Dólar forte: moeda americana tem sido a grande vencedora do ano ( gesrey/Getty Images)
Repórter
Publicado em 10 de junho de 2024 às 15h57.
Última atualização em 17 de junho de 2024 às 13h40.
Nem o euro, nem o iene e muito menos o real. Nenhuma das principais moedas do mundo tem ganhado do dólar. Esse movimento é capturado pelo índice DXY, que mede a variação da moeda americana contra uma cesta de divisas desenvolvidas. A alta no ano é de 3,6%.
Poucos ativos são expostos a tantas variáveis do mercado como o dólar. Mas, no momento, quase todas apontam para um preço mais alto. Uma das forças mais relevantes nessa equação são os juros americanos de curto e longo prazo, que se encontram nos patamares mais altos do século. Esses juros têm influência direta sobre os rendimentos dos títulos do Tesouro americano. Como qualquer outro ativo, quanto maior o retorno, maior é a demanda. Só que no caso dos títulos americanos, por serem considerados os mais seguros do mundo, a alta do rendimento gera um efeito dominó no mercado.
Os juros altos nos Estados Unidos são justificados pela necessidade de trazer a inflação de volta para a meta de 2%, após um breve (e intenso) descontrole de preços após a pandemia. Os juros do Federal Reserve (Fed) estão no patamar mais alto do século, entre 5,25% e 5,5%, há quase um ano. Esse patamar de juros, por si só, já joga a favor do dólar, mas é no relativo onde os revelam sua face mais perversa. Isso porque o nível de juros coloca o dólar numa posição de carrego positivo em relação a moedas de uma série de países, como o Canadá, Reino Unido, Japão e o euro.
Esse carrego é levado em consideração por traders de câmbio, que tomam dinheiro em economias com juros mais baixos e aplicam em países com juros mais altos. Nesse caso, por exemplo, seria vantajoso ficar comprado em dólar e vendido em euro, mesmo que seus preços se mantenham estáveis. E essa vantagem em ficar comprado em dólar tem ficado ainda maior, conforme bancos centrais do mundo inteiro reduzem suas taxas de juros.
O início dos cortes de juros nos Estados Unidos poderia ajudar o dólar a perder força. Mas economistas têm ficado cada vez mais pessimistas nesse sentido, diante de dados surpreendentemente fortes da economia americana. O susto mais recente foi na última sexta-feira, 7, quando os números do payroll indicaram um mercado de trabalho muito mais aquecido do que se esperava e com maior pressão salarial. Os dados, inclusive, colocaram em xeque o esperado início do ciclo da queda de juros em setembro, com investidores precificando uma alta probabilidade de não haver cortes neste ano.
"Outro relatório muito forte sobre o emprego lançou ainda mais dúvidas sobre a perspectiva de cortes nas taxas de juros este ano. Acreditamos em corte em setembro, mas ainda precisamos de evidência de uma maior folga no mercado de trabalho", afirma em nota James Knightley, economista-chefe de economia externa do banco ING.
Essa força da atividade americana também tem ajudado a impulsionar o dólar e a mantê-lo em patamar elevado, segundo Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú. O economista apontou em relatório que o pico do dólar coincide com períodos de "excepcionalismo americano", caracterizado por uma economia mais forte nos Estados Unidos em relação a outras regiões. É justamente nesse período em que estaríamos, defende Mesquita.
Especialistas também apontam que além do juro alto, a atividade mais forte nos Estados Unidos estaria ajudando a fortalecer a economia americana. No primeiro trimestre, a economia americana vinha rodando com um crescimento anual de 1,3%, enquanto a europeia, a 0,3%, a britânica, em 0,2% e a japonesa, numa retração de 1,8%. No Japão, inclusive, onde seu banco central tem mantido políticas expansionistas, o dólar já subiu próximo de 11% desde o início do ano — variação próxima à registrada pela moeda americana no Brasil.
A valorização do dólar no Brasil colocaria a moeda como uma opção de investimento melhor que o CDI, que acumula retorno de 4,6% no ano. Além do menor diferencial de juros, com as constantes reduções da Selic pelo Banco Central, pesa sobre o cenário interno as incertezas fiscais e a nova composição do Comitê de Política Monetária, em que os indicados pelo atual governo passarão a formar maioria. O medo é de que o Copom passe a adotar políticas de juros mais frouxas e, com isso, gere mais riscos inflacionários e depreciação do câmbio.
Diante desse cenário, economistas vêm revisando suas projeções de dólar para cima. No boletim Focus desta segunda, 10, o consenso para o dólar do ano que vem passou de R$ 5,05 para R$ 5,09. Mas parte do mercado vê a moeda ainda mais valorizada no ano que vem, como o Itaú, que projeta o dólar a R$ 5,25. A projeção é levemente abaixo do preço em que a moeda é negociada no início desta semana, perto de R$ 5,38. O patamar é o mais alto desde janeiro de 2023 e, caso persista, deverá alimentar ainda mais o pessimismo com o câmbio.