Loja da Oi em shopping no Rio de Janeiro: empresa busca novas medidas para sair da crise (Eny Miranda/Oi/Divulgação)
Marcelo Sakate
Publicado em 8 de setembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 8 de setembro de 2020 às 06h12.
A novela envolvendo a Oi, uma das maiores operadoras de telecomunicações do país, ganhará novos capítulos nesta terça-feira, 8. A companhia realiza de forma virtual, a partir das 11h, uma nova assembleia geral de credores com o objetivo de tentar aprovar mudanças ao plano de recuperação judicial ratificado em 2017, um ano depois de ter entrado com o pedido de proteção na Justiça. Na ocasião, a Oi tinha 65 bilhões de reais em dívidas.
O plano que será submetido à votação prevê a divisão da companhia em cinco áreas de negócios, das quais quatro seriam vendidas integralmente para ajudar a abater parte da dívida bruta que ainda somava 26,1 bilhões de reais ao fim do segundo trimestre. Os leilões de venda dessas unidades, se autorizados, ocorreriam nos próximos meses.
A expectativa de analistas e de fontes que acompanham a recuperação é que o aditamento ao plano seja aprovado, a despeito da oposição dos principais credores, que são os maiores bancos do país. A proposta prevê descontos de 60% na dívida com a categoria. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e detentores de títulos da Oi devem votar a favor.
Bancos credores tentavam até o último momento uma liminar para suspender a assembleia, com a alegação de que sairão prejudicados e de que a proposta apresentada pela Oi não se trata de um aditamento, mas de um novo plano de recuperação.
A divisão mais notória à venda é a de telefonia móvel, o que abriria as portas para que a Oi deixe de oferecer o serviço. Seria um novo capítulo de uma operação que chegou a ser proclamada como "supertele brasileira" em 2008, quando a Oi (ex-Telemar) comprou a Brasil Telecom com a bênção do governo e (muitos) recursos do BNDES.
O candidato favorito a assumir a operação móvel da Oi é o consórcio formado por suas principais concorrentes: Claro, TIM e Vivo (Telefônica). Na noite de segunda, véspera do leilão, a Oi informou ao mercado que aceitou a proposta vinculante conjunta do consórcio no valor de 16,5 bilhões de reais e que ela servirá como "stalking horse": será a oferta inicial para o leilão previsto para dezembro, desde que tenha o aval dos credores. O consórcio com as três companhias terá ainda o direito de cobrir eventuais melhores ofertas.
As outras áreas colocadas à venda abrigam as torres, os data centers e a operação de TV. A joia da coroa, da qual a Oi pretende se desfazer apenas de uma parte, para conseguir um sócio, é a divisão de fibra óptica. A venda do controle da InfraCo deve render 6,5 bilhões de reais para o caixa da Oi, além de 5 bilhões em investimentos para o negócio.
A divisão de fibra óptica é apontada como a mais promissora pela companhia e por analistas. As receitas dessa unidade cresceram 6,3 vezes no segundo trimestre na comparação com o mesmo período de 2019, acima das expectativas da empresa.
Para milhares de investidores que vão acompanhar o desfecho da votação nesta terça, o interesse na Oi vai além do seu modelo de negócios. As ações ordinárias da Oi (OIBR3), que vinham sendo negociadas em torno de 1 real, passaram a subir com força depois que a empresa anunciou a proposta de alteração do plano de recuperação em 15 de junho.
A razão para a valorização é a expectativa de que a empresa possa finalmente ensaiar uma saída da crise, o que abriria uma janela de oportunidades para ganhos com suas ações na B3. Elas encerraram a sexta-feira, 4, negociadas a 1,84 reais, com uma alta de 80% desde o anúncio do novo plano. O volume de negociação, que em ficava em torno de 150 milhões de reais, chegou a se aproximar de 2 bilhões de reais no fim de julho.
Na última semana, com a proximidade da assembleia de credores, o volume voltou a crescer e chegou a 620 milhões de reais na quinta-feira, 3.