Em 31 de agosto, o Copom disse que uma “substancial deterioração” na economia global pode ser “prolongada”, abalando os fluxos de comércio, investimento e crédito (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2011 às 10h32.
Brasília e Nova York - Operadores do mercado de renda fixa apostam que o Banco Central vai fazer em outubro o maior corte do juro básico em dois anos para proteger a economia brasileira da crise na Europa.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em novembro caiu 64 pontos-base nos últimos 30 dias para 11,59 por cento, o que indica expectativas de parte dos investidores de que o Comitê de Política Monetária reduza a Selic em 75 pontos-base na reunião dos dias 18 e 19 de outubro. Seria o maior corte desde que o Copom baixou a taxa em 100 pontos-base, ou 1 ponto percentual, em junho de 2009. O banco central de Israel surpreendeu ontem com o primeiro corte do juro básico do país em dois anos e meio.
Depois da Turquia, o Brasil foi o segundo país do G-20 a reduzir o juro no mês passado, com o Copom sinalizando que o maior desaquecimento econômico nos Estados Unidos e a crise de dívida na Europa tiveram mais peso na decisão do que a inflação. A perspectiva de novas reduções da Selic levou à previsão de economistas de que a inflação deste ano vai superar o teto de 6,5 por cento da meta de inflação. Se a previsão for confirmada, será a primeira vez que isso acontece desde 2003.
“O mercado está precificando a possibilidade de a situação na Europa piorar”, disse Paulo Leme, economista do Goldman Sachs Group Inc., em entrevista por telefone de Miami. “Ele disse que se a situação na Europa não for resolvida até outubro, vai haver cortes de juros muito mais fortes.”
Trilhões desaparecidos
Mais de US$ 3,5 trilhões em valor de mercado desapareceram das bolsas mundiais na semana passada, com o aumento dos temores de que a crise na Europa possa travar o sistema bancário, levando a economia mundial à recessão. O preço das commodities, medido pelo índice Standard & Poor’s GSCI Spot Index, recuou 8,7 por cento no último mês e atingiu o menor nível desde dezembro de 2010.
O BC disse ontem em comunicado enviado por e-mail que não faz comentários sobre movimentos do mercado.
Na ata da reunião de 31 de agosto, o Copom disse que uma “substancial deterioração” na economia global pode ser “prolongada”, abalando os fluxos de comércio, investimento e crédito para o Brasil. Naquele encontro, o BC baixou a Selic em meio ponto para 12 por cento, após ter elevado a taxa básica nas cinco reuniões anteriores.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 acumulada nos 12 meses até meados de setembro atingiu 7,33 por cento, ultrapassando o teto da meta do governo pelo quinto mês seguido. A meta é de 4,5 por cento, com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo.
‘Desconfiança’
Operadores de mercado e analistas elevaram suas projeções para a inflação desde o corte de juros. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo vai subir 6,52 por cento este ano, segundo a estimativa mediana de uma pesquisa do BC com cerca de 100 analistas em 23 de setembro. A previsão era de 6,31 por cento dois meses atrás. A taxa implícita de inflação, medida pela diferença de rendimentos entre títulos atrelados à inflação e títulos prefixados, saltou para 6,53 pontos percentuais em 21 de setembro, o maior patamar desde outubro de 2008.
”O comportamento do breakeven de inflação e dos juros e o comportamento das previsões de inflação indicam uma desconfiança com o compromisso do governo com a meta de 2012”, disse Zeina Latif, economista para América Latina da RBS Securities Inc, em entrevista por telefone de São Paulo. “O mercado acha que o BC vai cortar juros, mas não está convencido de que vai dar certo. O governo pretende usar, aparentemente, o intervalo de tolerância da inflação para evitar uma desaceleração indesejada da economia no curto prazo.”
Cenário global
Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da Franklin Templeton Investments, disse que os analistas estão preocupados demais com a inflação e não prestando atenção suficiente na perspectiva global.
Os diretores do BC “estão preocupados com o cenário global e eles olham para frente”, Gomes Filho disse em entrevista por telefone. “Os economistas olham para trás, focam demais na inércia inflacionária, em vez de focar no que vai acontecer no ano que vem. Não estamos tão pessimistas ou preocupados. Outros bancos centrais ao redor do mundo estão fazendo isso. Não somos um caso isolado.”