ETF: assim, os robôs usam ETFs de ações, como o PIBB11, ou os ETFs de renda fixa, como o IMAB11, de papéis corrigidos pela inflação. (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2019 às 15h00.
Última atualização em 2 de julho de 2021 às 16h47.
Por Angelo Pavini, da Arena do Pavini
São Paulo - Os fundos passivos, que apenas copiam as carteiras de ações dos índices a que se referem, encontraram uma forma de melhorar seu desempenho e compensar a taxa de administração cobrada dos clientes, ou até render um pouco mais que o próprio referencial. Para isso, alugam uma parte das ações que têm de manter em carteira, adicionando um ganho extra à oscilação dos papéis. Um diferencial que não chega a ser muito grande, mas que deve ser levado em conta na hora de escolher um destes fundos, além da taxa de administração e da capacidade do gestor de acompanhar o índice.
Um exemplo desses fundos passivos são os Exchange Traded Fund, ou ETFs, que têm suas cotas negociadas em bolsa e permitem ao investidor aplicar em uma carteira de ações diversificada com um valor mais baixo. Cada cota representa a carteira inteira do índice e pode ser comprada por valores a partir de R$ 100,00.
No caso do BOVV11, ETF que copia o Índice Bovespa da Itaú Asset Management, a estratégia de alugar as ações proporciona um ganho em torno de 0,20 ponto percentual ao ano acima do índice, mesmo cobrando uma taxa de administração de 0,30% ao ano. Segundo Eduardo Torrescasana*, especialista de carteiras da Itaú Asset Management, o ganho é obtido com o aluguel de até 70% da carteira. “Chegamos a ter até 50% das ações da carteira alugadas, mas agora temos entre 30% e 40%”, explica.
A estratégia de “jogar parado” é usada pelos fundos passivos no mundo todo. Nos Estados Unidos, alguns fundos não cobram taxa de administração, ficando com o ganho do aluguel em troca da gestão. “No Brasil, somos proibidos de ficar com os ganhos do aluguel, que devem ser repassados para os clientes”, explica. Para ele, o uso do aluguel mostra que há espaço para uma gestão passiva diferenciada, que pode atrair clientes. “Nem todos os gestores conseguem alugar uma parcela grande da carteira como nós, que temos um gestor especialista para fazer isso”, diz.
Um exemplo é o concorrente, o pioneiro ETF de Índice Bovespa BOVA11, da BlackRock. Ele pode alugar até 40% da carteira, mas chega a 15%. Com isso, acaba ficando abaixo do Índice Bovespa ao descontar a taxa de administração, que era de 0,54% ao ano e foi reduzida em julho deste ano para 0,30%, depois da entrada dos ETFs concorrentes do Itaú e do Bradesco. Desde a criação, em agosto de 2016, até julho deste ano, o BOVV11 do Itaú acumulou um retorno 0,79% acima do Ibovespa, enquanto o BOVA11 ficou 1,15% abaixo no mesmo período, segundo levantamento da Itaú Asset.
A vantagem pode ser maior se o fundo tiver uma taxa de administração mais baixa, caso do PIBB11, o primeiro ETF do mercado brasileiro, também montado pelo Itaú em parceria com o BNDES e que acompanha o Índice Brasil Bovepa 50. Ele tem o mesmo cálculo do Índice Bovespa, mas é limitado a 50 papéis mais relevantes do mercado. O ETF cobra 0,059% ao ano de taxa de administração, a menor do mercado. Nos últimos 12 meses, o PIBB11 rendeu 26,56% e o IBrX-50, 26,2%. Desde seu início, o ETF acumula alta de 504,96%, enquanto o IBrX-50 sobe 486,05%, 18,91 pontos percentuais de diferença.
