Ministro Mantega ironizou a previsão do Credit Suisse de que o crescimento da economia desacelere para 1,5% (Marcello Casal Jr/ABr)
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2012 às 08h26.
Brasília/São Paulo - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ironizou a previsão do Credit Suisse Group AG, feita em 20 de junho de que o crescimento da economia desacelere para 1,5 por cento este ano. Um relatório de inflação no dia seguinte mostrou que a atividade econômica continua fraca, alimentando dúvidas sobre a estimativa de Mantega de um crescimento de mais de 2,7 por cento.
Os preços ao consumidor tiveram alta de 0,18 por cento até a metade de junho, menos que todas as estimativas em pesquisa Bloomberg com 42 analistas. O número reduz a inflação acumulada em 12 meses pelo nono mês consecutivo. A taxa implícita de inflação, medida pela diferença entre os rendimentos das Notas do Tesouro Nacional série B com vencimento em 2014 e os contratos de juros futuros de prazo similar, caiu 58 pontos-base no mês passado, para 4,75 pontos porcentuais. No México, a taxa subiu 77 pontos-base.
Os esforços do governo Dilma Rousseff para proteger o País da desaceleração global não tem convencido os analistas de que a economia vá deslanchar este ano. Mantega reduziu no mês passado sua estimativa inicial de crescimento do PIB, que era de 4,5 por cento, e os economistas consultados pelo Banco Central cortaram suas projeções para 2,3 por cento. Mantega disse a repórteres no Rio de Janeiro que a projeção do Credit Suisse era uma “piada” e que a economia “vai crescer muito mais.”
“Entre o cenário de crescimento do mercado e o do ministro da Fazenda, o de mercado parece mais coerente dado os indicadores econômicos recentes”, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimento que prevê crescimento de 2,3 por cento, em entrevista por telefone de São Paulo. “Mantega cometeu ontem pelo menos um erro estratégico ao afirmar, de maneira bastante deselegante, que a projeção de PIB de 1,5 por cento de um instituição financeira era uma piada. O ministro deve ter se esquecido que projeções para 2012 em torno de 4 por cento podem ser consideradas tão engraçadas quanto.”
Perspectiva de juros
Em comunicado enviado por e-mail, o Ministério da Fazenda se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2014, o mais negociado na bolsa paulista, caiu 3 pontos-base, ou 0,03 ponto percentual, para 8,05 por cento, após a divulgação do relatório do IPCA-15 ontem, com as apostas de que o BC vai baixar o juro básico para pelo menos 7,75 por cento.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, reduziu a taxa Selic em 4 pontos percentuais desde agosto, no maior corte feito entre o Grupo dos 20. A Selic está no menor nível histórico de 8,5 por cento. O governo também cortou impostos sobre bens de consumo e industriais e aumentou os empréstimos de baixo custo pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para estimular o crescimento, que se desacelerou de 7,5 por cento em 2010 para 2,7 por cento no ano passado.
"Baixa probabilidade"
Analistas do Credit Suisse, liderados por Nilson Teixeira, afirmaram em relatório que o banco sediado em Zurique reduziu sua projeção de crescimento de 2 por cento anteriormente, por causa da desaceleração do investimento e da fraqueza da produção industrial. A produção teve queda de 0,22 por cento em abril, depois de se retrair 0,52 por cento em março.
“A incerteza global elevada e a baixa probabilidade que atribuímos a uma expansão significativa da economia nos próximos trimestre justificam o corte em nossa previsão de crescimento”, escreveram no relatório os analistas do Credit Suisse.
Em comunicado enviado por e-mail, o Credit Suisse não quis fazer comentários.
A variação acumulada pelo IPCA-15 em 12 meses recuou para 5 por cento, a menor desde setembro de 2010.
O resultado “abre espaço para mais cortes de juros”, disse Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, em entrevista por telefone de São Paulo. O BC “está preocupado com a atividade econômica e está vendo que os sinais de recuperação econômica estão mais fracos do que o esperado”, disse ele.
Em comunicado enviado por e-mail, o BC não quis fazer comentários.
Retomada do crescimento
O crescimento econômico vai se acelerar no segundo semestre, à medida que o desemprego no menor nível histórico impulsiona a demanda doméstica e leva empresas a aumentarem o investimento, disse Tombini em 19 de junho. A taxa de desemprego caiu para 5,8 por cento em maio, menor nível em registro para o mês, de acordo com outro relatório divulgado ontem pelo IBGE. A estimativa mediana de 35 analistas sondados pela Bloomberg era de que o desemprego permaneceria em 6 por cento.
O Produto Interno Bruto vai se expandir 4,5 por cento no primeiro trimestre de 2013 em relação a um ano antes, que seria o ritmo mais forte desde os três últimos meses de 2010, disse Tombini. O PIB vai crescer 4,25 por cento no ano que vem, segundo a estimativa na última pesquisa Focus do BC.
Para Pedro Tuesta, economista sênior para América Latina da 4Cast Inc., as medidas do governo vão ajudar na retomada da economia no segundo semestre. O governo informou em 1º de junho que a economia cresceu 0,2 por cento no primeiro trimestre, menos da metade do ritmo previsto por analistas numa pesquisa da Bloomberg.
“O primeiro trimestre foi fraco e o terceiro e quarto trimestres serão mais fortes com o impacto das medidas do governo e por causa do que nós chamamos de retomada estatística”, disse Tuesta em entrevista por telefone de Nova York. “A demanda ainda está forte. Não ousaríamos falar em crescimento de 1,5 por cento, mas vemos 2 por cento, com risco de queda para 1,8 por cento.”