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Por que o mercado fica tão preocupado com o risco fiscal do Brasil?

Auxílio Brasil fora do teto derrubou bolsa e causou disparada do dólar e dos juros

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

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Beatriz Quesada

Publicado em 20 de outubro de 2021 às 08h51.

Última atualização em 20 de outubro de 2021 às 09h09.

A notícia de que o Auxílio Brasil, novo programa social do governo, pagaria parte do benefício fora do teto de gastos causou pânico no mercado. Antes do anúncio de apresentação do programa, vazaram informações na imprensa de que o benefício seria de 400 reais, com 100 desses reais sendo pagos fora do teto, causando uma despesa extra de 30 bilhões de reais.

Foi o suficiente para levar à bolsa a uma queda de 3,3% e causar uma disparada do dólar comercial, que encerrou a sessão negociado a 5,59 reais – maior patamar desde abril. Com a repercussão negativa, o governo cancelou a apresentação do programa. As preocupações, no entanto, continuam no radar.

Para explicar porque o equilíbrio fiscal é um tema tão caro ao mercado, Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital, faz uma analogia com um endividamento comum.

“Simplificando a questão, podemos imaginar que o País é como um indivíduo. Se eu pedir muitos empréstimos aos bancos e aos amigos, a minha percepção de risco fica maior e as pessoas não querem mais me emprestar dinheiro. Quando o Brasil apresenta um cenário fiscal muito desancorado – ou seja, fica muito endividado –, o País começa a pagar mais caro para rolar sua dívida”, explicou Zanlorenzi na Abertura de Mercado desta quarta-feira.

Essa ‘cobrança mais cara’ é observada na curva de juros, que começa a precificar taxas mais altas para responder a um cenário com maior risco. Após o estresse de ontem, a curva passou a precificar uma alta de 1,25 ponto percentual da taxa básica de juros da economia, a Selic, já para a decisão de política monetária da próxima semana.

Vale lembrar que o Banco Central havia indicado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que a alta da próxima reunião seria de 1 ponto percentual, mantendo o ritmo das elevações anteriores. Porém, na tarde de ontem, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk,  admitiu que o BC pode adotar uma política monetária mais contracionista (com juros mais altos) caso a questão fiscal piore no Brasil.

Outro problema para o mercado é que a agenda de reformas em Brasília tende a ficar estagnada enquanto a situação do Auxílio Brasil não é resolvida. “A angústia trava pautas e agendas que precisam avançar para destravar valor para as ações, como a reforma tributária e a própria PEC dos precatórios”, afirmou Zanlorenzi.

Para ele, o imbróglio deve continuar a dominar os holofotes mesmo com a temporada de balanços começando na sexta-feira, 22. “A agenda microeconômica, de resultados e operações entre empresas, tem feito pouquíssimo preço no mercado. A macroeconomia tem sido a grande protagonista de preço no mercado acionário do Brasil”, disse.

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