Silvio Berlusconi passa a mão no rosto (Georges Gobet/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2011 às 17h33.
São Paulo – O rendimento dos títulos da Itália superou esta semana os 7% e chegou a um nível considerado uma “zona de alerta”. Foi acima desse patamar que os investidores começaram a questionar se Portugal, Irlanda e Grécia precisariam de ajuda financeira para continuar a honrar os pagamentos da sua dívida.
A crise no país já deixou o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, com um pé para fora do Parlamento. O premiê venceu ontem o pleito que ratificou as contas públicas de 2010, mas faltaram 8 “sim” para que ele conquistasse um “voto de confiança” e confirmasse a sua maioria absoluta. Os candidatos ao cargo já têm se mobilizado.
Nesta manhã, a London Clearing House (LCH.Clearnet) anunciou ainda o aumento de 5% na exigência inicial de margem sobre os derivativos colaterais lastreados em títulos italianos. E para o Goldman Sachs a margem para operar com títulos italianos pode aumentar mais uma vez, em cerca de 10%.
Mas qual é o motivo para os investidores venderem os títulos italianos em um ritmo tão frenético? Andrew B. Busch, estrategista global da BMO, publicou hoje um relatório no qual ele tenta explicar esse movimento, apesar de o país estar perto de alcançar um superávit primário. Ou seja, só tem ido ao mercado para rolar a dívida, não para financiar novos gastos.
1 – Ninguém quer perdoar a dívida mais uma vez
Para Busch, a melhor explicação está nas consequências não intencionais de evitar um calote da Grécia. Em 26 outubro, o acordo anticrise fez com que os credores privados do país concordassem em perdoar 50% da dívida. O problema é que ainda assim a relação dívida-PIB da Grécia irá cair a apenas 120% em 2020.
“Pela maioria das análises, a Grécia ainda não consegue sustentar esse nível de dívida com os níveis atuais de crescimento e, portanto, irá precisar de mais um perdão. Dado o acordo público-privado, isso implica em maiores perdas para os credores privados no futuro. E isso faz com que os donos dos títulos os vendam”.
E se isso for um paradigma para a Itália, então os credores privados da dívida italiana precisam vender os títulos agora para evitar perdas maiores no futuro, analisa o economista. Além disso, há uma pressão regulatória sobre os bancos para elevar os níveis de ativos de qualidade com o aumento de capital ou pela venda de ativos, como os títulos soberanos. “Agora nós temos um quadro sombrio sobre a razão para o rendimento dos títulos italianos estar acima de 7%”.
2 – Incertezas sobre a atuação do BCE e do Fundo de Estabilidade
Infelizmente, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) não está trabalhando apesar da promessa de que ele estaria pronto para funcionar até o final do mês, destaca Busch. Isso sugere que o peso de estabilizar a situação dos títulos italianos recai sobre o Banco Central Europeu (BCE) e o programa de compra de papéis soberanos.
“Durante as próximas semanas, veremos o quanto o BCE está comprometido. Se eles recuarem, então veremos o risco de os títulos da Itália subirem a 8,5% com o euro e as ações chegando aos níveis mais baixos do ano. Eu vejo isso como um evento pouco provável, mas é um risco que está claramente subindo”, finaliza.