Para o Goldman, o déficit é chave para sua visão baixista para o dólar, já que analistas do banco apontam para semelhanças com 2002-2007, quando a moeda americana registrou forte baixa (Adrienne Bresnahan/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 27 de maio de 2021 às 09h35.
Última atualização em 27 de maio de 2021 às 09h41.
Quer saber qual será a trajetória do dólar enquanto o déficit dos Estados Unidos segue crescendo? Wall Street também.
Para o Goldman Sachs, o momento atual lembra um dos períodos mais fracos da história recente do dólar. Já o Morgan Stanley acredita que a moeda pode se fortalecer.
O crescente déficit em conta corrente dos EUA é mais uma vez tema de um debate acalorado no mercado de câmbio, com implicações em todas as classes de ativos. O déficit é o maior desde 2008 como proporção do PIB, e só tende a crescer à medida que os EUA superam grande parte do mundo na recuperação da pandemia. O resultado é que mais e mais dólares fluem para estrangeiros, ou para serem reinvestidos em ativos dos EUA ou desviados para outro lugar.
Especialistas concordam nesse ponto. Mas divergem sobre o possível impacto da conta corrente, o indicador mais amplo dos fluxos de comércio e investimento na maior economia do planeta. É um momento crucial para a principal moeda de reserva do mundo, que eliminou todo o ganho do início deste ano.
Para o Goldman, o déficit é chave para sua visão baixista para o dólar, já que analistas do banco apontam para semelhanças com 2002-2007, quando a moeda americana registrou forte baixa. O Deutsche Bank está no mesmo grupo.
Por outro lado, o Morgan Stanley e a Eurizon SLJ Capital acreditam que o ambiente atual pode refletir as décadas de 1980 e 1990, quando o dólar se valorizou mesmo com grandes déficits. Por enquanto, no entanto, a moeda americana perde terreno e os que apostam na baixa parecem estar em vantagem.
“O dólar está caro em uma ampla base comercial, e ativos não americanos cada vez mais oferecem retornos competitivos”, disse Zach Pandl, codiretor de estratégia de mercados emergentes e câmbio global do Goldman. “Os investidores provavelmente sairão dos mercados de renda fixa e de ações dos EUA, resultando na desvalorização do dólar ao longo do tempo.”
O índice Bloomberg Dollar Spot acumula baixa de 1,3% este mês e é negociado perto dos níveis mais baixos deste ano. O dólar se desvalorizou em relação à metade de seus pares do G10.
Pandl tem uma visão “estruturalmente negativa” do dólar para os próximos três anos. O Goldman espera que o déficit em conta corrente atinja um pico de 4,4% do PIB no final de 2021. A projeção supera a estimativa mediana de analistas, que apostam em aumento para 3,6% do PIB em 2021 em relação a 3,09% no fim do ano passado e o maior desde 2008.
Se a visão do Goldman sobre o dólar estiver certa, isso sugere que é apenas questão de tempo antes que investidores estrangeiros busquem ativos internacionais de maior rendimento, o que enfraqueceria a moeda americana e potencialmente daria início ao declínio estrutural de longo prazo que muitos preveem.
Para mercados emergentes, também pode significar crescimento econômico mais forte a partir da correlação inversa da moeda americana com as commodities, a valorização dos preços das ações locais e potencial deflação da dívida denominada em dólares.
No mercado de renda fixa dos EUA, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos estão em torno de 1,58%, nível mais alto do que a maioria dos mercados desenvolvidos, mas significativamente menor do que os 3% que investidores ganham para títulos equivalentes chineses e mexicanos. E, embora os índices acionários dos EUA continuem batendo recordes, o Goldman prevê retornos em ações mais baixos em relação a mercados internacionais ao longo do próximo ano, e acredita que o déficit também deve reduzir fluxos para o dólar.
No entanto, não é uma visão de consenso. Stephen Jen, da Eurizon SLJ, avalia que a expansão econômica dos EUA terá mais peso do que a expectativa de déficit crescente e ambiente de baixo rendimento, o que deve impulsionar a demanda por dólares. O Bank of America concorda, dizendo que os déficits podem pesar sobre o dólar em três a cinco anos, mas não agora, quando a economia mostra desempenho mais forte do que em outros mercados globais.