Empresa informou ao mercado inconsistências contábeis no valor de mais de R$ 20 bilhões (Leandro Fonseca/Exame)
Publicado em 27 de junho de 2024 às 07h52.
Última atualização em 27 de junho de 2024 às 10h51.
A Polícia Federal cumpre na manhã desta quinta, 27, junto com o Ministério Público Federal, mandados de busca e apreensão contra ex-diretores e pessoas ligadas a Americanas. A Operação Disclosure foi autorizada pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Os ex-CEO Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Christina Ramos já são considerados foragidos. Eles estão fora do Brasil e seus nomes serão incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo.
São dois mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão nas residências dos ex-diretores das Americanas no Rio de Janeiro. A Justiça Federal também determinou o bloqueio de bens e valores destes ex-diretores, totalizando R$ 500 milhões.
A operação foi batizada de "disclosure" porque o termo é usado no mercado financeiro para divulgação de informações para dar transparência à situação de uma empresa.
Entre os alvos da PF, além do ex-CEO Miguel Gutierrez e de Anna Christina Ramos, estão os executivos Anna Christina da Silva Sotero, Carlos Eduardo Padilha, Fabien Picavet, Fabio Abrate, Jean Pierre Ferreira, João Guerra Duarte Neto, José Timotheo de Barros, Luiz Augusto Henriques, Marcio Cruz Meirelles, Maria Chirstina Do Nascimento, Murilo dos Santos Correa e Raoni Lapagesse Franco também estão na mira da operação policial.
São investigados os crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada e associação criminosa. As penas para esses tipos de crimes podem chegar a 26 anos de reclusão.O rombo nas contas da Americanas foi revelado no início de 2023, quando a empresa informou ao mercado inconsistências contábeis no valor de mais de R$ 20 bilhões, o que levou a varejista a um processo de recuperação judicial. O escândal levou à renúncia do então CEO Sergio Rial, que havia assumido o posto dias antes do rombo ser divulgado, e do principal executivo de finanças, André Covre.
Segundo as investigações, os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, o que significa que a varejista antecipou o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.
Além disso, foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que são incentivos comerciais comumente utilizados no setor. Mas, no caso, eram contabilizadas verbas que nunca existiram.
A investigação revelou também indícios da prática do crime de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada (conhecido como "insider trading”), associação criminosa e lavagem de dinheiro.