Os títulos da OSX, que obedecem à lei norueguesa, pagam 714 pontos-base, ou 7,14 pontos percentuais, a mais do que os títulos do governo denominados em dólar de prazo semelhante (foto/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 27 de março de 2012 às 09h17.
Nova York/Rio de Janeiro - A OSX Brasil SA, empresa de serviços para o setor de petróleo controlada pelo bilionário Eike Batista, prepara uma segunda captação internacional este ano depois que o uso de bancos noruegueses na primeira oferta ajudou na disparada dos papéis.
A taxa dos títulos em dólares da OSX com vencimento em 2015, em operação pelo Pareto Securities ASA e pelo DNB ASA, maior banco da Noruegua, caiu 93 pontos-base para 8,32 por cento desde a emissão em 14 de março. A taxa média de títulos de empresas do setor de transporte em todo o mundo e com nota de crédito abaixo do grau de investimento subiu em média seis pontos-base no mesmo período para 11,18 por cento, de acordo com dados do Bank of America Corp.
A captação de US$ 500 milhões pela OSX neste mês marcou a primeira vez que uma emissão corporativa brasileira foi coordenada por instituições norueguesas, segundo dados compilados pela Bloomberg desde 1999. Os bancos da Noruega, segundo maior exportador mundial de gás natural, oferecem à OSX acesso a mercados de crédito especializados no financiamento do setor de petróleo e gás, disse o diretor financeiro da companhia, Roberto Monteiro, a jornalistas no rio de Janeiro, em 21 de março.
Temos uma tradição em ativos de alto rendimento e conhecemos o setor de petróleo e gás”, disse Paal Ringholm, chefe da área de pesquisa de crédito do Swedbank First Securities em Oslo, em entrevista por telefone. “Conhecemos esse tipo de ativos. Considerando que haverá uma boa estrutura, com certeza eles vão conseguir repetir a operação.”
Os títulos da OSX, que obedecem à lei norueguesa, pagam 714 pontos-base, ou 7,14 pontos percentuais, a mais do que os títulos do governo brasileiro denominados em dólar de prazo semelhante, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A OSX não tem classificação de risco pelas agências Moody’s Investors Service, Standard & Poor’s ou Fitch Ratings.
‘Superespecializado’
O estaleiro está se voltando para os mercados internacionais de capitais para ajudar a financiar a construção ao longo da próxima década de embarcações para alto-mar avaliadas em US$ 30 bilhões para a OGX Petróleo & Gás Participações SA, também controlada por Eike. A OSX planeja uma colocação no segundo semestre que será “muito similar” à operação deste mês, segundo Monteiro.
“Os títulos são negociados no mercado norueguês, sob a lei norueguesa, porque é um mercado superespecializado em petróleo e gás”, disse Monteiro. “Muitos investidores entram no mercado norueguês e compram ativos no mercado norueguês. Identificamos isso como um nicho de mercado.”
Um representante da Pereto Securities no Rio de Janeiro não quis fazer comentários para esta reportagem. A assessoria de imprensa do DNB não retornou um telefonema fora do horário comercial solicitando comentários.
Produção da OGX
O governo brasileiro se espelhou na Noruega para criar o modelo de desenvolvimento dos campos da camada pré-sal. Os dois países têm empresas estatais de petróleo - a Petróleo Brasileiro SA e a Statoil ASA - que dominam o setor e têm políticas para promover os fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços nacionais.
A OSX acessou o mercado internacional após a OGX ter começado a produção em janeiro, dando fim a sete meses de atrasos. O primeiro campo comercial da OGX, Waimea, no litoral do Rio de Janeiro, vai produzir de 10.000 a 13.000 barris diários nos próximos meses, disse a empresa em 23 de março.
Os títulos em dólar emitidos pela OGX no ano passado se valorizaram nos últimos quatro meses. O rendimento dos papéis com vencimento em 2018 caiu 220 pontos-base desde 23 de novembro para 7,72 por cento. OSX e OGX estão entre as cinco empresas que tiveram o capital aberto por Eike nos últimos seis anos, em operações que fizeram dele o homem mais rico do Brasil, de acordo com o Índice Bloomberg de Bilionários.
Embarcações atrasadas
“À medida que a OGX se torna operacional e começa a produzir petróleo, toda a cadeia de fornecedores tende a ficar mais lucrativa”, disse Marco Aurélio de Sá, diretor da Credit Agricole Securities, em entrevista por telefone de Miami. “Esses títulos vão continuar a ter bom desempenho e ambas as empresas vão conseguir levantar recursos a taxas menores no futuro.”
Para Leonardo Kestelman, diretor gerente da Dinosaur Securities Inc. em São Paulo, a OSX precisa provar que pode entregar equipamentos dentro do prazo e do orçamento, feitos no estaleiro que começou a construir no ano passado no Brasil. A empresa está transferindo operações de Cingapura para o Brasil num momento em que outros estaleiros daqui têm atrasado a entrega de equipamentos.
O Estaleiro Atlântico Sul SA está com mais de um ano de atraso na construção de seu primeiro navio-tanque Suezmax para a divisão de transportes da Petrobras. O Atlântico Sul não retornou uma ligação com um pedido de comentário.
“Até agora, não vimos muitas entregas”, disse Kestelman em entrevista por telefone.
‘Comercialmente viável’
Eike disse em 7 de março que espera que a OGX atinja um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou Ebitda, de US$ 1,5 bilhão no ano que vem e de US$ 5 bilhões em 2015.
“Com a OGX começando a produzir petróleo e sendo comercialmente viável, a ideia é que seu títulos começarão a subir e isso vai puxar também a OSX”, disse Sá. “Essa história faz muito sentido e está tornando-se uma realidade.”