Bolsa: recomendação é de compra de ações brasileiras (Germano Lüders/Exame)
Karla Mamona
Publicado em 30 de outubro de 2018 às 10h52.
São Paulo – A queda da Bolsa nesta segunda-feira jogou um balde de água fria nos investidores que esperavam um dia de valorização seguindo a vitória de Jair Bolsonaro, que conta com a simpatia de boa parte do mercado financeiro.
Mas o que isso significa? A Bolsa já subiu demais? Novas altas dependem de ações mais concretas do futuro governo?
Analistas ouvidos por EXAME acreditam que há espaço para uma nova onda de valorização das ações ainda neste ano, movida por “fundamentos”.
Segundo Nicolas Takeo de Paula, analista da Corretora Socopa, os papéis de muitas empresas estão sendo negociadas com desconto.
“Apenas com o ajuste de múltiplos para o preço justo, o Ibovespa chegaria a 91 mil pontos”, afirma.
Um relatório recente do banco Morgan Stanley, que elevou a recomendação de compra de ações brasileiras, mostra os papéis brasileiros estão abaixo da média histórica, equivalentes a 11,2 vezes os lucros projetados para as empresas.
A equipe econômica da XP Investimentos projeta que Ibovespa deve ter uma valorização de até 20% até dezembro e terminar o ano no patamar entre 90 mil e 100 mil pontos. Atualmente, está em 83. 797 pontos.
Para a XP, a Bolsa é considerada o melhor ativo para se beneficiar da retomada de atividade no Brasil, negociando a múltiplos atrativos e com posicionamento favorável.
“Acreditamos que o mercado deva dar o benefício da dúvida para Bolsonaro, antevendo um governo reformista e liberal.”
Na avaliação de Victor Cândido Oliveira, economista-chefe da Guide Investimentos, a melhora na situação das empresas deve ser outro motor de alta da Bolsa nos próximos meses.
"Muitas empresas abertas fizeram ajustes durante e após a recessão e seus resultados estão melhorando, o que, agora, pode de fato chamar a atenção dos investidores", diz ele.
Os riscos a esse cenário são fatores como os que se viram nesta segunda-feira. Além da realização de lucros pós-eleição, a Bolsa foi impactada pela notícia de que os Estados Unidos estão se preparando para anunciar tarifas sobre todos as importações remanescentes da China no início de dezembro se as negociações entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping falharem.
O mercado se mostra preocupado com a guerra comercial e seus efeitos sobre o crescimento, sobretudo da China, a saída Brexit, orçamento italiano e alta de juros nos Estados Unidos.
Além disso, há uma série de riscos em torno do futuro governo Bolsonaro. Para que a Bolsa continue a subir, ele e sua equipe econômica terão que esclarecer algumas dúvidas. A principal delas refere-se à reforma da Previdência.
O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o governo deve descartar a proposta da reforma da Previdência discutida no governo Temer e que a nova reforma deve ser feita de uma única vez. Já Bolsonaro disse que irá trabalhar pela aprovação de pelo menos parte da reforma da Previdência enviada pelo presidente Michel Temer, embora ainda enfrente resistências dentro da própria equipe.
“Qual é o consenso sobre a reforma da previdência sobre o chamado núcleo duro do governo?” questiona Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos.
Os investidores também questionam como será a proximidade de Bolsonaro com os presidentes da Câmara e do Senado. “Afinal, são eles que tocarão a pautas reformistas?”, acrescenta Indech.
Outra dúvida é qual será a equipe econômica de Bolsonaro, incluindo quem ocupará o cargo de presidente do Banco Central, caso Ilan Goldfajn não seja mantido.
Se a agenda liberal do governo Bolsonaro evoluírem, incluindo privatização e concessões, a reforma tributária e a reforma da Previdência, a XP projeta que o Ibovespa chegará a 12.5000 pontos em 2019. Caso contrário, é bom esperar dias difíceis.