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Otimismo com a bolsa ignora fundamentos, avalia Porto Seguro

Para Lika Takahashi, o mercado não está considerando uma série de fatores negativos para a bolsa


	Bovespa: Lika Takahashi observa que a situação atual do mercado é mais delicada porque os ativos ainda estão sendo avaliados com base num juro perto de zero nos EUA
 (Alexandre Battibugli/EXAME)

Bovespa: Lika Takahashi observa que a situação atual do mercado é mais delicada porque os ativos ainda estão sendo avaliados com base num juro perto de zero nos EUA (Alexandre Battibugli/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2014 às 16h17.

São Paulo - A alta do Índice Bovespa de março para cá não convence a responsável pela área de renda variável da Porto Seguro Investimentos, Lika Takahashi. Para ela, o mercado não está considerando uma série de fatores negativos e prefere optar pelo otimismo com a eleição, o que aumenta as oscilações da bolsa e o risco para quem quer surfar a onda das pesquisas eleitorais.

Lika, uma das mais respeitadas analistas do mercado, observa que a situação atual do mercado é mais delicada porque os ativos ainda estão sendo avaliados com base num juro perto de zero nos Estados Unidos. “E, do zero para alguma coisa, vai ter um movimento forte de ajuste”, alerta.

Porém, o mercado não consegue considerar o efeito de todos os riscos nos preços das ações ao mesmo tempo, mas apenas um por vez, por isso a instabilidade deve se manter constante, ora por conta dos juros nos EUA, ora pelas eleições, ora pelo cenário interno.

No Brasil, a expectativa é de que o ambiente econômico vai piorar bem mais antes de melhorar. Lika lembra que o país ainda enfrenta problemas estruturais, que vêm sendo discutidos desde o governo Fernando Henrique Cardoso há 20 anos. “O crescimento sustentado depende de reformas estruturais que não vieram e não se sabe quando virão, enquanto continuam os gargalos de logística, infraestrutura e concessões”, diz.

Esses fatores, afirma Lika, não estão na taxa de desconto que o mercado usa para calcular o preço das ações brasileiras. E isso, por sua vez, exige uma margem de segurança muito maior para o investidor se proteger, o que significa preços de ações mais baixos.

Para a analista, mesmo o juro real de 6,5% ao ano hoje, apesar de elevado, não é suficiente para cobrir a margem de segurança exigida no ambiente atual. Além disso, há o risco de racionamento de energia elétrica que, só por sua expectativa, já vai ter impacto no desempenho das empresas. “Muitos empresários já devem ter esquemas de contingência caso falte energia, e isso significará mais inflação”, alerta.

Além disso, o processo eleitoral começou a influenciar os mercados muito cedo. “Antes, as pesquisas mais relevantes saíam mais tarde, mais perto da eleição”, lembra. Para o mercado, a corrida eleitoral já começou.


Lika destaca que, nos últimos dados levantados pelas pesquisas, há uma indicação de que 60% dos eleitores querem alguma mudança. “Já vi isso em 2002 e usei esse dado para falar que o Lula ia ganhar, mas hoje é preciso ver se a oposição vai conseguir se aproveitar desse descontentamento”, observa.

“Hoje, o que vemos com essa alta das bolsas e mais um ‘wishful thinking’, um desejo do mercado”, diz. E cita as frases do escritor inglês Oscar Wilde sobre o casamento para definir o ambiente atual, como “o triunfo da imaginação sobre a inteligência”, e, no caso de reeleição, a definição de segundo casamento como “o triunfo da esperança sobre a experiência”.

Nesse ambiente, mesmo com uma deterioração das expectativas econômicas e até um racionamento, a questão da eleição pode sustentar o mercado, que pode testar os 54 mil a 55 mil pontos até outubro. “Mas se vai ficar nesse nível depois de outubro e da eleição é outra questão”, afirma.

O fluxo estrangeiro segue ajudando a bolsa brasileira, uma vez que, em relação a outros emergentes, o Brasil aparece em melhor condição, apesar dos problemas. “E todos os outros emergentes do grupo dos cinco frágeis têm eleições este ano”, observa Lika. Além disso, o investidor internacional está perdendo a paciência com o baixo crescimento do México. “E isso favorece uma bolsa fortemente influenciada pelo fluxo de estrangeiros”, lembra.

Sobre os setores com maior potencial na bolsa, Lika alerta que o setor industrial deve sofrer mais com a perspectiva de racionamento de energia. Já os exportadores estão sujeitos aos impactos da economia chinesa e da Argentina, grande parceiro comercial do Brasil e que passa por enorme crise.

Em serviços, os bancos podem ser uma opção, apesar de não serem um porto seguro totalmente garantido. Também fora do centro dos problemas está o setor de varejo. Já as estatais seguirão chacoalhando de acordo com as pesquisas.

Para quem quer tentar surfar a onda das eleições na bolsa, Lika recomenda apenas cuidado na hora de escolher os papéis. “Eletrobras, por exemplo, não deveria estar subindo se levarmos em conta a situação da empresa, mas por causa da eleição o papel ganha”, observa. Nesse caso, Petrobras e Banco do Brasil aparecem como melhores opções. “Mas outro problema também é saber sair da onda”, avisa.

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