Silvio Santos, controlador do Banco Panamericano: empresa derruba a rentabilidade de títulos corporativos (Antonio Cruz/Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2010 às 06h48.
Nova York - A suspeita de fraude no Banco Panamericano SA está derrubando a rentabilidade dos títulos de dívida de empresas brasileiras, com o receio de que outras instituições tenham problemas parecidos. Os papéis corporativos locais estão a caminho de encerrar o primeiro mês desde abril com desempenho pior do que outros países emergentes.
A queda de 1,6 por cento na dívida de empresas brasileiras este mês é inferior à baixa de 0,8 por cento dos títulos corporativos de países em desenvolvimento, de acordo com os índices CEMBI do JPMorgan Chase & Co. No mesmo período, a dívida corporativa dos Estados Unidos acompanhada pelos índices do Bank of America Merrill Lynch caiu 0,6 por cento.
O Ministério Público e a Polícia Federal estão conduzindo uma investigação criminal sobre o Panamericano, após o controlador, o Grupo Sílvio Santos, tomar um empréstimo emergencial de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos para fortalecer o capital do banco. O inquérito está limitando a demanda por títulos emitidos por bancos brasileiros. A captação recorde de US$ 16,9 bilhões por bancos este ano representou mais da metade das ofertas corporativas do País.
“A resposta inicial de todo mundo foi de que seria uma coisa isolada e concentrada apenas no Panamericano, mas não vamos nos esquecer de que todo mundo pode estar errado porque ninguém esperava isso”, disse Luz Padilla, que ajuda a administrar US$ 6 bilhões em ativos na DoubleLine Capital LP, em Los Angeles. Ela disse que não detém títulos do Panamericano.
O rendimento dos títulos do Panamericano de cupom 8,5 por cento e vencimento em 2020 subiu 306 pontos-base, ou 3,06 pontos percentuais, desde 8 de novembro, o dia anterior ao anúncio da injeção de capital, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O Paraná Banco SA, de Curitiba, e o Banco BMG, de Belo Horizonte, viram aumentos de pelo menos 75 pontos-base no rendimento de seus bônus no mesmo período.
Ofertas suspensas
Três bancos suspenderam ofertas de títulos desde a disparada dos custos de financiamento com o socorro ao Panamericano, o 21º maior banco brasileiro em ativos.
O Banco BVA SA, instituição do Rio de Janeiro especializada em empréstimos a companhias de médio porte, adiou uma captação externa em 12 de novembro. O Banco Bradesco SA, segundo maior do País por valor de mercado, suspendeu a venda internacional de títulos denominados em reais por causa da “volatilidade” do mercado, disse a diretora Marlene Millan numa entrevista em 16 de novembro. O Banco Industrial e Comercial, sediado em São Paulo e conhecido como BicBanco, suspendeu uma oferta local de bônus em 16 de novembro.
O Banco Central descobriu cerca de R$ 2,1 bilhões em perdas no Panamericano com irregularidades contábeis relacionadas à venda de carteiras de empréstimos, disse o presidente do BC, Henrique Meirelles, numa entrevista em 18 de novembro. O empresário Sílvio Santos solicitou os recursos do FGC após descobrir que sua própria empresa de cartões de crédito devia R$ 400 milhões à instituição, disse Meirelles.
“O sistema funcionou muito bem e o problema foi detectado a tempo de uma forma muito bem sucedida”, afirmou ele.
Meirelles disse ser a favor de supervisão regulatória da área de cartões de crédito após o resgate do Panamericano. Uma força tarefa que inclui representantes do BC, Ministério da Fazenda e Ministério da Justiça estuda se o setor precisa de supervisão do governo.
“Há um risco que pode ser tanto maior regulamentação ou maior envolvimento do governo porque podem existir outras histórias como esta”, disse Bevan Rosenbloom, analista do RBS Securities Inc. em Stamford, no Estado americano de Connecticut, numa entrevista por telefone.