medidas visam desestimular não só a entrada de dólares no país que pressiona o câmbio, como também reduzir a capacidade de oferta de crédito por parte dos bancos, que têm captado recursos no exterior e emprestado internamente”, explica a equipe de pesquisa da Ativa Corretora, liderada pela analista Luciana Leocadio.
“O BC já havia ressaltado no último relatório trimestral de inflação que esta estratégia reduziria a eficácia da política monetária. Como a economia brasileira continuará atrativa para os recursos externos, novas medidas permanecem no radar de curto prazo”, alerta a Ativa Corretora.
Brasil: dados de inflação e vendas no varejo
A divulgação do último relatório Focus mostrou que as perspectivas de inflação seguem deteriorando no Brasil. “A projeção para o IPCA em 2012 ficou em 5%, indicando que o mercado não está convencido de que o Banco Central conseguirá trazer a inflação para o centro da meta”, avalia a equipe de pesquisa da Ágora Corretora, liderada pelo analista Marco Melo.
Diante deste cenário, os investidores ficarão atentos no decorrer da semana à publicação do Relatório Focus, do IPC-Fipe e do IGP-10. “O IGP-10 deve ter desacelerado em abril, com descompressão nos preços ao produtor. Nossa projeção é de variação de 0,55%”, estima o Banco Fator.
Dados sobre as vendas no varejo também chamam a atenção. “Os números devem mostrar crescimento forte em fevereiro, com variação anual de 9,1%”, prevê o Banco Fator. Já a equipe da Gradual Investimentos prevê um avanço de 9,2%. Em janeiro, a alta foi de 8,3%.
EUA: Livro Bege e dados do orçamento
Na quarta-feira (13), o livro Bege deve trazer novos indícios de recuperação norte-americana, podendo se traduzir num momento de menor aversão ao risco e melhora de humor nos mercados internacionais. Já na quinta-feira (14) e sexta-feira (15) serão divulgados dados de índices de preços e nível de atividade.
“A expectativa do mercado é de que haja um ligeiro aumento, tanto do índice de preços ao consumidor, quanto da produção industrial. A variação anual do núcleo dos preços ao consumidor, apesar de ter aumentado recentemente, permanece muito baixa em relação à série histórica”, avalia o Banco Fator.
Em relação ao orçamento norte-americano, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve lançar proposta para a redução do déficit de longo prazo ainda nesta semana, segundo declarou à Reuters o conselheiro David Plouffe.
Obama e os líderes do Congresso norte-americano chegaram a um acordo na semana passada em torno do orçamento que evitou a paralisação do governo. O acordo, porém, abriu caminho para um corte maior nos gastos.
China: inflação, produção industrial e PIB
Outro destaque da agenda externa é a China, que vem trabalhando na contenção do avanço inflacionário e que trará nesta semana números de produção industrial, PIB, vendas no varejo e preços ao consumidor, indicando arrefecimento de suas atividades.
“Esses dados são importantes na medida em que dirão de como a economia chinesa está reagindo às medidas de aperto monetário que vem sendo tomadas desde outubro passado. A expectativa é de que o índice de preços ao consumidor continue acelerando, porém de maneira mais fraca. O mercado espera ainda uma alta menor do PIB anual em relação as cifras apresentadas no trimestre passado”, avalia o Banco Fator.
Europa: sentimento econômico é destaque
No Velho Continente, ocorre na terça-feira a divulgação de dois importantes dados: os índices de sentimento econômico (feitos pelo instituto ZEW) para a Alemanha e para a zona do euro. Os índices podem indicar como será o desempenho da economia europeia nos próximos meses após a alta de juros por parte do Banco Central Europeu (BCE) e o pedido de ajuda de Portugal ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Já na quarta-feira os investidores acompanham a publicação de dados de produção industrial na Zona do Euro e da taxa de desemprego no Reino Unido.