Petrobras: estatal não pretender rever investimentos com uma queda no preço do barril (Sergio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2014 às 08h11.
Rio - Duas cotações do barril do petróleo balizam os investimentos da Petrobrás e vão nortear seu Plano de Negócios de 2015 a 2019, aguardado ainda para este ano. Segundo fontes do alto escalão do governo, enquanto estiver acima de US$ 60 não haverá necessidade de rever projetos e reduzir recursos para áreas menos estratégicas que exploração e produção de óleo e gás. Só se o preço despencar até US$ 45 o barril, hipótese descartada pelo governo, o desenvolvimento do pré-sal não seria viável.
Os valores são o limite para cobrir o custo médio do capital. "Cada dólar a mais (em relação aos US$ 45) é lucro para a empresa, porque supera o custo do capital. A empresa está muito bem protegida", diz uma fonte.
A visão diverge das avaliações do mercado. Na última semana, o valor do barril de petróleo tipo Brent oscilou de US$ 80 a US$ 85, depois de, por quase três anos, ter se mantido na faixa de US$ 100, chamando a atenção de analistas, que divulgaram relatórios traçando cenários difíceis para a Petrobrás.
No governo, a análise é que a queda apenas reforça o caixa da Petrobrás num primeiro momento. A estatal comemora a redução dos gastos com importação e o fim da defasagem com os preços internos, que esteve em média 17,3% abaixo dos valores internacionais. Além disso, comemora a redução no pagamento de impostos, que considera a cotação no mercado externo. No médio prazo, a perspectiva é de retração dos custos de produtos e serviços, que costumam acompanhar o preço do Brent. "A questão é quanto tempo durará essa fase de redução do preço do petróleo. Em seis meses, se sustenta. Em um ano, é mais difícil. Em dois ou três anos, mais ainda", diz a fonte.
Estrutural
Se o governo não aposta nesse cenário, analistas de mercado já simulam impactos de uma queda mais acentuada e duradoura, embora sem consenso. Para o consultor John Forman, ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as mudanças nas cotações são estruturais, por causa da oferta de gás e petróleo de folhelho (xisto) nos EUA.
"A tecnologia está transformando os EUA em exportador. É um impacto danado", explica Forman. A agência de classificação de risco Moodys estima que a cotação chegará a US$ 70, em razão também da conjuntura política no mundo árabe. "A demanda continua forte, e há excesso de oferta mesmo com o baixo crescimento global", diz a analista Nymia Almeida. "Abaixo disso, alguns projetos ficariam inviáveis", completa.
Países como o Canadá, produtores de um óleo de pior qualidade e custo alto, não conseguiriam produzir com uma cotação a níveis muito baixos. Assim, a oferta cairia, levando a um novo aumento de preços.
O momento requer corte de custos entre as empresas. O baixo custo de extração no pré-sal sustenta a rentabilidade mesmo no cenário ruim, embora com retorno mais demorado. O custo médio é de US$ 14,80 por barril. As fontes do governo reiteram a "tranquilidade" de que o pré-sal e os investimentos da Petrobrás estão garantidos.
Nesse ponto, o mercado alerta para a metade vazia do copo. Relatório do Citibank calcula que, com o barril a US$ 90, o fluxo de caixa operacional ficaria pressionado e a Petrobrás poderia ter dificuldades para alcançar a meta atual de investimentos. A previsão apenas na área de exploração e produção é de US$ 35 bilhões anuais até 2020. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.