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Por que as ações da Nissan estão com a menor performance em 50 anos

Makoto Uchida, CEO da montadora, está no centro das atenções negativas em meio a uma série de desafios internos e externos

Ações da Nissan apresentam o pior desempenho em cinco décadas, refletindo desafios na gestão e no mercado automotivo global. (Kim Kyung-Hoon/Reuters)

Ações da Nissan apresentam o pior desempenho em cinco décadas, refletindo desafios na gestão e no mercado automotivo global. (Kim Kyung-Hoon/Reuters)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 06h34.

O desempenho da Nissan sob a liderança de Makoto Uchida atingiu níveis historicamente baixos, colocando o CEO no centro das atenções negativas em meio a uma série de desafios internos e externos. Desde que Uchida assumiu o comando em dezembro de 2019, as ações da montadora japonesa registraram uma queda de 47%, o pior desempenho entre todos os presidentes da empresa desde 1974, de acordo com dados da Bloomberg.

Além disso, os papéis da Nissan apresentaram uma diferença de mais de 170 pontos em relação ao índice global MSCI World Automobiles, demonstrando a dificuldade da empresa em acompanhar o mercado global durante a gestão de Uchida.

Comparativo de desempenho por presidência

Uma análise histórica do desempenho das ações da Nissan em comparação ao índice Topix destaca a magnitude da crise atual:

Presidente (Mandato)NissanÍndice Topix
Makoto Uchida (Dez. 2019-Presente)-47%58%
Hiroto Saikawa (Abr. 2017-Nov. 2019)-37%12%
Carlos Ghosn (Jun. 2000-Mar. 2017)98%-1%
Yoshikazu Hanawa (Jun. 1996-Jun. 2000)-44%-11%
Yoshifumi Tsuji (Jun. 1992-Jun. 1996)54%25%
Yutaka Kume (Jun. 1985-Jun. 1992)-3%34%
Takashi Ishihara (Jun. 1977-Jun. 1985)-12%171%

Gestão sob pressão

Desde a sua nomeação, Uchida enfrentou obstáculos significativos, incluindo o impacto duradouro da prisão e fuga do ex-CEO Carlos Ghosn, além do aumento da competição de montadoras chinesas de veículos elétricos (EVs). No entanto, analistas apontam para problemas internos como um dos principais fatores que contribuíram para a queda da empresa.

Um dos desafios centrais inclui uma linha de produtos considerada desatualizada e uma lenta adaptação às demandas do mercado por veículos híbridos nos Estados Unidos. Essas questões resultaram em vendas reduzidas, lucros em declínio e um preço por ação inferior ao valor contábil da empresa, colocando a Nissan entre as companhias com pior desempenho no índice das 500 maiores listadas no Japão.

Medidas de contenção e reestruturação

Para lidar com a crise, Uchida anunciou cortes de custos, incluindo redução de empregos e capacidade de produção. No entanto, especialistas consideram essas medidas uma repetição do plano "Nissan NEXT" de 2020, que teve impacto limitado na recuperação da montadora.

A saída de executivos de alto escalão também agrava a situação. Após a saída do diretor de operações Ashwani Gupta no ano passado, o diretor financeiro Stephen Ma também anunciou sua saída, deixando Uchida como o único membro da alta gestão executiva da empresa.

Embora a gestão de Carlos Ghosn tenha sido marcada por um aumento de 98% no valor das ações durante seus 17 anos no comando, especialistas apontam que a busca por crescimento de mercado sob sua liderança comprometeu a qualidade e as margens, criando desafios que ainda afetam a Nissan.

Adicionalmente, a pressão crescente para acelerar a produção de EVs e a forte competição das fabricantes chinesas representam desafios significativos que os antecessores de Uchida não enfrentaram. Com uma perspectiva negativa divulgada recentemente pelas agências de classificação Moody’s e Fitch, além de pressões de acionistas ativistas, o futuro da Nissan parece cada vez mais incerto. Analistas sugerem que uma reformulação da gestão pode ser essencial para reverter os problemas estruturais da montadora.

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