São Paulo - Para ter uma ideia de como as coisas estão mal no Brasil, considere o seguinte: nos dois primeiros meses deste ano, 27 companhias tiveram seus ratings rebaixados no país.
O número de upgrades? Zero.
A contagem demonstra como a debilitada economia brasileira e o escândalo da Operação Lava Jato, que atinge a Petrobras e lhe tirou o título de grau de investimento, estão afetando a nota de crédito das empresas. De produtoras de commodities a construtoras, praticamente nenhum segmento foi poupado.
A última vez que o Brasil sofreu uma onda de cortes de rating assim foi em 1999, quando o país estava à beira do calote.
“Esse é um momento único em termos de debilidade e finanças frágeis para as companhias brasileiras, e os escândalos envolvendo a Petrobras se somam às preocupações macroeconômicas”, disse Joe Bormann, diretor-executivo de finanças corporativas para a América Latina da Fitch Ratings, em entrevista de Chicago. “Esperamos que os downgrades ultrapassem os upgrades em um porcentual recorde neste ano. As perspectivas definitivamente não são boas”.
Na terça-feira, a Moody’s Investors Service cortou o rating da Petrobras para Ba2, ou dois níveis abaixo do grau de investimento, segundo comunicado da agência de classificação.
A produtora de petróleo estatal ainda não conseguiu medir o tamanho das perdas causadas por negócios fechados com fornecedores que teriam pago subornos em troca de contratos.
A Fitch e a Standard Poor’s classificam a empresa em seus níveis mais baixos de grau de investimento.
‘Preocupação crescente’
O corte no rating “reflete a preocupação crescente em relação às investigações de corrupção e às pressões sobre a liquidez”, disse Nymia de Almeida, analista da Moody’s, no comunicado.
Há, possivelmente, mais problemas no caminho da Petrobras, pois a Moody’s disse que os ratings da empresa continuam em observação para outro rebaixamento.
Das 82 empresas brasileiras classificadas pela Fitch, 21 têm perspectivas negativas para suas notas, disse Bormann.
O ciclo de cortes de ratings ajudou a elevar os custos de captação das companhias brasileiras, com os rendimentos dos títulos denominados em dólar subindo 0,5 ponto porcentual neste ano, para 7,6 por cento, segundo o JPMorgan Chase Co.
O aumento contrasta com uma queda média de 0,04 ponto porcentual no custo médio da dívida corporativa dos países em desenvolvimento.
Em um sinal de que as perspectivas para a economia do Brasil estão piorando, os analistas participantes da pesquisa Focus, do Banco Central, preveem agora que o produto interno bruto do país encolherá 0,5 por cento neste ano.
Esta seria a maior contração desde que a economia do país encolheu 4,2 por cento em 1990, segundo dados compilados pelo Fundo Monetário Internacional.
Construtoras como a OAS SA e a Andrade Gutierrez SA tiveram seus ratings reduzidos após serem implicadas na investigação de corrupção na Petrobras.
Produtoras de açúcar, como a Grupo Virgolino de Oliveira SA, e empresas como a Vale SA, a maior produtora de minério de ferro do mundo, também sofreram rebaixamentos.
‘Cenário ruim’
Os cortes de rating deste ano contrastam com os 46 que ocorreram no mesmo período em 1999, quando a nota soberana do Brasil foi reduzida para quatro níveis abaixo de junk pela Standard Poor’s em um momento em que a crise na Rússia levava os investidores a retirarem dinheiro dos mercados emergentes.
O real mergulhou 32,8 por cento naquele ano, ajudando a levar a inflação a 8,9 por cento.
“Agora o Brasil é um país completamente diferente, muito mais integrado aos mercados internacionais”, disse Marcelo Lima, gerente de negociação de renda fixa da INTL FCStone Securities Inc., de Miami. “Nós reconhecemos que as razões para um cenário tão ruim são muito mais internas que externas”.
O Brasil, em si, corre o risco de ter seus ratings de dívida rebaixados. A Moody’s colocou o Brasil sob uma perspectiva negativa em setembro, seis meses depois que a Standard Poor’s rebaixou a nota do país para o nível mais baixo dentro do grau de investimento.
Um novo rebaixamento pode provocar reduções nas notas de empresas estatais, bancos e concessionárias de serviços públicos, entre outras.
“Eu não acho que a tendência dos rebaixamentos está perto de acabar”, disse Lima, da FCStone.
“O cenário é ruim e não deverá melhorar tão cedo”.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)