Após atingirem o pico de 5,11 reais em julho, os papéis são negociados atualmente em torno dos 53 centavos, uma desvalorização de quase 90% (DIVULGACAO)
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2011 às 00h06.
São Paulo – A Polícia Federal e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que regula e fiscaliza o mercado de capitais no Brasil, anunciaram nesta quarta-feira à noite uma operação para buscar e apreender provas para investigar as recentes oscilações de preço e volume das ações de emissão da Mundial (MNDL3; MNDL4), fabricante de produtos de beleza, talheres e válvulas hidráulicas. As buscas devem ocorrer em Porto Alegre (RS), cidade onde fica a sede da empresa.
A matéria “Os federais vêm aí” da edição 1000 de EXAME que está nas bancas já antecipava que a Polícia Federal tinha começado a investigar crimes ligados ao mercado de capitais e o primeiro caso é justamente a suposta manipulação das ações da Mundial. As investigações em curso visam a apurar possível manipulação do mercado de capitais, que uma vez confirmada, gera prejuízos não apenas para a companhia aberta envolvida, mas também para a coletividade de investidores e para a sociedade em geral”, mostra um comunicado publicado no site da autarquia.
A análise da CVM sobre a movimentação atípica dos papéis começou em agosto do ano passado, porém se intensificou a partir de abril, conforme antecipou EXAME.com. “Estamos preocupados com a possibilidade de manipulação”, disse o Superintendente de Relações com o Mercado e Intermediários, Waldir de Jesus Nobre, à época. As medidas adotadas hoje são um "poderoso fator de desestímulo à prática de ilícitos contra o mercado de capitais", afirma um trecho da nota.
Após o anúncio das investigações, o diretor-presidente da empresa, Michael Lenn Ceitlin, disse em uma nota que uma “pseudo-denúncia sobre insider trading” estava por trás da queda das ações da Mundial. Após atingirem o pico de 5,11 reais em julho, os papéis são negociados a 53 centavos, uma desvalorização de quase 90%. Segundo ele, a apuração e o rastreamento da origem da denúncia deverão identificar aqueles que se aproveitaram “para lucrar com as bruscas oscilações nos preços das ações da companhia”.
Histórico
A fabricante de bens de consumo reapareceu para o mercado após concluir, no final do ano passado, o plano de reestruturação da empresa iniciado em 2003. A Mundial contratou uma consultoria de relações com investidores e começou a organizar encontros com investidores e analistas. O resultado foi uma reação quase inacreditável das ações.
A empresa chegou a valer em bolsa 1,734 bilhão de reais e teve as ações negociadas a 31 vezes o valor da empresa sobre o Ebitda (EV/Ebitda) projetado (55 milhões de reais) para 2011. Após isso, contudo, as ações engataram num movimento de expressiva desvalorização.
O volume financeiro girado pelas ações preferenciais chegou a superar os das blue chips OGX (OGXP3), Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e a ordinária da Petrobras (PETR3) em algumas sessões. A euforia em torno da Mundial chegou a fazer com que analistas projetassem a possível entrada da empresa no índice Bovespa, o mais importante da bolsa brasileira.
A BM&FBovespa, contudo, barrou a adesão da Mundial ao índice. Segundo a bolsa, o não ingresso da Mundial nos índices citados acima ocorre por conta da movimentação atípica registrada no volume e nos preços dos negócios realizados com as ações da companhia.
Injeção de capital
Em julho, a empresa anunciou que um fundo da Yorkville chegou a um acordo para investir 50 milhões de dólares para acelerar o programa de amortização dívida fiscal e para financiar a expansão da Mundial. Por meio do Standby Equity Distribution Agreement (SEDA), a Mundial irá vender ações para a Yorkville com emissões privadas de no mínimo 5 milhões de dólares cada, por um período de dois anos.
Cada emissão privada terá o preço calculado levando-se consideração o maior valor entre o equivalente a 97% da média, ponderada pelo volume, das 3 menores cotações diárias durante o período de 10 dias seguidos de negociação a partir do recebimento pelo fundo da requisição de subscrição da companhia.