Fed: os juros do mercado monetário dispararam na tarde de segunda, chegando a 10% em alguns casos (Mario Tama/Getty Images)
AFP
Publicado em 19 de setembro de 2019 às 16h57.
Pela primeira vez em mais de uma década, o banco central dos Estados Unidos fez intervenções, nesta semana, nos mercados monetários, ou "money markets", para manter as taxas de juros a curto prazo.
O Federal Reserve (Fed) de Nova York injetou dinheiro de emergência no mercado monetário na terça, na quarta e nesta quinta, diante da redução da liquidez - ou seja, falta de dinheiro em circulação.
Essa situação leva a uma alta dos empréstimos que os bancos pegam para manter o volume de suas reservas no banco central.
As instituições financeiras e as empresas utilizam o mercado monetário para emprestar ou pedir empréstimos de curto prazo, de um dia a um ano. Eles são uma ferramenta crucial para manter as engrenagens da economia funcionando.
Nos chamados acordos de recompra, ou "repos", os bancos pedem dinheiro emprestado contra bens como títulos do Tesouro como garantia e em seguida devolve os empréstimos com juros no dia seguinte.
Desta forma, eles podem recarregar o dinheiro que as instituições mantêm no banco central quando essas reservas ficam abaixo do mínimo exigido pelo Fed.
As taxas de juros no "money market", em geral, ficam perto da meta determinada pelo Fed para a taxa de fundos federais - referência para as taxas de empréstimos e que tem influência no custo dos empréstimos na economia global.
Os juros do mercado monetário dispararam na tarde de segunda, chegando a 10% em alguns casos, algo que surpreendeu os operadores.
Analistas atribuem a súbita demanda à soma e à convergência de condições técnicas que levaram a uma drenagem do dinheiro do sistema.
Entre esses fatores está a data de vencimento do pagamento de impostos corporativos - que levou ao saque de grandes valores - e a emissão de dívidas do Tesouro para financiar o déficit do governo federal.
"Parece que muito dinheiro saiu do sistema nos últimos dias e que a demanda por dólares foi maior que o número de dólares em circulação", disse Gregori Volokhine, da empresa Meeshaert Financial Services.
Para reduzir os juros, o Fed de Nova York injetou US$ 53 bilhões nesta terça-feira, US$ 75 bilhões nesta quarta-feira e outros US$ 75 bilhões nesta quinta-feira.
Os investidores se questionam se o salto repentino nos juros foi apenas uma falha técnica, ou um sinal de um problema mais grave no sistema financeiro.
A situação despertou lembranças dolorosas da crise financeira de 2008, quando o mercado de créditos ficou parado pelo temor dos bancos de que os mutuários quebrassem antes de devolver o dinheiro que tinham pedido.
Contudo, após revelar um novo corte na taxa básica de juros na quarta, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse à imprensa que a falta de liquidez não era uma preocupação para o resto da economia.
"Embora esses assuntos sejam importantes para o funcionamento do mercado e seus participantes, não têm implicações para a economia ou para a política monetária", explicou.