Paulo Ricardo: após operação, artista diz se sentir como no começo da carreira (Redes sociais/Reprodução)
Guilherme Guilherme
Publicado em 15 de outubro de 2020 às 12h42.
Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 16h19.
A Hurst Capital adquiriu os direitos sobre todos os 590 fonogramas (gravações) e composições do artista Paulo Ricardo, ex-vocalista do RPM. A operação, que tem duração de 78 meses, busca uma rentabilidade de 12,62% ao ano, o que totalizaria uma rentabilidade de cerca de 1,5 milhão de reais. Voltada para investimentos alternativos, este foi o quarto negócio da casa no cenário musical.
O retorno dessa modalidade de investimento se dá por meio dos recebíveis de royalties, que podem ser gerados de diversas formas, como por meio de plataformas de streaming ou licenças de sincronização, necessárias para o uso da canção em programas de televisão, filmes ou novelas. Ou seja, por mais que exista uma previsão de retorno com base no histórico de faturamento das músicas, a renda não é fixa.
Para o artista, o dinheiro da operação não poderia ter chegado em melhor hora. “No meio de uma pandemia que assolou o Brasil e o mundo, nós, artistas, tivemos nossos rendimentos profundamente afetados. Desde o ‘boom’ da pirataria nos anos 1990, nosso ‘core business’ são as apresentações ao vivo, que é o último setor a reabrir, e ainda assim, com restrições”, afirma Paulo Ricardo.
Com o dinheiro recebido, Paulo Ricardo já planeja lançar um novo CD e estrear turnê em 2021. “Nessa operação financeira não se perde o controle sobre a obra. Pelo contrário. O direito moral, que engloba toda a parte artística e decisões referentes à obra é pessoal e intransferível, sendo completamente preservado. Isso só me dá mais fôlego e ânimo para compor ainda mais. Me sinto no começo da carreira”, exalta.
Arthur Farache, presidente da Hurst Capital, conta que a sazonalidade da receita pode ser ainda mais relevante no caso de Paulo Ricardo, tendo em vista que ela tende a ser maior quando há a transmissão do reality show Big Brother Brasil, que utiliza a canção “Vida Real” como trilha sonora. Além dessa canção, as músicas “Olhar 43”, “Rádio Pirata” e “Tudo Por Nada” são principais responsáveis pelo faturamento na operação.
Para atrair novos investidores, a operação será aberta por meio de crowdfunding a partir desta quinta-feira, 15. O aporte mínimo será de 1 mil reais para aqueles que investirem nas primeiras 24 horas. “A ideia é fazer com a Husrt seja um canal para investidores. A ideia é também trazer capital de fãs para ajudar a carreira do artista”, afirma Farache.
Farache também explica que quem quiser resgatar o dinheiro da aplicação antes dos 78 meses poderá vender o direito sobre os royalties por meio de tokens. “Os contratos sobre os recebíveis serão convertidos em tokens, que vão poder ser negociados por meio de nossa plataforma.” O valor desses tokens poderão variar de acordo com o valor arrecado na operação. “Se os retornos desses recebíveis passarem a ser menos que o esperado, esses tokens sofrerão um desconto, assim como ficarão mais caros se a realidade se aproximar do cenário mais otimista.”
Operação semelhante ocorreu ainda em 1997, com o lançamento dos "Bowie Bonds", quando o artista britânico David Bowie levantou 55 milhões de dólares em troca dos royalties de 25 álbuns, que incluíam clássicos como "Heroes" e "The Man Who Sold The World". Embora esse tipo de modalidade não seja tão comum no Brasil, Paulo Ricardo espera ser um dos pioneiros. "Estou muito empolgado", diz.
Se depender de Farache, a venda de recebíveis de royalties deve se tornar mais popular no país. "A gente acredita bastante nesse tipo de investimento. Há um potencial muito grande de penetração do streaming do Brasil. Nas projeções de analistas internacionais, eles comparam o Brasil com outros emergentes, mas nosso consumo de internet, aparelhos conectados e horas de conexão está muito mais próximo de países desenvolvidos. Isso traz um potencial muito grande para o investidor."