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Por que todos querem a Cedae? Retorno livre deve chegar a R$ 50 bi

Os quatro blocos que estão em leilão abrangem a cidade do Rio de Janeiro e outros 26 municípios no estado; Equatorial e ao menos 3 outros consórcios estão na disputa

O leilão do ano da joia da coroa na área de abastecimento: entenda o interesse pela estatal de saneamento do Rio de Janeiro (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O leilão do ano da joia da coroa na área de abastecimento: entenda o interesse pela estatal de saneamento do Rio de Janeiro (Tomaz Silva/Agência Brasil)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 30 de abril de 2021 às 06h30.

Última atualização em 30 de abril de 2021 às 06h48.

Previsto para às 14h desta sexta-feira, 30, o leilão da Cedae prevê a concessão por 35 anos dos serviços de água e esgoto da cidade do Rio de Janeiro e de outros 26 municípios fluminenses. Os direitos de exploração do serviços serão divididos em quatro blocos, contendo, cada uma delas, bairros da capital e ao menos outras duas cidades do estado.

O evento é considerado "o leilão do ano" e deve levantar no mínimo 10,6 bilhões de reais, tendo em vista o valor mínimo exigido para as ofertas dos quatro blocos. O Bloco 1, que abrange bairros nobres do Rio de Janeiro, como Ipanema, Copacabana e Leblon, e outros 18 municípios, tem o mais alto valor mínimo exigido, de 4,037 bilhões de reais. 

Além da “entrada”, os consórcios vencedores ainda terão que seguir uma série de obrigações, que demandará, ao todo, investimentos estimados em 29,7 bilhões de reais. Mas, apesar dos valores elevados exigidos, os ganhos esperados com as operações devem compensar -- e muito -- quem ganhar o leilão, segundo analistas de mercado e especialistas.

Os quatro blocos devem gerar retornos livres de 49,9 bilhões de reais, já considerando os gastos operacionais, com investimentos e a inadimplência, segundo o edital. O Bloco 4, que demanda o maior valor em investimentos (16,1 bilhões de reais), deve também ser o mais recompensador, com ganhos estimados em 22,3 bilhões de reais.

Segundo analistas do Credit Suisse, os níveis de custos permitiram uma faixa de margem Ebitda sustentável de 40% a 50%. Para efeitos comparativos, a margem Ebitda da Sabesp (SBSP3) foi de 36,1% em 2020 e de 41,8% em 2019. Para o banco, porém, os ganhos com as operações podem ir mais além, considerando aumento populacional e maior eficiência.

A redução dos índices de inadimplência, porém, deve ser peça-chave para os consórcios vencedores obterem bons resultados. 

Ao longo dos 35 anos de concessão, a previsão, segundo o edital, é a de que a inadimplência supere em 52,3% todo o valor previsto para investimentos em infraestrutura, ficando em 45,267 bilhões de reais. 

Com o maior retorno esperado e o volume de investimento previsto, o Bloco 4 também deve ter a maior inadimplência em relação à receita no primeiro ano, de 29,4% . Por outro lado, se espera que o novo administrador reduza a taxa para 10,8% até o 15º ano de concessão, encerrando o período com perdas totais de 16,09 bilhões de reais.

No balanço entre oportunidades de ganhos e desafios a serem superados, o certame tem atraído interesse até mesmo de empresas de fora do setor de saneamento, como a Equatorial (EQTL3).  Do ramo de energia, a companhia informou nesta semana, por meio de fato relevante, que estará na briga liderando o consórcio Redentor.

Para Edson Gonçalves, professor e pesquisador do Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura da Fundação GetUlio Vargas, o novo marco regulatório do saneamento deve permitir que ainda mais empresas de energia se interessem pelo setor.

“A tecnologia de hoje~[na área de saneamento] não é tão distante da de décadas atrás. Mas já não há tanta clareza de como vão ser as distribuidoras de energia daqui a alguns anos, com pessoas colocando painéis solares em casa. No bom sentido da palavra, o negócio da água é muito pouco inovador”, explicou.

Concorrência

Além do consórcio liderado pela Equatorial, segundo o Valor Econômico, outros três teriam se credenciado para participar do leilão. Um deles teria a participação da Sabesp, a única estatal de capital misto participante. Cotada para privatização, a empresa também participou do leilão da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) no ano passado.

Entre as três empresas estatais de saneamento básico listadas na bolsa, a Sabesp é a mais bem preparada para expandir sua área de atuação para outros estados. Ilan Arbetman, analista de saneamento da Ativa, avalia que, mesmo que a empresa consiga levar um dos blocos da Cedae, ainda deve ter poder de fogo para novos leilões.

“Como estatal, ela tem a vantagem de conseguir crédito em organismos internacionais, como o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] ou o Banco Mundial, que oferecem condições especiais de pagamento”, afirma. “Mesmo se ela for parte do consórcio vencedor, é possível que ela siga participando dos próximos pleitos.” Na véspera do leilão, as ações da Sabesp fecharam em alta de 4,36% na B3 nesta quinta, 29.

Mas, independentemente do vencedor, o leilão da Cedae deve entrar para a história como o maior já realizado no país. Para a população e especialistas do setor, a expectativa que fica é a de que o projeto traga melhorias, principalmente, na qualidade do serviço, criticado há muitos anos a começar pela população que recebe a água em casa.

“A qualidade do saneamento no Rio é muito ruim, com problema recorrente de contaminação na água. Isso para quem tem atendimento, muita gente nem ligado à rede de água e esgoto está. Com os investimentos, a expectativa é muito positiva”, afirma o pesquisador Edson Gonçalves, também morador do Rio de Janeiro. 

É uma relação ganha-ganha. Vai ser bom para as empresas para a população que hoje tem um serviço que não lhe atende”, diz o também fluminense Ilan Arbetman .

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