Petrobras: a queda de 22% registrada nos preços do petróleo desde junho coincide com o aumento dos custos de extração nos campos do pré-sal (Arquivo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 28 de outubro de 2014 às 14h00.
Rio de Janeiro - Investidores de papéis da Petrobras são punidos, qualquer que seja a direção dos preços do petróleo.
O valor de mercado da Petrobras caiu cerca de US$ 160 bilhões durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff e os analistas atribuem parte da queda à política de obrigar a petroleira estatal a vender gasolina abaixo do custo, a fim de proteger os motoristas do preço do petróleo bruto, que mais do que dobrou nos últimos cinco anos.
Agora que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está sinalizando que a Petrobras poderá aumentar os preços nas bombas, a queda do petróleo deve espremer as margens na divisão de exploração e produção, de acordo com a Guide Investimentos, o Banco Bradesco SA e a Moody’s Investors Service.
A queda de 22 por cento registrada nos preços do petróleo desde 20 de junho coincide com o aumento dos custos de extração nos campos do pré-sal, nas profundezas do Oceano Atlântico, de acordo com Felipe Rocha, analista da Guide, uma corretora que possui escritórios em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Curitiba.
A Petrobras caiu 12 por cento ontem, a maior declinação entre 834 ações no MSCI Emerging Markets Index, após a reeleição de Dilma no dia 26 de outubro.
“É uma situação bizarra”, disse Rocha em entrevista por telefone de Curitiba. “Tudo isso decorre da intervenção, da falta de metodologia para os preços do combustível”.
A Petrobras se alinhou aos preços do petróleo bruto na década anterior ao primeiro mandato de Dilma. Depois, a partir de 2011, a ação perdeu valor ao mesmo tempo em que o petróleo bruto ganhou, porque a companhia começou a vender combustível importado com prejuízo, o que a impediu de obter lucros mesmo quando o petróleo atingiu o pico de US$ 100 por barril.
Os preços do petróleo do tipo Brent terminaram 0,8 por cento mais baixos ontem, a US$ 85,40 por barril.
A R$ 14,29, a ação está operando 46 por cento abaixo do preço pago durante a oferta recorde de US$ 70 bilhões que ocorreu há quatro anos.
‘Não há urgência’
Um aumento nos preços do petróleo após as eleições é menos provável se o petróleo bruto continuar em níveis iguais ou inferiores aos atuais, porque a companhia deixou de vender gasolina importada com prejuízo, disse Auro Rozenbaum, analista de ações no Bradesco, em entrevista por telefone, de São Paulo.
A divisão de refino da Petrobras registrou mais de US$ 44 bilhões em perdas operacionais desde 2011.
“Agora não há urgência para aumentar os preços”, disse Rozenbaum. “Há muito tempo a situação da brecha de preços não estava tão calma”.
Hoje, a Petrobras está vendendo gasolina importada com lucro e diesel com um pequeno desconto, quase eliminando as perdas ocasionadas pelas importações de combustível, disse Rozenbaum.
Mesmo assim, a companhia está ganhando menos com outros produtos que vende no Brasil, como combustível de aviões e querosene, e com o petróleo bruto que vende no exterior, disse ele.
A redução nos preços do petróleo vai gerar um impacto negativo nos lucros do ano que vem, disse ele.
A desvalorização da moeda local também prejudica os ganhos obtidos com o fim dos subsídios ao combustível, porque a companhia vende o produto importado em reais, disse o UBS AG ontem, em nota aos clientes.
A taxa de câmbio mais fraca também aumentou o custo do serviço da dívida de US$ 139 bilhões da Petrobras, a maior entre as petroleiras de capital aberto e mais do que o dobro do que era no começo de 2011.
Desvalorização do real
O menor preço do petróleo e da moeda local também aumenta as necessidades financeiras da Petrobras. O plano de negócios a cinco anos, de US$ 220,6 bilhões, foi calculado considerando que o petróleo do tipo Brent custará US$ 105 até 2016.
De acordo com o plano de negócios, utiliza-se a taxa de câmbio média a longo prazo de 1,92 para o dólar a partir de 2015.
O real registrou ontem a maior perda do mundo ao afundar 1,9 por cento e chegar ao seu menor valor em nove anos, de R$ 2,52 por dólar.
“Com a reeleição, a Petrobras está no cerne de todos os problemas”, disse Robbert van Batenburg, diretor de estratégia de mercado na corretora e operadora Newedge USA LLC, em entrevista por telefone, de Nova York. “Ela é realmente um animal político”.