Trump e Powell (Saul Loeb/AFP)
Editora do EXAME IN
Publicado em 19 de março de 2025 às 17h52.
O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, reconheceu hoje o alto grau de incerteza das políticas de Donald Trump sobre a economia, mas reforçou a mensagem de que o Banco Central americano precisa separar "o sinal do ruído" e não tem pressa para cortar juros.
Ele disse que a economia segue num bom ritmo, assim como o mercado de trabalho, e que os dirigentes podem esperar para ter maior clareza do impacto dessas políticas antes de agir.
“A inflação começou a ir para cima, e achamos que isso é em parte uma resposta às tarifas”, disse Powell. “E pode haver um atraso em mais progresso [em direção à meta de 2%] ao longo deste ano.”
O cenário-base, no entanto, é de que qualquer salto na inflação deve ser transitório, afirmou, para então acrescentar que é muito difícil dizer com algum grau de confiança o quanto da inflação vem das tarifas contra outros fatores.
A decisão de manter as taxas de juros vem em meio ao vai-e-vem das políticas de Trump. Sua visão especialmente sobre tarifas pode ter dois efeitos: um inflacionário e outro de reduzir o PIB, uma combinação que deixa o Fed numa encruzilhada sobre estimular ou segurar a atividade econômica.
De certa forma, o tom do comunicado do Fed de hoje foi mais “hawk” – ou seja, mais restritivo, com menor tendência a cortes – do que os anteriores, principalmente da menção às preocupações com a inflação.
Mas a avaliação é que veio menos duro do que o esperado, o que deu alguma folga aos Treasuries, além de dar fôlego a ativos de risco, como a bolsa americana – que, é verdade, já tinha bastante espaço para correção, depois de cinco semanas seguidas de queda.
O Ibovespa, que na contramão vem engatando uma sequência de altas, também renovou o ânimo depois da decisão, para então ceder e fechar com valorização de 0,79%, a 132.508 pontos. Nesta Super Quarta, as atenções também estão voltadas para as sinalizações do Copom. O dólar fechou em baixa de 0,42%, a R$ 5,65, no menor patamar em pelo menos seis meses.
Com a decisão sobre a manutenção da taxa de juros nesta reunião já amplamente aguardada, os investidores voltaram sua atenção para os comentários do presidente do Fed e para o chamado “gráfico de pontos”, que mostra a mediana das projeções dos 19 dirigentes da instituição.
Esse gráfico ainda indica uma chance majoritária de dois cortes de 0,25 ponto percentual este ano, mas a convicção dos membros diminuiu. Os dados mostram que nove participantes preveem uma taxa entre 3,75% e 4% no fim do ano. Em dezembro, eram 10.
Mas, desta vez, oito membros vieram com projeções maiores que essa faixa, comparado com apenas quatro dirigentes na reunião anterior.
Ou seja, mais diretores do Fed veem a necessidade de segurar as taxas em níveis mais elevados para manter a inflação em linha. Apenas dois veem a chance de mais cortes.
Os dados são colocados de forma anônima, de maneira que não é possível saber qual membro está mais a favor das manutenções. Dos 19 membros que computam suas projeções no chamado Sumário de Projeções Econômicas (SEP, em inglês), 7 fazem parte do conselho do Conselho de governadores do Fed e 12 vem dos presidentes regionais.
Não é possível saber a opinião dos membros que têm voto no Comitê de Mercado Aberto, o Fomc, que define as taxas.
Os dirigentes do Fed aumentaram sua previsão de inflação para 2025, afastando-a ainda mais da meta de 2% do banco.
A previsão mediana no último Sumário de Projeções Econômicas do banco é de que o PCE, a medida de inflação preferida do banco central, termine 2025 com uma taxa anual de 2,7%.
A previsão de dezembro apontava para um aumento de 2,5%. Na visão dos membros do Fed, a inflação do núcleo do PCE, que exclui os custos de alimentos e energia, deve encerrar o ano com um aumento de 2,8%, em comparação com a projeção de 2,5% feita em no fim do ano passado.
Ao mesmo tempo, os membros do Banco Central cortaram fortamente as projeções para o PIB americano, de 2,1% para 1,7%, na mediana das expectativas. Para 2026, a previsão saiu de 2% ára 1,8% e para 2027 teve leve recuo de 1,9% para 1,8%.
O mercado de trabalho, por sua vez, deve esfriar em um ritmo um pouco mais rápido do que o projetado anteriormente neste ano.
A mediana das projeções do banco é de que a taxa de desemprego suba para 4,4% até o final de 2025. A projeção anterior era de 4,3%. As estimativas de desemprego para 2026 e 2027 foram mantidas em 4,3%, os mesmos níveis da projeção de janeiro.
A taxa de desemprego subiu para 4,1% em fevereiro, ante 4% em janeiro, de acordo com o relatório de empregos mais recente.