Banco Central americano: As apostas de um Fed mais brando na condução de sua política monetária ocorreu mesmo com dados da economia americana apontando para uma atividade mais forte (MANDEL NGAN/AFP via/Getty Images)
Repórter
Publicado em 29 de novembro de 2023 às 15h53.
Última atualização em 29 de novembro de 2023 às 16h01.
Investidores aumentaram ainda mais as apostas nesta quarta-feira, 29, de que o Federal Reserve (Fed) irá cortar os juros nos Estados Unidos no primeiro trimestre. Dados do CME Group apontam que o mercado aumentou em cerca de 10 pontos percentuais para 44,5% a probabilidade de corte na reunião de março. A precificação de que, até maio, o Fed já tenha feito dois cortes de juros também aumentou, de 17% para próximo de 28% de chance.
As apostas de um Fed mais brando na condução de sua política monetária ocorreu mesmo com dados da economia americana apontando para uma atividade mais forte. O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre foi revisado nesta quarta de 4,9% para 5,2% de alta.
O PIB mais forte foi puxado por revisões para cima em investimento fixo não residencial e gastos do governo. Os gastos com consumo, por outro lado, foram revisados para baixo.
Também foram revisados para baixo os números do Índice de Preço sobre Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), que saiu de 2,9% para 2,8% no terceiro trimestre. Considerado uma das principais balizas das políticas do Fed, o núcleo do PCE foi revisado de 2,4% para 2,3% de alta.
Andressa Durão, economista da ASA Investments, avalia a revisão dos dados nesta quarta aumenta a expectativa do mercado para o início dos cortes de juros. "O PCE mais baixo e a revisão para baixo do consumo estão em linha."
Dados cheios da inflação americana também tem demonstrado alguma desaceleração. Inclusive, Sinais positivos dos índices de Preço ao Consumo (CPI, em inglês) e ao Produtor (PPI, em inglês) que saíram no início de novembro foram uma das peças-chave na reprecificação dos juros americanos e no consequente rali das bolsas globais. O CPI, que chegou a 9,1% no ano passado, está em 3,2% e o PPI, em 1,3%.
Outro fator que, segundo Durão, tem aumentado as apostas em cortes de juros mais cedo são as falas dos próprios membros do Fed, que vem indicando que já não há mais espaço para altas de juros. "Até esperávamos que o Fed voltasse a subir juros, porque a atividade ainda está muito forte. É o que, em nossa opinião, deveria ser feito. Mas não parece haver disposição no Fed para isso", comentou a economista da ASA.
Um dos divisores de água nesse sentido foi a fala do diretor do Fed Christopher Waller, que afirmou na véspera estar "cada vez mais confiante que a atual política está bem posicionada para desacelerar a economia e colocar a inflação de volta em 2%". Outros membros do Fed vinham dando sinais semelhantes, mas, por Waller ser considerado mais afeito a uma política mais contracionista, a fala teve um peso ainda maior sobre o preço dos ativos.
"A informação nova é que um diretor hawkish trouxe uma visão diferente do que ele tipicamente fala ao público, o que pode mudar em última instancia, uma mudança de postura do próprio FOMC [o comitê de política monetária do Fed]", escreveram analistas da Guide Investimentos.
A tese de que o Fed cortará os juros já em março do próximo ano, embora tenha ganhado força, ainda é vista com alguma desconfiança por parte do mercado. Quem, recentemente, defendeu com mais veemência os cortes de juros em março foi o famoso investidor Bill Ackman.
"Acredito que o Fed cortará os juros antes do que as pessoas esperam. A taxa de juro real continua aumentando, conforme a inflação cai. Há um risco de 'hard-landing' se o Fed não começar a cortar os juros mais cedo. O mercado espera cortes mais para o meio do ano. Mas acredito que provavelmente virá ainda no primeiro trimestre", afirmou Ackman em entrevista à Bloomberg TV.