Impressão de dólares em Washington (Mark Wilson/Getty Images/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2012 às 09h04.
São Paulo – Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, se esforça para não mostrar preocupação com a alta do dólar frente o real. Na segunda-feira, em evento para empresários, ele disse que a queda da moeda brasileira faz parte de um movimento global do câmbio.
Em seus slides, Tombini apresentou dados que mostravam que em maio, realmente, o real não apanhou sozinho e caiu 6,1% nas primeiras semanas do mês, em linha com a cotação de outras moedas. No mesmo slide, porém, ele mostrou um período de variação mais longo, entre janeiro e abril, que apontou que apenas três moedas entre as principais caíram frente o dólar: o iene, do Japão (-3,6%), o real (-2,2%) e a rúpia indonésia (-1%).
Dados copilados pela Thomson Reuters a pedido de EXAME.com mostram como a moeda se comportou nos últimos dias. Desde o dia 2 de maio, dois dias antes das eleições gregas e francesas, até a última segunda-feira, dia 21 de maio, o real foi a moeda que, entre as principais e os pares latinos, mais perdeu valor em relação ao dólar.
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Posição | Moeda | País | 02/01/2012 | 21/05/2012 | Variação |
---|---|---|---|---|---|
1 | Real | Brasil | 1,86525 | 2,0348 | -8,33 |
2 | Peso Argentino | Argentina | 4,304 | 4,46125 | -3,52 |
3 | Rúpia | Índia | 53,105 | 54,975 | -3,40 |
4 | Iene | Japão | 76,94 | 79,35 | -3,04 |
5 | Rand | África do Sul | 8,0734 | 8,27605 | -2,45 |
6 | Euro | Zona do Euro | 0,77033 | 0,78321 | -1,64 |
7 | Won | Coréia do Sul | 1152 | 1168,95 | -1,45 |
8 | Iuan | China | 6,294 | 6,3279 | -0,54 |
9 | Peso Uruguaio | Uruguai | 19,95 | 20 | -0,25 |
10 | Libra egípcia | Egito | 6,03075 | 6,0455 | -0,24 |
11 | Hong Kong | Hong Kong | 7,7666 | 7,76495 | 0,02 |
12 | Peso mexicano | México | 13,95535 | 13,78695 | 1,22 |
13 | Libra esterlina | Inglaterra | 0,64346 | 0,63281 | 1,68 |
14 | Peso chileno | Chile | 519,45 | 506,05 | 2,65 |
15 | Peso Colombiano | Colômbia | 1938,5 | 1825,5 | 6,19 |
Fonte: Thomson Reuters Datastream
O movimento de alta do real, conforme afirmou Tombini, realmente não é exclusividade do Brasil. Mas o país reflete não só a crise que influencia a cotação das moedas pelo mundo, mas também o próprio cenário interno.
Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora, explica que a forte queda do real não significa que o país seja o mais prejudicado com a crise e observa um período mais longo para avaliar o que está acontecendo com a moeda agora.
Ela lembra que, ao longo do ano passado, muita gente falava na possibilidade do dólar voltar ao patamar de 1,50 real, pois naquele momento o país tinha condições mais sólidas e poderia atrair investidores. “Antes de a crise recrudescer, o governo já tinha mudado um pouco o rumo, lançando medidas como o IOF [aumentou para investimentos de estrangeiros] para conter o que chamava de tsunami financeiro”, lembrou Miriam.
Resultado: as medidas que já vinham sendo tomadas para valorizar o dólar, somada com o aumento nas preocupações com a crise que causa uma fuga do investidor estrangeiro em direção ao dólar, levou a cotação do real mais para baixo do que outras moedas.
Essa fuga de estrangeiros, até o dia 18, somou em maio uma retirada de 2,542 bilhões de reais da Bovespa. O montante foi resultado de compras de 38,166 bilhões de reais e vendas de 40,709 bilhões de reais.
Sidnei Nehme, economista e diretor da corretora NGO Corretora, também especializada em câmbio, concorda com a avaliação. Ele lembra que o real estava sobrevalorizado, por isso que numa comparação simples, a queda é maior que a de outras empresas. O importante é entender o porquê desta sobrevalorização.
Segundo ele, havia uma visão muito superior sobre a qualidade do Brasil e a ideia de que o país continuaria atraindo capital estrangeiro. A crise, porém, causa uma retenção da liquidez por parte dos investidores estrangeiros. “Esse investidor acaba preferindo segurança ao invés de rentabilidade e o Brasil sempre teve a rentabilidade como maior atrativo”, afirma. Conclusão: medidas para frear o real mais os fatores ‘naturais’ que vieram agora refletem em dobro sobre a moeda.
Armas
O discurso oficial do governo é de que o dólar cotado a 2 reais não preocupa. Na prática, as demonstrações são outras. No dia 18 de maio o Banco Central voltou a fazer leilão de swap, manobra tradicional para injetar liquidez no mercado futuro de dólar – o que faz com que a cotação da moeda caía. Nesta terça-feira, o BC fez duas novas operações.
“Uma possível explicação para a decisão do governo de apoiar o real pode ser a vontade de aliviar companhias que tenham dívidas denominadas em dólares e estão vendo seus resultados afetados por isso e por um aumento dos custos”, avalia Eduardo Suarez, estrategista-sênior de câmbio do Scotiabank, em relatório.
Se houver mesmo essa preocupação (ainda que ao contrário do que o discurso oficial prega), os leilões de swap são só uma ferramenta passível de ser usada. Miriam Tavares aponta como outro importante instrumento à disposição são as reservas internacionais brasileiras, que hoje estão em mais de 370 bilhões de dólares. Além disso, há também as medidas tomadas sobre o IOF, que podem ser retiradas caso o governo precise.
“Na minha visão, ainda não precisa”, pondera Miriam. Ela afirma que uma taxa razoável seria o dólar entre 1,92 real e 1,95 real.
Essas, porém, são medidas pontuais que influenciam na cotação sem que o Brasil perca sua característica principal neste assunto, de ter um câmbio flutuante.
Medidas mais definitivas para uma cotação mais equilibradas são mais profundas. Nehme, da NGO, cita uma balança comercial mais diversificada e menos dependente de commodities, e reformas mais profundas na estrutura brasileira. “Mas isso não acontece rápido”, afirma.
Sugestão parecida fez a revista The Economist nessa semana. A publicação, que já estampou em sua capa o Cristo Redentor como um foguete para representar o Brasil decolando, está mais cética sobre as condições do país.
A revista critica algumas medidas recentes do governo, diz que a presidente Dilma pode estar se acostumando com um crescimento de 4% da economia, e que isso machucará o Brasil. “Investidores vão começar a procurar mercados na América Latina – como Peru, Colômbia ou, quem sabe, o México”.
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