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O que pode fazer o dólar disparar no começo de 2018

Analistas esperam para o próximo ano ambiente instável, com reforma nos Estados Unidos e a proximidade das eleições brasileiras

Dólar: moeda deve ser impactada por reforma tributária nos Estados Unidos (Tsokur/Thinkstock)

Dólar: moeda deve ser impactada por reforma tributária nos Estados Unidos (Tsokur/Thinkstock)

Rita Azevedo

Rita Azevedo

Publicado em 28 de dezembro de 2017 às 06h00.

Última atualização em 28 de dezembro de 2017 às 17h09.

São Paulo -- Apesar dos sustos ao longo do ano, o dólar caminha para terminar 2017 no mesmo patamar em que estava em janeiro: próximo dos 3,30 reais. Para 2018, no entanto, analistas esperam um ambiente mais instável, com fortes chances de valorização da moeda norte-americana.

Logo no comecinho do ano, um evento externo pode impactar bruscamente o câmbio. Trata-se do projeto dos EUA de repatriar os recursos que companhias norte-americanas têm fora do país. O plano do governo de Donald Trump é fixar taxas de impostos mais baixas para atrair empresas que levaram suas sedes para outros países.

Uma reportagem publicada no The Wall Street Journal (WSJ) no início desta semana mostra como uma possível repatriação deve impactar a cotação do dólar. Segundo a publicação, os cálculos gerais mostram que os recursos repatriados sejam de 1 a 3 bilhões de dólares, mas é possível que o montante chegue a 400 bilhões de dólares.

Caso isso aconteça, diz o jornal, haverá nos primeiros meses do ano uma demanda adicional pela moeda norte-americana. Os países mais afetados, nesse caso, seriam os emergentes como México e Brasil, que hoje concentram uma parcela significativa de investidores dos Estados Unidos.

“Muitos investidores devem desmanchar aplicações no Brasil e voltar para o mercado norte-americano, que oferece um ambiente muito mais estável”, explica Sidnei Nehme, diretor de câmbio da NGO Associados. “Além disso, os Estados Unidos devem entrar no próximo ano em um novo ciclo positivo, favorecendo ainda mais a migração dos recursos.”

Para Nehme, é provável que outros países como a Rússia se espelhem no modelo norte-americano e adotem medidas de repatriação. “Com isso, o cenário seria ainda pior para o real”, diz ele.

No ambiente interno, outros fatos -- além da própria eleição presidencial -- prometem mexer com o dólar.  

O primeiro deles é o possível corte de rating do país pelas agências de risco. O cenário é cada vez mais visto como provável, devido à demora na aprovação da reforma da Previdência. Se isso acontecer, muitos dos fundos que mantêm dinheiro no Brasil devem abandonar suas aplicações, diminuindo a quantidade de moeda no país e provocando um novo ciclo de alta.

Além da redução da nota de crédito, a não aprovação das reformas econômicas também pode aumentar o temor dos investidores em relação ao desequilíbrio das contas públicas. “Se o Congresso não quiser reformar, estaremos em uma situação que pode levar o Brasil ao default”, diz Ricardo Humberto Rocha, professor de Finanças do Insper. “As contas públicas irão piorar nos próximos anos mesmo se a reforma passar. Sem ela, será ainda pior”.

Com todo esse ambiente instável, Sidnei Nehme acredita que as chances da moeda norte-americana cair no próximo ano são mínimas. “O esperado é que o dólar esteja, nos primeiros meses de 2018, na casa dos 3,50 reais”, diz ele.

Na pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central, alguns analistas esperam que o dólar chegue a 3,65 reais em setembro, com a proximidade das eleições. Para o final do ano, no entanto, a expectativa é que a moeda fique mais uma vez perto dos 3,30 reais.

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