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"Prepare-se para muita volatilidade na Bolsa", diz presidente da BlackRock

Carlos Takahashi lidera desde março a operação brasileira da maior gestora de recursos do mundo, com US$ 5,6 trilhões de recursos administrados

B3: bolsa brasileira enfrentou altos e baixos na última semana (Cris Faga/Getty Images)

B3: bolsa brasileira enfrentou altos e baixos na última semana (Cris Faga/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de abril de 2019 às 08h25.

São Paulo — A queda de braço entre o presidente da República, Jair do Bolsonaro, e o líder da Câmara, Rodrigo Maia, transformou a Bolsa de Valores em uma montanha-russa na última semana. Em menos de uma semana, o índice Ibovespa caiu 9 mil pontos - do patamar histórico dos 100 mil pontos para 91 mil. Para o presidente da gestora BlackRock no Brasil, Carlos Massaru Takahashi, a oscilação assustou, mas não surpreendeu. "O investidor precisa entender que essa volatilidade faz parte do desafio da reforma da Previdência", destaca.

Takahashi lidera desde março a operação brasileira da maior gestora de recursos do mundo, com US$ 5,6 trilhões de recursos administrados e presença considerada ainda tímida no país (que ainda é o quarto mercado da empresa na América Latina). "Nossa missão é transformar o Brasil no principal mercado da região", diz o executivo, que planeja uma revisão no portfólio da gestora.

Leia trechos da entrevista:

Após turbulências entre Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a Bolsa caiu 9 mil pontos em poucos dias. O mercado se assustou com o governo?
O mercado trabalha muito em cima das expectativas. O reconhecimento de que o governo estava trazendo uma equipe forte e sensível na área econômica levou a Bolsa para recordes. Mas, à medida que avançam as discussões sobre a reforma da Previdência, isso traz volatilidade. Acho que, apesar disso, estamos agora falando de uma Bolsa que oscila na casa dos 90 mil pontos, um patamar historicamente bastante elevado.

O sr. esperava esse nível de oscilação?
Não desse nível. Mas trabalhamos com um cenário de bastante volatilidade em 2019, em função de todos os fatores. O investidor precisa se preparar para muita volatilidade na Bolsa. Ninguém era ingênuo em achar que a discussão da reforma não seria difícil. Enquanto a discussão estava em um campo em que prevalecia o debate técnico e econômico, isso encontrava um nível de ressonância. Mas, na hora que migra para o campo político, como agora, a reforma traz volatilidade.

Quais setores mais sofrem neste momento?
As ações que têm causado essa grande volatilidade são as relacionadas com o governo e com os bancos, que também foram bastante impactados. Também o setor de commodities e as empresas do sistema elétrico. Há ações que se beneficiam de uma desvalorização do real frente ao dólar, como as das empresas de celulose.

Há 15 dias, alguns bancos e corretoras recomendavam aumentar a carteira de renda variável. Falava-se em 15% do portfólio em ações para um perfil de risco moderado.
Essas previsões precisam ser reconsideradas frente ao desafio da reforma?
O investidor precisa tomar cuidado com a volatilidade, mas precisa começar a diversificar. O brasileiro ficou muito tempo acostumado com aquilo que é o alinhamento perfeito: produtos de liquidez, com baixo risco e melhor retorno, que são os títulos de renda fixa. Mas com taxa de juros de 6,50% ao ano, esse mundo passa a não ser tão perfeito e confortável assim.

O sr. disse que a Bolsa mudou de patamar. Há espaço para crescimento neste ano?
Claro que, se olhar em dólar, ainda tem espaço para crescimento. Mas, por outro lado, se olhar em termos de fundamentos, balanços das empresas, pode ser defensável a tese de que algumas empresas e alguns setores já estão bem precificados.

A BlackRock foi pioneira no Brasil com os ETFs, fundos que replicam índices da Bolsa. Mas esse mercado não ganhou a escala que se imaginava. O que aconteceu?
Foi uma questão de momento do País. O Brasil, até pelas características macroeconômicas, sempre contou com uma previsibilidade menor na economia. No final das contas, ativos domésticos como CDBs sempre foram predominantes. Eu atribuo essa dificuldade muito a um mercado mais fechado, de alguma forma monopolizado pelas grandes instituições.

Muitos investidores reclamam do preço dos ETFs da gestora. Enquanto o Bova11, o mais popular da empresa, tem taxa de administração de 0,54% ao ano, o Dov11, do Itaú, que replica o mesmo índice, tem taxa de 0,3%. Não está no momento de rever os preços dos produtos?
A revisão de portfólio é um exercício permanente. Esse produto está em revisão, mas não se resume ao preço. O preço faz parte, é uma variável, mas não é a única. Pelo histórico de nosso produto, a gente tem um nível de liquidez e volume de negociação maior do que os outros produtos do mercado e achamos que esse é um atributo importante.

Isso envolve o lançamento de fundos multimercados, nicho que ainda são tímidos?
Temos um portfólio acanhado no Brasil. Um foco, inegavelmente, é ampliar a gama de ETFs no Brasil. Ficamos com o olhar viciado no Bova11. Mas há alternativas de diferentes estratégias de ETFs, inclusive ETFs Ativos. Os nossos multimercados são com ativos no exterior. Se o veículo mais adequado para ampliar o acesso do investidor aos ativos internacionais for esse, vamos ampliar também a oferta de multimercados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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