Segundo Carril, o Brasil registra um dos melhores crescimentos da atividade econômica da região (Adriano Machado/Reuters)
Marília Almeida
Publicado em 30 de abril de 2021 às 18h21.
Última atualização em 30 de abril de 2021 às 18h42.
Economista chefe e estrategista do Principal Financial Group para a América Latina, Valentin Carril acredita em uma rápida recuperação da economia brasileira. Apesar da demora em vacinar a população, na sua visão o país deve ter uma recuperação como a que vem sendo observada em países como Estados Unidos e China em dois ou três meses. É o que disse o executivo do grupo de investimentos, que tem mais de 700 bilhões de dólares sob gestão, em um webinar promovido pela gestora Claritas.
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A recuperação econômica após a eclosão da pandemia nos países desenvolvidos, destaca, foi mais rápida do que se imaginava. "Tanto na China como nos Estados Unidos o resultado do PIB já superou o anterior. Isso aconteceu em parte porque economias fortes têm câmbio mais forte. Então acredito que é possível observar em breve uma recuperação também rápida na América Latina, muito forte no Brasil e no Chile e não tão forte no México".
O economista aponta que a pandemia afetou países da América Latina, como México, Chile, Colômbia, Peru, Argentina e Brasil, de forma similar quando se compara a queda do PIB. Contudo, o Brasil registra um dos melhores crescimentos da atividade econômica da região. "Então, acreditamos que a recuperação do país será mais rápida. Já são nove meses consecutivos de crescimento". Joga a favor, cita Carril, a forte alta de preço das commodities, das quais o país é um do principais produtores do mundo.
Questionado sobre o risco politico e o aumento da dívida do país, ele relativiza. "Há um alto risco político em toda a América Latina. Ele é alto no Brasil, mas mais alto no Chile e muito mais alto no Peru. A Colômbia é o país que está melhor neste aspecto. Todos os países estão aumentando sua dívida em relação ao PIB, exceto a China, e a dívida brasileira não é um problema como era nos anos 80. Naquele momento a dívida era em dólares, e ficou difícil pagá-la quando o câmbio não parava de subir, o que aconteceu com a Argentina em 2001. Hoje, 90% da dívida do Brasil é em reais".
Ainda que seja uma boa oportunidade investir no Brasil agora, Carril sublinha que ela não é "espetacular". Basta ver o ranking dos países que manejaram melhor a crise provocada pela pandemia, no qual o Brasil aparece em 98º lugar. O país que registra a melhor gestão na América Latina, o Chile, está na 33ª posição. "No continente estamos todos da metade para baixo. Então, quando diversificamos geograficamente controlamos riscos, e a pandemia demonstra isso".
Quando existe uma crise no país, o câmbio tende a subir, e vice-versa. Apenas por conta desse fato o dólar é sempre um bom diversificador na carteira, na visão de Carril. Mesmo agora, que o dólar está caro em relação ao real, ainda vale a pena aplicar em ações e renda fixa high yield nos Estados Unidos. "Com juros baixos, como o que observamos agora no Brasil, a diversificação é ainda mais importante, aponta.
Outro benefício de investir nos Estados Unidos ou na Europa é aplicar em uma situação politica melhor e mais controlada. "Infelizmente os países da América Latina são instáveis". O sobe e desce do dólar pode deixar o investidor inseguro, mas esse vai e vem é compensado no longo prazo. "As oscilações, ao longo dos anos, não são tão violentas".
Outro motivo para investir lá fora é aplicar em segmentos que não existem no país, como a produção de chips. "A pandemia mostrou a vantagem de ser uma empresa inovadora e beneficiou as grandes empresas de tecnologia americanas".
Mas o investimento no exterior também envolve riscos. "A pandemia não está controlada. Todo dia há um novo temor. E devemos lembrar que os Estados Unidos passaram por uma grande crise em 2008. Agora o país está entregando bastante dinheiro aos seus cidadãos, o que gera um risco inflacionário que pode fazer com que o Fed suba a taxa de juros e afete investimentos no mundo todo".
Outro ponto de atenção é em relação à dívida das empresas com operação no exterior, que está, em média, mais alta, aponta Carril. "O investidor tem de ser seletivo, mesmo com títulos high yield e preferreds (títulos híbridos)".
Questionado sobre se a regulação no Brasil sobre investimento no exterior está atrasada em relação a outros países, Carril lembra que apenas em 1995 os fundos chilenos começaram a aplicar no exterior.
"Os fundos já podiam aplicar lá fora, mas em 1990 os juros no Chile eram equivalentes à inflação mais 6%. Se alguém tinha um investimento com essa remuneração, não havia incentivo para ir ao exterior. Então, é natural, com a queda dos juros, o mercado se abrir agora. E acho que o mercado brasileiro está se abrindo rápido. No México os fundos de pensão ainda tem limite de 20% para investir no exterior, e o Brasil já atingiu 25%. Neste ritmo, o Brasil pode ter 40% dos seus investimentos no exterior em até 15 anos".
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