Oportunidades: UBS passou a recomendar um pouco mais de renda fixa pré ou indexada à inflação, mas com papéis mais curtos e em compras graduais (Chris Hondros/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2013 às 11h02.
São Paulo - A forte queda na bolsa e a alta dos juros dos papéis indexados à inflação abrem espaço para quem não tem muitas ações e renda fixa na carteira para uma diversificação, afirma Francisco José Levy, responsável pela área de aconselhamento a clientes do serviço de gestão de fortunas (wealth management) do UBS Brasil. “Para quem não tem ação na carteira, tem preço para fazer posição”, diz.
O banco, um dos maiores gestores de fortunas do mundo, passou a recomendar um pouco mais de renda fixa pré ou indexada à inflação, como NTN-Bs, mas com papéis mais curtos e em compras graduais. “Antes estávamos com recomendação de ficar fora de renda fixa, pré e indexada à inflação, mas agora, com a alta dos juros desses papéis, estamos um pouco mais otimistas e sugerindo ampliar um pouco a aplicação”, diz.
Levy lembra que a recomendação anterior do banco, no começo do ano, era aumentar as aplicações no exterior e ter cuidado com a renda fixa, o que se revelou uma estratégia bastante acertada agora que o dólar disparou e o juro subiu. “Nossa proposta de investimento é uma carteira de longo prazo, diversificada, e ao longo do tempo e dos movimentos do mercado, aumentamos a participação de um ativo e reduzimos outro”, explica.
Por isso, o banco estava pessimista com renda fixa pré e indexada à inflação. “Hoje, apesar de ainda estarmos desconfortáveis por causa do cenário de mudança nos Estados Unidos, o juro subiu muito e estamos aproveitando para aplicar um pouco.”
Já com relação à bolsa, o UBS segue neutro, apesar de os preços terem caído muito nos últimos tempos. “A bolsa, sob a ótica do investidor externo, está perdendo tanto pela desvalorização do real quanto pela queda dos preços dos papéis”, diz. Em 12 meses, por exemplo, o Índice Bovespa acumula uma perda em dólar de 17%, enquanto a média das bolsas dos emergentes está praticamente estável e as bolsas dos países desenvolvidos sobe 20%. As bolsas dos BRIC, sigla de Brasil, Rússia, Índia e China, também está melhor que o Brasil, com 4% de queda em 12 meses, considerando os papéis do índice MSCI para cada região.
Apesar dessa forte queda, o recado importante para o investidor que quer aumentar sua posição em bolsa é que o Brasil já vinha em um processo de desconfiança diante dos estrangeiros, pelo ambiente inflacionário ruim, apesar de não ser assustador, e pelo crescimento abaixo do esperado. “Há dois anos os números de crescimento do Brasil vêm surpreendendo para baixo e os de inflação, para cima”, diz. “É uma combinação muito ruim para as margens das empresas e para a bolsa”, diz.
A grande questão, diz Levy, é saber se esses preços de hoje, depois de toda essa queda, já incorporam todos os aspectos negativos do cenário político e econômico ou se ainda podem derrubar mais o mercado. “Há o fato novo dos protestos, e da questão política se acirrando, é preciso tomar cuidado com esse movimento também”, diz.
A queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff também é um fator negativo importante, especialmente porque ela foi mais drástica na faixa acima de 20 salários mínimos, que é formadora de opinião na sociedade. “Começa a haver um ruído político que cria um dilema diante da aproximação do calendário eleitoral para o ano que vem”, alerta.
Nesse ambiente, começam a surgir dilemas como ter de apertar os juros para segurar a inflação com a economia indo devagar e queda no apoio popular. Para ajudar, há uma mudança nos fluxos de capitais para países emergentes, de entrada para saída, o que pressiona o dólar e torna ainda mais difícil o combate à inflação. “Os sinais do governo são de que ele vai combater a inflação, mas o mercado está cético demais com relação a isso”, observa Levy. “A questão é como ganhar de novo a credibilidade da sociedade, e isso exigiria ser mais duro com a inflação em um ambiente complicado”.
Para o executivo, não há clareza sobre como vai ser conduzida a política monetária e fiscal no médio prazo. “Para o curto, sabemos que a prioridade é o combate à inflação, mas mais adiante não dá para saber se vai continuar assim”, diz.
Por conta de todas essas questões, a recomendação do UBS ainda é a diversificação internacional em ativos de renda variável para fugir dos riscos de ativos correlacionados ao Brasil. “Recomendamos também comprar gradualmente ativos de renda fixa, inclusive ativos de crédito privado, mas com bastante seletividade e de prazo mais curto”, diz.
Segundo Levy, há um excesso de procura por ativos de crédito, emitidos por empresas ou voltados para os mercados imobiliários ou agrícolas, o que reduziu os prêmios desses papéis. “Com a alta dos juros, essas taxas estão ficando muito baixas em relação ao usual do Brasil e, em algum momento, os prêmios do crédito privado também devem subir”. Por isso, a recomendação é de cautela para o investidor em debêntures ou CRIs muito longos.
No caso da bolsa, a questão é se as coisas ruins que poderiam acontecer com o Brasil e o mundo já estão nos preços. “Estamos em dúvida, achamos que não é hora de entrar ampliando muito a posição em ações, mas também não é o caso de o investidor reduzir suas aplicações em bolsa, pois o Brasil já está bem descontado”, explica.
A questão é que existe um movimento global de ajuste de preços com a alta dos juros nos EUA que pode estar apenas se iniciando. “Não é nosso cenário básico, mas é um risco que, se acontecer, terá impacto muito grande para os investidores, por isso recomendamos cautela”, diz. Se o fluxo de saída de emergentes se acentuar, o impacto nos mercados emergentes pode ser muito grande, especialmente em moedas, juros e bolsa. Por isso, a recomendação de comprar é apenas para quem não tem ou tem poucas ações no portfólio.
Já a aplicação em ativos de risco no exterior faz sentido, pois o dólar acaba servindo de amortecedor das oscilações. “Se o ativo lá fora cair, o dólar aqui sobe e compensa em parte a queda, e vice-versa”, explica Levy.
A recomendação mais importante, porém, é que o investidor precisa dimensionar bem seus riscos antes de sair mudando a carteira. “Se não, vem a oscilação dos mercados e as perdas momentâneas e ele quer sair de tudo no pior momento”, diz. O movimento emocional é muito perigoso no mercado financeiro, alerta Levy.
Por isso, é preciso que o investidor defina parcelas de recursos que ele possa aplicar por prazos mais longos para destinar aos mercados de maior risco e esteja preparado para oscilações. “É preciso ter um bom planejamento financeiro para separar o dinheiro pelo prazo e pelas necessidades, e ter tranquilidade para enfrentar as flutuações dos preços”, diz. “Não é só comprar quando está bom e vender quando está ruim”.