A emissão feita por Portugal teve juro recorde desde a criação do euro (Marius Becker/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2010 às 17h19.
Lisboa - O mercado da dívida dos países periféricos da Zona do Euro estava tenso nesta quarta-feira, depois da emissão, por Portugal, de obrigações com juros recordes, desde a criação da moeda única; ao mesmo tempo, os bônus irlandeses prosseguiam em escalada, na expectativa da divulgação de um plano de austeridade fiscal.
Portugal colocou nesta quarta-feira no mercado de obrigações 1,24 bilhão de euros (1,7 bilhão de dólares), informou o Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP), em duas emissões; a primera, de 686 milhões de euros, com vencimento em 2020, a 6,806%, com demanda 2,1 vezes superior à oferta, embora muito menor que a realizada em setembro.
A segunda colocação, a 6 anos, com juros de 6,156%, teve demanda 2,3 vezes superior à oferta.
O Estado português espera arrecadar entre 750 milhões e 1,25 bilhão de euros com esta dupla operação - a última de emissão da dívida a longo prazo de 2011.
"O apetite dos investidores pela dívida portuguesa vem baixando claramente", destacou Filipe Silva, estrategista do Banco Carregosa, precisando que para a emissão a dez anos "a demanda caiu pela metade".
Trata-se da primeira emissão a longo prazo desde que o Parlamento português aprovou, em 3 de novembro, o plano de austeridade orçamentária para 2011, impulsionado pelo governo socialista.
O plano, de um rigor sem precedentes, com cortes de salários no funcionalismo público, congelamento das pensões e aumento do IVA, era destinado a acalmar a preocupação do mercado financeiro com a capacidade do país de sanear suas finanças. Lisboa comprometeu-se a reduzir o déficit público a 7,3% do PIB este ano e a 4,6% no próximo.
Já os juros das obrigações de Estado da Irlanda subiam, num mercado que, segundo os analistas, preocupa-se com os riscos de que o orçamento de 2011 seja rejeitado pelo Parlamento.
Pela manhã, os juros dos bônus irlandeses a 10 anos se situava em 8,165%, depois de ter chegado pouco antes a 8,180%.
A Irlanda enfrenta este ano um colossal déficit público de 32% do PIB, devido ao custo da ajuda governamental ao setor bancário, varrido pela crise financeira internacional.
Para reduzi-lo a menos de 3% em 2014, o governo prevê para os próximos quatro anos uma economia de 15 bilhões de euros, começando pelo orçamento de 2011 que inclui medidas de austeridade estimadas em 6 bilhões de euros. No entanto, o gabinete de Brian Cowen conta com mioria parlamentar muito frágil.