Alexandre Tombini: investidores estão pessimistas quanto à possibilidade de suas projeções concretizarem (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2014 às 17h13.
Brasília - Os operadores brasileiros estão se tornando cada vez mais pessimistas quanto à possibilidade de as projeções de inflação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, se concretizarem.
Na semana passada, os negociantes de bônus esperavam que o custo de vida aumentasse a um ritmo anual de 7,18 por cento nos próximos dois anos, sua projeção mais alta em pelo menos dois anos, em um momento em que o crescente apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff provoca uma queda no real.
A estimativa mais recente de Tombini, revelada em um relatório de 26 de junho, é de que a inflação irá desacelerar para 5,1 por cento.
Tombini está tendo dificuldades para convencer os operadores de que o nível atual da taxa básica domará o aumento de preços.
Enquanto isso, a perspectiva de uma vitória de Dilma, cujas políticas de investimento estimularam a inflação e atrofiaram o crescimento da maior economia da América Latina, transformam o real na moeda de pior desempenho do mercado emergente.
O Banco Central tem tido problemas para restaurar a confiança do investidor, mesmo depois de aumentar a taxa Selic em 3,75 pontos porcentuais desde abril de 2013, para 11 por cento, o nível mais alto entre os países do G-20 que fixam taxas de juros.
"A maior parte é sem dúvida nenhuma a recuperada da Dilma na pesquisa eleitoral”, disse Paulo Petrassi, gerente de renda fixa da Leme Investimentos, por telefone.
“O mercado não trabalha com uma mudança na política econômica no caso em que a Dilma seja reeleita".
A assessoria de imprensa do BC preferiu não comentar sobre as expectativas dos operadores para a inflação quando contactada por telefone.
Em contato por telefone, o Palácio do Planalto preferiu não comentar as estimativas de inflação e sua relação com a campanha eleitoral.
Projeção de inflação
A estimativa dos operadores para a inflação nos próximos dois anos foi 2,27 pontos porcentuais maior do que a projeção do BC as 10h41 hoje.
Antes disso, essas perspectivas de preços ao consumidor não diferiam tanto na publicação de um relatório desde 20 de dezembro de 2012.
Dilma, que gerenciou um aumento de 40 por cento no gasto do governo federal no período de janeiro a junho deste ano em comparação com esse mesmo período no ano de 2011, quando ela assumiu, viu seu apoio em um eventual segundo turno, em 26 de outubro, saltar para 47 por cento em uma pesquisa do Datafolha publicada no dia 26 de setembro.
Isso representa um incremento em relação à pesquisa eleitoral do fim de agosto e a coloca em um empate técnico com a candidata de oposição Marina Silva, que prometeu reduzir a inflação pela metade e defendeu que um órgão de responsabilidade fiscal monitore orçamentos e gastos de forma independente.
Subida na pesquisa
A recuperação de Dilma fez com que o real despencasse 7,6 por cento em relação ao dólar neste mês, a maior queda entre 24 moedas de países em desenvolvimento monitoradas pela Bloomberg.
Uma moeda mais fraca torna as importações mais caras, aumentando a inflação.
Os preços ao consumidor subirão 6,3 por cento neste ano e 5,8 por cento em 2015 se os estrategistas mantêm a taxa Selic em 11 por cento, segundo o relatório trimestral da inflação.
Os yields dos bonds pré-fixados do Brasil com vencimento em 2017 saltaram 0,68 ponto porcentual neste mês, para 12,028 por cento, mostram dados compilados pela Bloomberg.
A oscilação contrasta com um incremento de 0,11 ponto porcentual para notas de vencimento similar ligadas à inflação.
A diferença de yield entre os títulos, que forma um indicador da expectativa de inflação conhecido como taxa de inflação implícita, está acima dos 6,60 por cento de 29 de agosto.
Nas minutas de sua reunião de fixação da taxa, quatro semanas atrás, os estrategistas do BC disseram que os aumentos nos preços começarão a desacelerar e entrarão na meta em 2016, desde que eles mantenham os custos dos empréstimos estáveis.
"O mercado está vendo que está aumentando a pressão em cima do Banco Central. O mercado está vendo um risco maior de o BC ser surpreendido e ter que mudar de estratégia", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, por telefone, de São Paulo.
“Caso contrário, a inflação poderia voltar a subir”.