Payroll é indicador sobre geração de empregos nos EUA (Shannon Stapleton/Reuters)
O assunto do dia nos mercados internacionais foi divulgação dos dados sobre a criação de novas vagas de emprego - o famoso payroll (folha de pagamento, na tradução em português) nos Estados Unidos, nesta sexta-feira, 5, pelo Departamento do Trabalho de Washington.
Os Estados Unidos criaram cerca de 528 mil novas vagas de trabalho, somando os setores público e privado.
Mais do que o dobro do que era esperado pelo mercado, que previa a criação de 250 mil vagas.
Os mercados nos Estados Unidos reagiram mal aos dados do payroll, com Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 que caíram, na expectativa que dados melhores sobre a economia dos EUA possam levar o Federal Reserve (Fed), a elevar ainda mais os juros.
Mas afinal, por que os dados do payroll são tão importantes para a economia mundial? E o que podem influenciar no Brasil?
O payroll é um relatório divulgado mensalmente, normalmente na primeira sexta-feira útil do mês, e indica a variação no número de pessoas empregadas (ou seja, na folha de pagamentos) em empresas de setores diferentes do agronegócio.
Além disso, os dados do payroll incluem os ganhos de cada trabalhador por hora trabalhada na base mensal e em 12 meses e a taxa de desemprego.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que a economia americana é a mais importante do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB).
Por isso, se o payroll for consistente, o mercado prevê que o crescimento econômico americano seja também relevante.
Os EUA são o principal importador de muitos bens e serviços, e acabam sendo a locomotiva da economia mundial.
Além disso, a economia americana é baseada no consumo das famílias, que representa 75% do PIB.
Se há mais pessoas empregadas, ou se os salários aumentam (e na divulgação desse payroll foram ambos os fatores) esse consumo aumenta.
O payroll é importante para o Brasil seja por ser considerado uma "prévia" do PIB dos EUA, seja por antecipar a política monetária do Fed.
Caso os Estados Unidos crescerem mais, ele irão importar mais, e o Brasil conseguirá exportar mais produtos, beneficiando também o PIB nacional.
Além disso, com maiores exportações, e eventualmente uma balança comercial positiva, o Brasil poderá acumular mais reservas internacionais em dólares. Com uma natural valorização do real.
Por outro lado, caso o Federal Reserve decida aumentar os juros para tentar conter a intensa inflação nos EUA, poderia ser um problema para a economia brasileira.
A inflação ao consumidor americano chegou a 9,1% em junho, o maior patamar desde o início da década de 1980.
Na última decisão do banco central americano, a taxa de juros foi elevada em 0,75 ponto percentual (p.p.) para o intervalo de 2,25% e 2,50%. Essa foi a quarta alta desde março e a segunda consecutiva em que o Fed sobe a taxa em 0,75 p.p.
Juros mais elevados na maior economia do mundo, considerada o "porto seguro" pelos investidores internacionais, provocaria uma saída de capitais de economias emergentes em direção dos Estados Unidos.
Com isso, o real acabaria se desvalorizando, a inflação brasileira acabaria subindo - pois as importações se tornariam mais caras - e o Banco Central do Brasil seria forçado a aumentar ainda mais a taxa básica de juros (Selic) para tentar atrair mais dinheiro do exterior com uma rentabilidade mais interessante.
Isso levaria a um aumento do custo da dívida pública brasileira, com uma redução de recursos públicos disponíveis para investimentos, pois parte das receitas estatais deverão ser realocadas para pagar os juros mais elevados.
Os pregões que ocorrem logo após a divulgação dos dados do payroll acabam sendo afetados pelos números sobre a geração de emprego nos EUA. A volatilidade tende a aumentar, especialmente nos primeiros minutos de negociação, e os traders aproveitam a grande movimentação nas Bolsas de Valores.