O aluguel de ações é uma estratégia usada no mercado quando se acredita que um papel vai cair. O gestor pessimista aluga a ação de outro e a vende no mercado, e fica “devendo” o papel, acreditando que, quando for devolvê-lo, vai estar mais barato, ganhando a diferença. A operação, chamada de estar “vendido”, ou “short”, permite aos gestores ganhar com a baixa de determinados papéis e dá ganhos para quem não quer se desfazer das ações e as aluga. Quanto mais um papel tiver tendência de queda, maior o aluguel, pois maior é a chance de ganho. Já o dono da ação recebe o papel de volta no vencimento do contrato, mantendo a aplicação. A operação de aluguel é garantida pela bolsa B3, que funciona como contraparte nos contratos, o que reduz o risco do fundo que aluga.
Stefano Dorlhac Catinella, responsável pela distribuição local de PF, varejo, private e atacado, diz que essas vantagens já foram percebidas por muitos investidores institucionais e por plataformas de robôs investimento automatizado. “Nessas plataformas, o consultor cobra uma taxa do cliente, então não tem conflitos de interesses, ele vai escolher o investimento mais barato e mais rentável”, explica.
Assim, os robôs usam ETFs de ações, como o PIBB11, ou os ETFs de renda fixa, como o IMAB11, de papéis corrigidos pela inflação, do Itaú, ou o FIXA11, de juros prefixados da Mirae, por exemplo, para montar carteiras diversificadas de valor, com custo mais baixo e maior liquidez. “Nas corretoras, o incentivo para o agente autônomo é para vender produtos mais caros, pois ele vive de rebate ou comissão”, explica.
A meta é também ampliar a base de investidores com mais pessoas físicas. Hoje, dos 26.201 investidores nos 10 ETFs do Itaú, 25.804 são pessoas físicas. O fundo com mais pessoas físicas é o pioneiro PIBB11, com 11.781 investidores, seguido do BOVV11, do Ibovespa, com 4.236 pessoas. A maior participação em termos de valor investido de pessoas físicas é no ETF do Índice de Dividendos, o DIVO11, no qual 48% dos recursos são de investidores individuais.
Catinella espera também um aumento dos investimentos nos ETFs atuais e também novos fundos de renda fixa com cotas em bolsa. O próprio Itaú estuda novas carteiras, diz.
Também o ETF do Bradesco deverá buscar ganhos extras com o aluguel de parte das ações da carteira, explica Marcelo Nantes co-diretor de Investimentos da BRAM e responsável pelos fundos de renda variável, multimercados, quantitativos e indexados.
Lançado no fim de junho, o ETF do Bradesco mira replicar a cesta de ações do Ibovespa. Ele começou com R$ 705 milhões de patrimônio e já está com quase R$ 1,5 bilhão, com uma movimentação diária média de R$ 5 a 8 milhões. O banco está oferecendo corretagem promocional para atrair mais investidores. “Nossa ideia é popularizar o acesso à renda variável, conscientizar o investidor pessoa física”, diz, acrescentando que o momento é bem relevante.
“Vivemos 20 anos nos quais o investidor não precisava correr risco para ter retorno, pois havia papel do governo com risco baixo e com retorno razoável, um CDI de 14% ao ano, e todos se acostumaram”, lembra. Como agora o país está em um período de taxas de juros muito baixas, o investidor precisa correr risco para ter retorno. “E o ETF é uma opção de produto barato para quem quer investir em bolsa”, diz.
O ETF do Bradesco tem taxa de administração de 0,20%, a menor mercado. E o aluguel de ações deve ir crescendo gradualmente, afirma Nantes. Hoje, mais de 30% das ações da carteira são alugadas. “É um processo que demora para chegar aos 50%, mas vai ajudar a baratear o custo de 0,2%, já que o ganho com o aluguel é repassado para o investidor”, diz.
Para ele, este foi apenas o primeiro ETF do banco. “Entramos para ser competitivos e relevantes”, promete.
Essa notícia foi publicada originalmente no site Arena do Pavini.