Os bancos brasileiros arrecadaram a quantia recorde de US$ 15,2 bilhões em 2010 (Alexandre Battibugli /EXAME)
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2010 às 08h45.
Nova York/São Paulo/Brasília - O melhor ano em registro para a emissão de títulos por bancos brasileiros no exterior pode ter chegado ao fim com a crise no Banco Panamericano SA. A investigação sobre irregularidades contábeis na instituição aumenta o nível de exigência dos investidores e eleva os custos de captação.
Os rendimentos dos títulos em dólares do Banco Cruzeiro do Sul SA, do Banco Industrial e Comercial SA e do Banco Bonsucesso SA subiram ontem para o maior patamar desde que foram emitidos este ano, de acordo com dados compilados pelo sistema Trace. O Panamericano, controlado pelo empresário Silvio Santos, está sob investigação pelo Banco Central após receber um aporte de R$ 2,5 bilhões do principal acionista para cobrir potenciais perdas causadas por “inconsistências” contábeis.
Os bancos brasileiros captaram uma quantia recorde de US$ 15,2 bilhões em dívida em 2010, contra US$ 4,3 bilhões durante todo o ano passado. Esses recursos ajudaram a financiar a expansão do crédito. Os bancos aproveitaram a demanda de investidores estrangeiros em busca de rendimentos mais elevados do que os oferecidos com o cenário de juros próximos a zero nos Estados Unidos e Europa.
As preocupações com as práticas do setor financeiro brasileiro podem limitar as vendas de títulos por bancos de médio porte, disse Bevan Rosenbloom, analista da RBS Securities Inc. em Stamford, no estado americano de Connecticut.
“Os ativos brasileiros estavam sendo negociados como o Santo Graal. O fato é que pode haver ovelhas negras”, disse Cornel Bruhin, que supervisiona US$ 600 milhões em títulos corporativos de mercados emergentes, incluindo dívida de bancos brasileiros, na Clariden Leu AG em Zurique. “Podemos ver mais fraqueza nas próximas semanas. Se for um banco de menor porte, vai ter mais dificuldade para colocar bônus no mercado.”
Os US$ 500 milhões em títulos do Panamericano com vencimento em 2020 puxaram a desvalorização da dívida brasileira ontem. O rendimento saltou 158 pontos-base, ou 1,58 ponto percentual, para 8,98 por cento, ao passo que o preço do papel diminuiu para 97 por cento do valor de face. O Grupo Silvio Santos, acionista majoritário do Panamericano, banco focado em crédito pessoal e imobiliário, tomou dinheiro emprestado do Fundo Garantidor de Créditos para o aporte de capital. O empréstimo é o maior feito pelo FGC desde 1997.
Os títulos do Panamericano vinham com desempenho superior ao de bancos maiores até desabarem ontem. Os papéis estavam se valorizando com especulações de que o Panamericano receberia grau de investimento depois da compra de uma participação de 35 por cento na instituição pela Caixa Econômica Federal.
As notas com vencimento em 2020 acumulam uma rentabilidade de 15 por cento desde a data de emissão em abril, comparado a um retorno de 7,8 por cento no período para os títulos com prazo de 10 anos do Itaú Unibanco Holding SA, o maior banco do País por valor de mercado. A dívida corporativa brasileira teve ganho médio de 9 por cento no período, de acordo com o Índice CEMBI do JPMorgan Chase & Co.
“Este caso ensina o mercado a olhar para os fundamentos”, disse Natalia Corfield, analista de dívida corporativa do ING Groep NV em Nova York, em resposta por e-mail. “O mercado ignorou esses elementos e definiu o preço do Panamericano com base na Caixa.”
A Moody’s Investors Service tem classificação de risco Baa3 para a Caixa, dois níveis acima da nota Ba2 do Panamericano.
O BC está investigando se executivos do Panamericano podem ser responsabilizados pelas irregularidades detectadas, disse uma autoridade que pediu para não ser identificada em obediência à política do governo. O BC encontrou “inconsistências” nas contas do Panamericano, cujas ações despencaram 30 por cento ontem.