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O rali do impeachment ainda tem gás?

A ida de Henrique Meirelles para o ministério da Fazenda, dada como certa pelos jornais, tem ajudado a valorizar o real e o Ibovespa


	Henrique Meirelles: a principal dúvida parece ser se o otimismo com a mudança política já foi precificado ou se o mercado ainda tem espaço para andar
 (Marcelo Spatafora)

Henrique Meirelles: a principal dúvida parece ser se o otimismo com a mudança política já foi precificado ou se o mercado ainda tem espaço para andar (Marcelo Spatafora)

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Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2016 às 10h32.

A ida de Henrique Meirelles para o ministério da Fazenda, dada como certa pelos jornais no caso de confirmação do impeachment da presidente Dilma, tem ajudado a valorizar o real e o Ibovespa.

A principal dúvida parece ser se o otimismo com a mudança política já foi precificado ou se o mercado ainda tem espaço para andar. O ponto de consenso entre os analistas é que o fator decisivo será a capacidade de o novo governo implementar as reformas prometidas.

“Se o novo governo fizer tudo o que tem sido falado, o espaço para melhora (do mercado) é grande”, diz Rodrigo Borges, chefe de renda fixa na Franklin Templeton Invest Brasil. O governo quer dar um “choque de confiança no mercado” com as reformas da Previdência e trabalhista e a desvinculação do reajuste do salário mínimo, diz Borges. “O discurso é música para os ouvidos. Depende de o governo entregar.”

O traquejo político de Meirelles pode ser importante na aprovação de medidas no Congresso, diz Borges. Para ele, agradam ainda ao mercado as notícias de que o novo ministro terá peso na indicação de outros nomes da equipe econômica. “É preciso ter coesão, pois o barco anda melhor quando todos remam para o mesmo lado.”

Mesmo após a confirmação do impeachment e o encaminhamento das reformas, o executivo da Templeton observa que as perspectivas podem variar de acordo com os ativos. No caso do câmbio, por exemplo, a apreciação do real pode ser suavizada pelo BC por meio de leilões de swap reverso.

Em entrevista à TV Bloomberg, o presidente do conselho da Templeton, Mark Mobius, disse que o impeachment ainda não foi totalmente precificado e destacou o potencial de ganho das ações brasileiras. “Estamos adicionando dinheiro no Brasil”, disse o investidor. “Se você olhar para onde caminhamos em comparação com as altas anteriores, notará que há um longo caminho a percorrer. Talvez mais 100% a 200%.”

Entre 2003 e 2010, quando Meirelles comandou pelo BC, o dólar caiu 54%, de R$ 3,54 para R$ 1,66. Na mínima, a moeda americana chegou a R$ 1,56, com o mercado otimista pelo fato de o então presidente Lula ter mantido a política econômica herdada de FHC e também graças ao cenário externo, que era mais positivo.

Hoje, o quadro externo é mais incerto e “não dá para imaginar o dólar voltando àqueles níveis”, diz Matheus Gallina, operador de renda fixa da Quantitas Gestão de Recursos. Ele lembra ainda que o desempenho da economia “não é confortável”, o que não recomenda uma maior apreciação do real. O estoque grande de swaps que o BC ainda precisa reverter também pode limitar a queda do dólar, diz o operador.

Gallina, porém, considera possível um dólar um pouco mais baixo do que o nível atual, entre R$ 3,00 e R$ 3,50, no caso de as perspectivas atuais mais positivas sobre as mudanças no governo se confirmarem. “O ganho de credibilidade de uma nova equipe econômica pode deixar o investidor mais confortável em trazer recursos para o Brasil.”

Maurício Oreng, estrategista do Banco Rabobank no Brasil, considera que a expectativa de melhora do cenário doméstico, com arrefecimento da crise política e aprovação de algumas reformas, pode estar bastante precificada, embora não totalmente. “Talvez o câmbio possa chegar a tocar um patamar entre R$ 3,30 - R$ 3,40, mas achamos que seria algo temporário." Para ele, um cenário externo menos favorável para as moedas de países emergentes pode levar o dólar de volta a R$ 3,75 no segundo semestre.

Gallina, da Quantitas, considera que a nova equipe do BC tende a mostrar um perfil ortodoxo. Enquanto para o câmbio isso pode significar menos intervenção, para os juros o sinal poder ser de adiamento do esperado corte de taxas previsto para o segundo semestre. Mesmo com as expectativas melhorando e o dólar em queda, o novo BC tenderia adiar a queda da Selic em uma ou duas reuniões do Copom para consolidar melhor o cenário para a inflação, diz Gallina.

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