Luís Stuhlberger,sócio-fundador da Verde: títulos incentivados são uma jabuticaba brasileira (Germano Lüders/Exame)
Repórter
Publicado em 30 de janeiro de 2024 às 19h08.
Última atualização em 30 de janeiro de 2024 às 19h13.
Quem tivesse colocado R$ 10.000 em investimentos na Verde Asset em 1997, ano de sua criação, teria hoje R$ 2,455 milhões, enquanto 100% do CDI teria rendido algo próximo de R$ 300.000. A invejável rentabilidade tornou a gestora uma referência no mercado brasileiro e seu sócio-fundador, Luís Stuhlberger, uma autoridade entre seus pares.
Mas ainda que o fundo permaneça o mesmo, algumas estratégias foram aprimoradas ao longo das décadas de gestão. Uma das mais relevantes, contou Stuhlberger em evento do UBS nesta terça-feira, 30, foi a redução pela metade da alocação em ações.
Stuhlberger contou que, até a era Dilma Rousseff, sua carteira de ações representava 30% do fundo. Mas esse percentual foi reduzido pela metade e, hoje, está entre 14% e 15%. A mudança, afirmou, foi estrutural e necessária para incluir mais ativos de crédito ao portfólio.
"A bolsa sempre tem potencial [de retorno] maior, mas também traz muito mais volatilidade ao fundo que o crédito", afirma Stuhlberger. O objetivo, disse, é conseguir retornos mais estáveis, perto de 5% ou 6% acima do CDI.
A posição atual da Verde crédito é próxima de 15%, que, segundo Stuhlberger, foi possível graças ao amadurecimento desse mercado, com maior variedade de papéis e volume de negociação. O gestor, no entanto, afirma que "não pretende e nem pode ter" uma posição maior em crédito .
"É uma posição que tem uma liquidez menor do que as outras, que são muito rápidas [de vender]. Para um fundo com [período de resgate] de D+60, 15% é um limite de risco. Os fundos, assim como toda a indústria, sofreu resgates grandes nos últimos anos e conseguimos ajustar as posições.",
Os fundos multimercados sofreram R$ 131 bilhões de resgates líquidos em 2023, mais do que os R$ 87 bilhões retirados no ano anterior. Uma das explicações foi a performance da classe de fundos, que, na mediana, ficou bem abaixo do retorno do CDI. A má performance de seus pares, disse Stuhlberger, puxou parte dos resgates de seus fundos.
"Eu sou Palmeirense e, naturalmente, odeio o Corinthians, Santos e São Paulo. Mas no mercado de gestão não posso torcer contra meus concorrentes, porque, se vão mal, o cliente resgata da indústria inteira."
Mas, outro fator tem puxado ainda mais os resgates, na avaliação de Stuhlberger: os títulos incentivados. "O principal problema, de longe, é a competição com os títulos incentivados. É mais uma das jabuticabas brasileiras. E, quando pensa que vai acabar, aumenta. Agora, outros setores poderão emitir debêntures incentivadas, como o de educação."
Os investidores de varejo e private aumentaram em cerca de 10% para próximo de R$ 90 bilhões os investimentos em debêntures incentivadas no ano passado, enquanto reduziram as alocações em fundos reduziram em R$ 54 bilhões os investimentos em fundos.
Apesar das "jabuticabas" e de uma percepção mais cautelosa para o fiscal no longo prazo, Stuhlberger se considera "moderadamente otimista" com o Brasil. A bolsa, segundo ele, já não está mais tão barata como antes do rali de fim do ano passado, mas ainda há oportunidades. "Não diria para ter uma exposição total ao Brasil, mas uma cesta com diversificação de ativos pode fazer sentido."
Para a moeda, ao menos, a perspectiva é mais otimista. Mas mais por um fator global. A Verde, disse, está montada em moedas emergentes, como rúpia indiana, peso mexicano e, claro, o real. Na ponta vendida, estão moedas como o euro e o dólar. Parte da tese deriva da perspectiva de quedas de juros nos Estados Unidos e Europa. "Será muito bom para os mercados emergentes"