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Papéis sob regras do Islã têm ajudado países na crise

Os sukuks, conhecidos como bônus islâmicos, não pagam juros mas atraem 300 bilhões de dólares

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de setembro de 2012 às 17h42.

São Paulo - Em um momento em que a crise toma conta dos bancos e países europeus, restringindo as fontes de financiamento, os emissores sedentos por novas fontes de captação passaram a mirar os investidores islâmicos. O motivo é simples: os países com maioria islâmica têm o dinheiro que a Europa precisa. Os sukuks, conhecidos como bônus islâmicos, têm crescido muito desde 2008, auge do tumulto financeiro.

O Sukuk, palavra árabe para certificados, é um título que segue a lei islâmica, isto é, não cobra ou paga juros. Enquanto um título convencional negociado no mercado ocidental é uma promessa de reembolsar um empréstimo com o pagamento de juros, os Sukuks são propriedade parcial de uma dívida (Sukuk Murabaha), ativo (Sukuk Al Ijara), projeto (Sukuk Al Istisna), negócios (Sukuk Al musharaka), ou investimento (Sukuk Al Istithmar). Como o islã proíbe o pagamento de juros, as empresas que emitem sukuks pagam seus investidores com os lucros de seus ativos.

Ou seja, o emprestador fica com um ativo do tomador e se beneficia dele por meio do lucro gerado por ele. Depois, o ativo é vendido novamente para o emissor do Sukuk. Segundo pesquisa da Ernst & Young, a demanda global por sukuk chega a 300 bilhões de dólares, enquanto a emissão desses não deve passar de 100 bilhões de dólares em 2012. A previsão é de que a demanda triplicará até 2017, chegando a 900 bilhões de dólares. Esse crescimento exponencial é resultado do crescimento de 2 dígitos do setor bancário islâmico e da busca crescente por créditos compatíveis com a lei islâmica.

Por causa dessa grande demanda, alguns emissores globais conseguiram levantar dinheiro mais barato via sukuks do que conseguiriam através de títulos convencionais. Essa procura vem principalmente de instituições financeiras islâmicas, de gestores de fundos e de indivíduos de alta renda. Por ser baseado em ativos reais, até instituições mais convencionais estão mostrando interesse em investir nos bônus islâmicos.

De acordo com a Dealogic, 48% dos bônus emitidos no Oriente Médio este ano seguem o formato dos sukuks. É a maior proporção desde 2007, quando alcançaram 41%.


Em um relatório da Standard & Poor's, o analista de crédito Allan Redimeiro afirma que o total de sukuks emitidos fora da Ásia alcançaram a some de 57,9 bilhões de dólares em julho deste ano. No ano passado inteiro foram 64,9 bilhões de dólares. A maior parte das emissões de sukuks de 2011, 86% do total, estava relacionada a entidades soberanas. O objetivo dos países muitas vezes é o de levantar fundos para investir em infraestrutura e em desenvolvimento. A Malásia é um dos exemplos de maior sucesso.

O país foi o pioneiro na emissão de sukuks, em 1990, com o objetivo de levantar fundos para seu programa de desenvolvimento de infraestrutura e hoje é responsável por quase metade do total de títulos deste tipo em circulação no primeiro semestre de 2012.

Turquia

Nesta semana, a Turquia conseguiu levantar 1,5 bilhão de dólares em seu primeiro sukuk. O título de 5 anos e meio atraiu 5 vezes mais pedidos do que seu tamanho inicial, de acordo com o Tesouro turco. Os investidores do Oriente Médio foram a maioria, comprando 58% dos títulos, seguidos pelos europeus, que ficaram com 13%, asiáticos com 12%, turcos com 9% e americanos com 8%.

Países não islâmicos

As vantagens dos Sukuks têm atraído inclusive países não muçulmanos. Reino Unido, Alemanha, França, Austrália, entre outros países, já emitiram títulos nos moldes islâmicos. A Irlanda, através da empresa estatal de energia elétrica, a ESB (Eletricity Supply Board), se prepara para ser a primeira grande empresa não financeira europeia a vender bônus islâmicos por meio da emissão de sukuks na Malásia.

A ESB opera 7 centrais térmicas e 10 estações hidrelétricas na Irlanda, e tem mais de 12 bilhões de euros em ativos, com lucro operacional de 469 milhões de euros. Como os sukuks são baseados em ativos reais, a empresa pagaria seus investidores com os lucros das produtoras de energia. Segundo o que fontes familiarizadas com o negócio disseram ao site The Malasyan Insider, a companhia pretende levantar 1 bilhão de euros com a operação. 

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