(Paulo Whitaker/Reuters)
Paula Barra
Publicado em 6 de maio de 2021 às 12h00.
Última atualização em 6 de maio de 2021 às 12h19.
Passada a turbulência envolvendo a Petrobras (PETR3; PETR4) em fevereiro, que jogou a estatal para uma queda de cerca de 17% na Bolsa naquele mês, em meio à interferência política no comando da empresa, o mercado volta a olhar para os papéis da petroleira.
Embora a tese seja ainda controversa, analistas e gestores começam a ver as ações no atual patamar de preços como excessivamente descontadas, enquanto alguns riscos envolvendo a companhia foram em partes dissolvidos.
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"Com a toda a confusão envolvendo a saída de Castello Branco, a ação da Petrobras caiu muito. A grande dúvida do mercado era se a empresa iria manter ou não sua política de preços. Acreditamos que será mantida. A formação do conselho, com nomes de credibilidade, é uma sinalização nesse sentido", disse Cristiano Pinelli, sócio e gestor da Rio Gestão de Recursos.
Para ele, que aproveitou a derrocada em fevereiro para comprar, os papéis da Petrobras ficaram baratos diante dessa incerteza com a política de preços. E, com o dólar mais baixo, talvez essa questão nem precise ser colocada em xeque, o que contribui para a defesa da tese, disse. Como a Petrobras baseia o valor do barril de petróleo em dólar, uma alta da moeda americana pode influenciar em um reajuste para cima dos preços, e vice-versa.
Além disso, ele aguarda por fortes resultados da empresa no primeiro trimestre, impulsionados pela alta do petróleo. "Achamos que o balanço vem muito forte e, em relação aos números que esperamos, os papéis estão muito descontados", comentou.
Hoje, ele tem em torno de 8% do fundo em ações da companhia, mas afirma que é uma posição tática, em busca de uma assimetria pontual nos papéis.
"Não imaginamos ficar com Petrobras pelos próximos 10 anos, porque a energia fóssil vai perder espaço. Mas, hoje, com a geração de caixa que a companhia tem, nos parece um bom investimento", argumentou Pinelli.
Em carta aos cotistas com perspectivas para maio, os gestores da Ibiuna Investimentos comentaram que continuam "cautelosamente otimistas" com a tese de investimentos em Petrobras e "monitorando o caso com muito cuidado".
Eles destacaram que o processo de sucessão foi relativamente pacífico e que o discurso de posse de Silva e Luna foi "moderado e racional".
No fim do mês passado, o Bradesco BBI e Credit Suisse se juntaram ao coro e elevaram a recomendação da companhia de venda para neutra, assim como o preço-alvo.
O BBI revisou a meta dos papéis de R$ 24,00 para R$ 32,00, implicando em um potencial de valorização de 37% frente ao fechamento de ontem; o Credit passou o preço-alvo dos American Depositary Receipts (ADRs) de 8,00 dólares para 10,00 dólares, dando um potencial de ganhos de 18%.
Em relatório, os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka, do BBI, comentaram que desde a revisão anterior dos papéis, em 21 de fevereiro, quando cortaram a recomendação para equivalente a venda, alguns eventos ocorreram:
Além disso, apontaram que um real mais valorizado frente ao dólar (sustentado por mais altas da Selic) deve ajudar a suavizar o relacionamento entre o governo, a Petrobras e os caminhoneiros.
Por sua vez, um risco importante seria o discurso de posse do CEO se perder em meio ao barulho, comentaram. No entanto, no atual patamar que é negociado os papéis, eles acreditam "vale a pena correr o risco".
Nos cálculos dos analistas do banco, dentro de uma composição de mais de 500 empresas de combustíveis fósseis, a Petrobras ocupa a 23ª posição mais barata da lista olhando pela métrica do valor da firma sobre geração de caixa operacional (EV/Ebitda, na sigla em inglês) projetada para 2022 e a 5ª mais descontada tendo em vista o potencial remuneração com dividendos (dividend yield).
Embora tenha recuperado parte do baque, as ações da Petrobras ainda acumulam uma queda de 17% do fechamento do dia 18 de fevereiro, quando iniciaram os rumores sobre a saída de Castello Branco, para cá, enquanto o Ibovespa tem leve alta de 0,3% nesse mesmo intervalo.