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Por que o azul do Facebook ficou vermelho para o mercado financeiro

Erros na Nasdaq, manobra do controlador para ter mais ações e até estimativas secretas mancharam a imagem de uma das maiores operações em anos

Muitos investidores não curtiram as práticas do Facebook durante seu IPO (Beatriz Blanco)

Muitos investidores não curtiram as práticas do Facebook durante seu IPO (Beatriz Blanco)

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Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2012 às 17h05.

São Paulo – A bastante aguardada venda de ações (FB) da maior rede social do mundo foi, aparentemente, um sucesso. Os investidores que participaram do IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações), contudo, já começam a duvidar que tenham feito um bom negócio. E pior, a desconfiar que talvez possam ter sido enganados.

A empresa controlada por Mark Zuckerberg captou 16 bilhões de dólares e entrou em três rankings: maior IPO de uma empresa de internet, terceiro maior já realizado no mercado americano e sétimo maior da história. A arrecadação superou todos realizados nos EUA no ano, que, somados, alcançaram 12 bilhões de dólares, segundo dados da Thomson Reuters.

Imaturo?

Zuckerberg começou a irritar alguns investidores ao dar sinais de imaturidade, segundo alguns deles, durante os encontros realizados para angariar interessados nas ações. O analista Michael Pachter, da casa de análise Webdush – uma das primeiras a avaliar papéis de redes sociais -, disse que a postura do CEO nas reuniões mostra que ele não liga muito para os investidores. 

A reação acontece porque o jovem executivo de 28 anos compareceu aos encontros vestindo um agasalho com um capuz. É uma vestimenta pouco usual para reuniões com os maiores gestores de recursos e investidores do mundo, ainda mais quando o objetivo é convencê-los a gastar milhões de dólares em sua empresa.

“Ele precisa mostrar o respeito que eles merecem porque ele está pedindo o dinheiro deles”, ressaltou Pachter em uma entrevista à Bloomberg. “Não estou certo de que ele é a pessoa certa para conduzir uma empresa e para responder aos acionistas”, opina. Esse, contudo, não foi o primeiro fato a por em xeque a reputação do Facebook.

Nada imaturo

Vestir um agasalho com um capuz não muda a capacidade intelectual de ninguém, como deixou claro Zuckerberg em toda sua carreira. E, muito menos, é um sinal de ingenuidade. Alguns termos do IPO desenhado por ele escaparam a algumas regras vistas como as de governança corporativa elevada e avançada.


Isso porque o capital do Facebook passou a ter dois tipos de ações. Os papéis de classe A, vendidos ao público, possuem o direito a apenas um voto. Enquanto isso, os de classe B, detidos por Zuckerberg, têm direito a dez votos. Ou seja, ele consegue mandar mais apesar de possuir menos ações.

“O Facebook não entraria no Novo Mercado [nível mais elevado de governança corporativa da Bovespa] brasileiro. Não é que vá necessariamente acontecer algo errado, mas é importante saber que existe essa distorção”, ressalta Eliane Lustosa, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Para alguns assuntos específicos, chegamos à conclusão de que ele poderia com menos de 10% do capital ter controle da companhia”, afirma.

Assimetria

Mesmo após aguentar um erro de 30 minutos na Nasdaq logo na estreia, quem comprou as ações ficou ainda mais indignado com uma notícia publicada hoje pela agência de notícias Reuters. Segundo o repórter Alistair Barr, o coordenador líder do IPO, o banco Morgan Stanley, cortou as estimativas de receitas para a empresa durante o processo de coleta de intenções de investimentos.

O analista de internet do banco, Scott Devitt, pegou de surpresa vários investidores que receberam a nova análise. A súbita cautela a poucos dias da oferta foi um grande choque para alguns, disseram dois investidores que tiveram acesso aos dados revisados. Segundo eles, o fato pode ter ajudado na forte queda de 13% das ações na segunda-feira.

A mudança nas projeções veio após uma atualização do prospecto do Facebook no dia 9 de maio em que trazia preocupações com o ritmo de crescimento das receitas devido ao rápido crescimento de usuários em celulares. A publicidade móvel ainda é menos lucrativa que a realizada em computadores pessoais. “Isso foi feito durante um roadshow – Nunca vi isso em 10 anos”, disse outra fonte que recebeu o aviso do Morgan Stanley. Os outros bancos coordenadores JPMorgan e Goldman Sachs também reduziram o entusiasmo em suas estimativas.

Ou seja, se os números assustaram alguns dos maios importantes clientes dos bancos, quais efeitos surtiriam no público em geral, caso esse tivesse acesso às informações com antecedência? Não se sabe ainda se o Facebook deu um aviso especial aos analistas sobre a mudança nas projeções, para que então os bancos enviassem o alerta para os seus clientes mais queridos, o que seria ilegal. Ainda assim, o envio dos relatórios, apesar de dentro da lei, durante o roadshow é muito incomum e ajudou a manchar um pouco mais de vermelho o azul do Facebook.

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